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SÃO PAULO
Tucano diz que pretende imprimir marca própria ao mandato e que fará oposição fiscalizadora ao governo petista
Lula pode decepcionar, afirma Alckmin
Flávio Florido/Folha Imagem
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Geraldo Alckmin (PSDB), governador de São Paulo, durante entrevista no Palácio dos Bandeirantes na última quinta-feira |
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
JULIA DUAILIBI
LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Reeleito com cerca de 12 milhões de votos para comandar o
principal Estado do país, o governador paulista, Geraldo Alckmin
(PSDB), 49, teme que a expectativa formada em torno de Luiz Inácio Lula da Silva se transforme em
frustração caso o petista não consiga cumprir suas promessas de
campanha, como a manutenção
de baixas taxas de inflação.
Desde o último domingo, logo
após o resultado das urnas, o tucano tem dito que ajudará o presidente eleito do Brasil, Lula, no que
for de interesse do país e de São
Paulo e chega a repetir o bordão
petista de que "a esperança venceu o medo" na eleição nacional.
"Não tenho pretensão em ser vitrine. São Paulo tem de trabalhar.
Quero que o presidente Lula vá
bem. Isso é bom para todo mundo", afirmou. Mas deixa claro que
fará uma oposição fiscalizadora e
crítica ao governo do petista. Com
a reeleição, além de se legitimar
como um dos presidenciáveis do
partido em 2006, o seu governo é
estrategicamente importante para os planos futuros do PSDB: é
agora a maior "vitrine" tucana.
Com seu estilo sóbrio, Alckmin
afirma que, primeiro, quer imprimir sua marca ao mandato que se
inicia em 1º de janeiro, pois herdou, em março do ano passado, o
governo de Mário Covas.
Nesta semana, se reúne com a
direção do PSDB e com o tucano
Aécio Neves, o governador eleito
de Minas Gerais, que também se
reafirmou como uma das principais lideranças do partido, para
planejar o futuro da sigla.
Na última quinta-feira, Alckmin
recebeu a Folha no Palácio dos
Bandeirantes:
Folha - O sr. acha que existe risco
de frustração com o governo de
Luiz Inácio Lula da Silva?
Geraldo Alckmin - Acho que esse
risco existe, mas o presidente eleito tem transmitido mensagens de
realismo, não criando uma expectativa que não possa ser transformada em realidade. Qual é a mensagem? Manter inflação e as contas públicas sob controle.
Essa é uma exigência de qualquer governo. Mensagem importante nesse sentido. A outra é o
combate à fome, que é correto e
exequível. Não é nada absurdo.
Aliás o que pode ser discutido é a
forma como fazê-lo.
Folha - Mas o sr. acha que Lula está se projetando como uma figura
quase messiânica?
Alckmin - Na realidade, quem é
eleito com a maioria dos votos,
perseverança, origem, trajetória
de vida, cria uma expectativa
grande. Não acho que isso seja
ruim porque, na realidade, governo é confiança.
Folha - O sr. tem medo de um governo petista?
Alckmin - Não tenho medo de
ninguém que o povo elege.
Folha - O sr. consolida-se no cenário nacional como uma liderança
do partido cotada para disputar a
Presidência. Aliados, no entanto,
avaliam que o sr. deveria projetar
mais o seu nome nacionalmente.
Alckmin - Durante a campanha,
disse que queria ser um modelo
de que a reeleição é possível entre
padrões éticos. Acho que consegui. Hoje a minha pretensão é fazer uma nova política, sem esse
sectarismo partidário, uma coisa
mais ampla. E preocupado exclusivamente em fazer um bom governo. Esse é o caminho. Para isso
eu fui eleito. Não fui eleito para ser
eleito no futuro.
Folha - Mas há tucanos "alckmistas" trabalhando pelo nome do sr.
em 2006.
Alckmin - Acho que dentro dessa
nova política não cabe personalismo. Não quero criar nem "geraldistas" nem "alckmistas". Não é
essa a lógica. Essa é uma política
que não é adequada. Nós temos
de fazer um bom governo para o
povo de São Paulo, cumprindo
um papel social-democrata. Esse
é o caminho. Não criar personalismo. Aliás, deveríamos fazer o
contrário: reforma política com
cláusula de barreira.
Folha - Estrategicamente, São
Paulo, o principal Estado do país,
deve ser a principal vitrine da oposição a Lula?
