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PESQUISA
Para antropólogo, pessoas estão mais dependentes das instituições
Indivíduo perde poder e autonomia, diz analista
DA REPORTAGEM LOCAL
DA REDAÇÃO
Para além dos destaques da
Igreja Universal do Reino de Deus
e dos bancos, todas as instituições
pesquisadas pelo Datafolha, em
maior ou menor grau, ganharam
prestígio e poder nos últimos oito
anos -com a única exceção das
Forças Armadas.
Se praticamente todos ganham
poder, quem perde? O indivíduo,
diz o antropólogo Otávio Velho.
Primeiro, há o fortalecimento:
"Com exceção das Forças Armadas, todas as instituições parecem
ganhar prestígio e percepção de
poder. Especulando, isso pode
mostrar que as instituições hoje
estão mais sólidas -a idéia, por
exemplo, de que o PT ganha uma
eleição e, mesmo que digam que
isso pode gerar problemas, as instituições são fortes o suficiente e
capazes de absorver a mudança".
Por outro lado, ele diz, isso gera
"a sensação de que o indivíduo
hoje tem menos poder e prestígio
em relação às instituições". "Todos nós estamos hoje mais dependentes das instituições, menos
autônomos", afirma Velho.
Na atribuição de prestígio, o Poder Executivo (+15 %), os bancos
(+13 %) e as empresas estatais
(+11 %) foram os que mais cresceram depois da Universal (+17 %).
Na percepção de poder, estatais
(+6 %) e clubes de futebol (+6 %)
seguiram atrás do crescimento
dos bancos (+7 %) e da instituição religiosa evangélica (+10 %).
A fatia dos que atribuem muito
poder às Forças Armadas -única queda da pesquisa- passou de
57% em 95 para 51% em 2003.
Velho e o cientista político Fábio Wanderley Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais,
aceitaram fazer "especulações"
sobre algumas dessas variações,
ressalvando que a imposição de
uma lista específica -com ausências, eles dizem - e o conceito
de prestígio podem tornar "equívocas" as interpretações dos entrevistados.
Sobre o fortalecimento das instituições em geral, Velho disse ver
aí "um lado que pode até ser positivo": "evita-se o personalismo
em política", afirmou.
Tanto ele quanto Reis disseram
ver um hiato entre a percepção de
poder e o prestígio das instituições ligadas à política.
"A proporção de pessoas que
reconhece poder [nessas instituições] é maior do que aquelas que
atribuem prestígio. Essa adesão
menor é desfavorável do ponto de
vista da dinâmica institucional",
afirma Reis.
Velho disse "achar estranho" o
crescimento da percepção de poder entre os clubes de futebol.
"Corinthians e Flamengo são o
quê? É o carisma do time e da torcida que está em jogo ou o clube,
no sentido mais estrito, da diretoria?", questionou.
Quanto às estatais, Reis disse
que o aumento de seu prestígio e
suposto poder de influência
-justamente no período marcado pelas grandes privatizações
(pós-1995)- poderia significar
uma reação negativa às suas consequências.
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