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PESQUISA
Instituição religiosa teve maior variação tanto em prestígio como em influência
Igreja Universal e os bancos
ganham poder, diz Datafolha
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
A Igreja Universal do Reino de
Deus e os bancos foram as instituições que mais ganharam poder
de influência no país entre 1995 e
2003 na percepção de brasileiros
ouvidos pelo Datafolha.
Entre 12 instituições apresentadas aos entrevistados, a Universal
foi a que maior variação teve tanto na fatia dos que a ela atribuíram muito poder (+10%) quanto
muito prestígio (+17%).
Em 1995, 29% dos entrevistados
atribuíam alto prestígio à igreja,
enquanto em 2003, 46% deram
essa resposta. Há oito anos, 39%
das pessoas acreditavam que a
instituição detinha muito poder
de influência no país. Hoje, 49%
pensam dessa maneira.
O instituto ouviu 2.950 pessoas
em cinco capitais (São Paulo, Rio
de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre) entre os dias 8
e 12 e no dia 15 de dezembro.
Para o antropólogo Otávio Velho, especialista na relação entre
religião e política, a igreja colhe os
frutos de ter vingado segundo os
parâmetros de sua própria ideologia, que seriam em grande medida os valores da sociedade atual.
"A Igreja Universal, nesses últimos anos, conseguiu sair do gueto de ser identificada apenas como uma igreja dos despossuídos,
dos pobres. Hoje, ela alcança um
espectro socioeconômico mais
amplo, alcança também a classe
média. Isso lhe deu visibilidade
-e quase que uma dignidade
maior, numa sociedade em que o
respeito fica bastante associado
ao sucesso", afirma o professor titular da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
"Essa ideologia do sucesso, da
prosperidade, que é uma ideologia da própria Universal, ficou associada à presença na igreja de
empresários e à presença forte dela na mídia", ele diz.
No período que coincidiu com
os dois mandatos de Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002) e
o primeiro ano do governo Luiz
Inácio Lula da Silva, os bancos tiveram a segunda maior variação
na percepção de poder. Passaram
de 54% em 1995 na fatia de respostas que lhes atribuíram muito
poder para 61% em 2003.
Bancos e instituições financeiras também cresceram em prestígio. Sua variação (+13%) ficou
atrás apenas do crescimento da
Universal e do Executivo (+15%).
A maior percepção de poder em
relação aos bancos, diz o cientista
político Fábio Wanderley Reis,
professor emérito da UFMG
(Universidade Federal de Minas
Gerais), tem de ser analisada com
ressalvas. "Comparada à taxa de
1987, o poder dos bancos caiu."
Naquele ano, o primeiro em que o
Datafolha fez a pesquisa, os bancos obtiveram 75% de respostas
"muito poder", o maior índice entre as instituições. Em 92, a taxa
caiu para 57%.
Catolicismo estrutural
Apesar do fortalecimento da
Universal, a relativa constância do
alto prestígio atribuído à Igreja
Católica mostra que não se pode
falar em enfraquecimento da importância do catolicismo no país.
"Se por um lado a gente fala do
aumento do prestígio da Universal -e não só dela, mas de todas
as igrejas evangélicas-, é preciso
não cair no pólo oposto e achar
que a Igreja Católica perdeu completamente o prestígio e não é
mais força política e social importante", afirma Otávio Velho.
"A presença católica no Brasil é
estrutural, não é uma coisa que
acaba de um dia para o outro."
Para Reis, há ambiguidade na
atribuição de prestígio à Universal, que pode trazer mesclada
consigo uma avaliação de simples
visibilidade maior. Quanto à percepção de maior poder de influência, o cientista político diz
que é "possível dizer que ela [Universal] cresceu grandemente".
"Isso se traduz na capacidade de
eleger bancadas no Congresso e
em maior poder financeiro."
Em 2002, a Universal chegou ao
Senado ao eleger o bispo Marcelo
Crivella pelo PL do Rio de Janeiro.
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