Alckmin - Não tenho pretensão
em ser vitrine. São Paulo tem de
trabalhar. Eu quero que o presidente Lula vá bem. Isso é bom para todo mundo.
Folha - O sr. acha que o PT vai
querer que o sr. vá bem?
Alckmin - Eu não sei. Eu vou trabalhar para São Paulo.
Folha - O candidato do PSDB, José
Serra, enfrentou traição dentro do
partido, como a do governador
eleito Aécio Neves, que deu palanque a Lula em Minas?
Alckmin - Em política não se
obriga, se conquista.
Folha- Então Serra não conquistou?
Alckmin - Eleição se ganha e se
perde. Acho que devemos aprender com as vitórias e com as derrotas. O PSDB é um grande partido, com quadros, história e princípios éticos. O que precisa é
amassar mais barro, comer poeira. É se inserir mais nos movimentos populares, até para ser
melhor intérprete das vontades
sociais. Serra é um dos melhores
quadros do PSDB. Eleição também é momento, sentimento de
mudança. Serra fez uma boa campanha, foi para o segundo turno.
Acho que será... O Brasil não pode
abrir mão de quadros dessa estatura.
Folha - O sr. acha que ele será
candidato de novo em 2006?
Alckmin - Está muito cedo para
falar em 2006.
Folha - Mas em 2006 o sr. não pode se reeleger mais. O que fará?
Alckmin - Minha mulher dá graças a Deus que eu não vou poder
me reeleger (risos). Vamos cumprir nosso dever hoje. O futuro
trará a sua própria aflição.
Folha - E 2004? A Prefeitura de
São Paulo, hoje com o PT, tem uma
importância fundamental para os
planos políticos dos tucanos.
Alckmin - Sou contra antecipar a
sucessão. Agora é trabalhar, trabalhar, trabalhar.
Folha - O sr. acha que o PSDB está
mudando de cara? Deixando um
pouco o lado mais ideológico de
seus fundadores e seguindo um caminho mais pragmático, representado pelo sr. e outros nomes que
chegam ao poder?
Alckmin - Eu sou a oitava ficha
de filiação do partido. Não são incompatíveis. Acho que devemos
ter bons formuladores, acadêmicos. Acho que as coisas se completam. Mas, se você não tiver rumo,
direção, também não adianta.
Folha - Como o sr. se definiria?
Alckmin - Acho que entre as duas
coisas. O PSDB é um bom partido. Perder eleição faz parte do
processo democrático. É uma tarefa também do partido formar
novos quadros, trazer novos quadros, dar oportunidade para muita gente boa que quer contribuir
para a vida pública
Folha - Como vai ser sua relação
com o PT?
Alckmin - Na segunda-feira, a
prefeita Marta Suplicy me telefonou e eu falei para ela: "Vamos
trabalhar juntos".
Folha - O sr. já marcou uma reunião com o Lula?
Alckmin - Eu telefonei para o
presidente eleito, o Lula. Ele foi
simpático. Foi uma boa conversa.
Claro que, uma conversa com o
presidente, é ele quem deve convidar. Ele pretende periodicamente conversar com os governadores, manter um canal de diálogo permanente.
Folha - Como o sr. acha que deve
ser o governo dele?
Alckmin - Vejo com esperança. O
Lula é depositário de uma enorme
esperança da população. A esperança venceu o medo, isso é muito positivo. O eleitorado está muito maduro. Elegeu o presidente
do PT e os governadores de outros partidos.
Folha - Como se manter na oposição e cooperar com o governo?
Alckmin -Esse é um diferencial
importante que o PSDB deve colocar. Na democracia, quem ganha a eleição governa, quem perde fiscaliza. Isso é bom, é positivo.
Agora, a oposição que os tucanos
devem fazer é no sentido de ajudar o país, não de prejudicar.
Quando você faz uma crítica,
quando enfoca um problema sobre outro ângulo, você está ajudando inclusive a quem governa.
É de Santo Agostinho: "Prefiro os
que me criticam, porque me corrigem, aos que me adulam, porque me corrompem".
Folha - O sr. se reelegeu falando
em um governo com a sua marca. O
que muda em relação a Covas?
Alckmin - Os princípios não mudam. Austeridade, respeito ao dinheiro público e investimento na
área social. Uma coisa é assumir o
governo na metade, pelo falecimento do titular, com projetos
em andamento e equipe formada.
Nós demos continuidade. Agora
tenho legitimidade popular e a
perspectiva dos quatro anos.
Priorizarei o desenvolvimento.
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