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JANIO DE FREITAS
Balanços sem balanço
A imprensa brasileira e
seus jornalistas estão entre
os melhores do mundo. Talvez
não pela qualidade técnica,
também não pela firmeza ética.
Mas, se tomarmos melhor como
superlativo de bom e bom no
sentido de bondoso, tudo se explica.
Foram necessários sete anos
para que a imprensa começasse
a admitir alguns possíveis aspectos negativos do governo
Fernando Henrique. Foi preciso
ainda outro ano, ou o fim do governo, para referências mais explícitas a efeitos da política econômica agravantes de vários
problemas nacionais. Hoje, todos viram e apontaram os aspectos maléficos desde os primórdios do governo passado.
Mas a generosidade não se perdeu por isso. Apenas foi transferida: os balanços do primeiro
ano do governo Lula, mais do
que bondosos, chegam a ser caridosos.
É verdade que o governo preparou esse tratamento especial
ao longo do ano, dirigindo para
determinados setores da mídia
uma quantidade de verbas "publicitárias" como só na ditadura
Médici se vira. Para que não falte um exemplo: o mesmo Ministério da Educação que não se
move por falta de verba, como
diz (e logo se desdiz) o seu ministro, agora é grande anunciante em rádio e paga até por
um programa seu, de inutilidade comprovada pelo próprio ministério.
Nem tudo, porém, pode estar
assim à vista. E então as estatais
recebem ordem de anunciar ou
fazer patrocínios em áreas da
mídia indicadas pela Presidência da República. Ainda não é
tudo. Também à maneira do
que era feito na ditadura Médici, entidades oficiosas (associações, confederações e atividades
suas) têm sido solicitadas a colaborar, com anúncios e patrocínios sem sentido, para a maior
massa de verbas com que o governo acaricia grandes grupos
de mídia em dificuldades financeiras.
A transparência de que Lula e
José Dirceu gostam de falar não
alcança nem a propaganda governamental, quanto mais as
outras manipulações políticas
de verbas públicas. Não é por
acaso que o Siafi, Sistema de
Acompanhamento Financeiro
do governo pela internet, preserva o acompanhamento real a
muito poucos e, de vez em quando, nem isso.
Aumento do desemprego, estagnação industrial, corte brutal de verbas com destinação social são realidades escandalosas
do governo Lula e, como tais, só
poderiam resultar em balanços
escandalosos de um ano escandalosamente frustrante para os
que deram a vitória a Lula.
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