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Traficantes matam agricultores
DO ENVIADO A SALGUEIRO
"Sempre vivi da roça, mas agora
não sei o que fazer. Não tenho
mais nada, pois até as encanações
do meu lote os traficantes roubaram. Estou desempregado porque nossos empregos eram nossas culturas. Tenho uma filha que
era agente de saúde e também está desempregada e ameaçada de
morte por tê-los entregue à polícia." O texto é de uma carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, em 16 de maio deste ano,
pelo agricultor Mário Aureliano
da Silva. Ela mostra o medo imposto pela quadrilha do traficante
Jerry Adriane Gomes da Silva, o
Nego de Lídio, às famílias do Projeto Fulgêncio.
A tragédia da família de Aureliano da Silva começou no dia do
Natal de 2002. Seu irmão, Sebastião Aureliano da Silva, 68, descansava na porta de casa quando
foi surpreendido por 12 homens
da quadrilha de Lídio, que o mataram a tiros de fuzil, pistola e espingarda calibre 12.
A mulher de Silva, Maria das
Graças, e o filho, Ronaldo, 12, que
estavam dentro da casa, ficaram
feridos. O crime ocorreu por causa de uma briga de bar entre um
dos integrantes da quadrilha e um
parente do agricultor. Uma sobrinha de Silva deu queixa do assassinato à Polícia Civil. Quatro dias
depois, o grupo de Lídio voltou
para matar o resto da família. O
sobrinho do agricultor, Sandro
Rogério do Nascimento, 24, foi
morto a tiros.
"Ele morreu às 16h em casa e na
frente de todos os moradores da
agrovila. Ninguém quis prestar
depoimento por medo", afirmou
o chefe da Polícia Federal (PF) em
Salgueiro, João Evangelista.
Os parentes de Silva deixaram o
Projeto Fulgêncio e hoje vivem escondidos na Bahia e em Alagoas.
A casa do agricultor foi ocupada
por Leandro Novelino Pereira, 20,
e sua mulher, Edivane, 13.
O novo morador não comenta o
crime, apesar de as marcas de tiros continuarem na parede. Conta que mora ali há um mês e que
"ganhou" o imóvel do pai do traficante, Lídio Gomes da Silva, que
trabalha como vigia no local.
O próprio nome do projeto
-Fulgêncio- tem origem na
violência. Até 1997, ele se chamava Caraíbas. A mudança foi uma
homenagem ao líder sindical Fulgêncio Manoel dos Santos, um
dos fundadores do assentamento,
morto por traficantes ligados a
Nego de Lídio. Segundo a PF, pelo
menos 200 famílias já deixaram o
local por ordem do tráfico.
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