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ELEIÇÕES 2002 - CAMPANHA
Há no banco especialistas trabalhando para os três presidenciáveis
Serra, Lula e Ciro dividem apoio de técnicos do BNDES
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
Os economistas e técnicos do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), principal financiador de longo prazo da economia brasileira
(empresta R$ 28 bilhões neste
ano), estão divididos entre três
candidaturas presidenciais: José
Serra (PSDB), Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) e Ciro Gomes (PPS).
Há no banco núcleos de apoio
aos três candidatos. Nas equipes
responsáveis pelos programas
econômicos de Serra, Ciro e Lula,
há especialistas do BNDES em
funções importantes.
No caso de Serra, o economista
José Roberto Afonso trabalha em
tempo integral na cúpula da campanha. Já o economista Maurício
Dias David, embora filiado ao
PSDB, trabalha para Ciro.
O engenheiro Paulo Roberto
Melo, gerente setorial de Eletrônica do banco, assessora o deputado federal Jorge Bittar (PT-RJ) na
coordenação do setor de política
tecnológica do PT.
"Trabalhamos fora do expediente", afirmou ele, para quem o
ideal seria o BNDES licenciar os
funcionários engajados nas companhas presidenciais.
Formalmente, os dirigentes não
atuam na campanha presidencial,
mas há pelo menos um membro
da direção do BNDES, Beatriz
Azeredo, diretora da Área Social,
com um passado serrista. Ela já
foi assessora do candidato do
PSDB à Presidência.
O economista Fábio Giambiagi,
gerente da área de Planejamento e
um dos macroeconomistas mais
consultados pela equipe econômica do atual governo, está abertamente engajado na campanha
de Serra, embora, como o petista
Melo, sem dedicação integral.
Assuntos Fiscais
Afonso é o chefe da Área de Assuntos Fiscais do BNDES. Ele comanda o que é, provavelmente, o
maior banco de dados do Brasil
sobre a aplicação da LRF (Lei de
Responsabilidade Fiscal).
Nos últimos dois anos, Afonso
viajou por todo o Brasil, fazendo
palestras e participando de debates com prefeitos, advogados, lideranças comunitárias e dirigentes de Tribunais de Contas sobre a
aplicação da lei, criada para disciplinar os gastos públicos.
Em julho, Afonso tirou férias
para se dedicar à campanha de
Serra, para quem trabalha desde
1987, quando o candidato era deputado constituinte.
Formado em economia em Santos (SP), onde nasceu, Afonso, 41,
entrou no BNDES em 1984. Um
ano depois, foi para o Ministério
do Planejamento trabalhar com o
então ministro João Sayad em um
grupo que tinha a atual diretora
Beatriz Azeredo. Voltou ao
BNDES em 1995.
Afonso diz que, como Giambiagi, não está na campanha para
cuidar de assuntos do banco. Segundo ele, há uma convivência
pacífica entre as várias correntes
dentro do BNDES.
Correntes
Melo, 53, está no BNDES desde
1976. Engenheiro elétrico, fez pós-graduação em engenharia de produção, um misto de engenharia e
economia, na Coppe-UFRJ
(Coordenação dos Programas de
Pós-Graduação em Engenharia
da Universidade Federal do Rio
de Janeiro).
Ele diz que as correntes têm
uma boa relação no BNDES e que
não há problemas com a direção
do banco. "A gente não sofre repressão por ser do PT", afirma
Melo. Segundo ele, há "dezenas"
de técnicos do banco atuando na
campanha de Lula, muitos, como
ele, filiados ao PT.
Os pontos fortes dos petistas no
BNDES, segundo Melo, são as
áreas de transportes, política industrial e telecomunicações. "Temos também um desenho para a
área social."
Ele diz que os grupos que
apóiam Lula e Ciro têm um relacionamento próximo, estando
mesmo em discussão a hipótese
de um programa comum para a
atuação do BNDES.
Fernandista
David, 55, formou-se nos anos
70 no Chile, para onde se exilou
no fim da década anterior. Fez
doutorado na Universidade de
Sorbonne, em Paris, nos anos 90.
Entrou no BNDES em 1979, após
regressar ao país -já morava na
Europa, banido pelo regime militar chileno.
Desde então, luta para permanecer no emprego, tendo sido
afastado no começo dos anos 80
(governo Figueiredo), anistiado
em 1987, demitido em 1990 (governo Collor) e, segundo relata,
reintegrado em 1996 por uma liminar judicial.
David afirma que foi fundador
do PSDB e um dos poucos fernandistas (seguidores do hoje presidente Fernando Henrique Cardoso). Segundo diz, rompeu com
FHC por considerar que o presidente capitulou à tese de que a
globalização neoliberal era o único caminho a seguir.
O economista passou os últimos três anos trabalhando para a
ONU (Organização das Nações
Unidas) no Chile. Voltou em abril
para trabalhar na campanha de
Ciro. David afirma que agora está
em processo de licenciamento do
BNDES.
Mesmo sendo um dos três porta-vozes econômicos da Frente
Trabalhista, David afirma que
não quer sair do PSDB. Para ele, o
seu partido ainda é viável, desde
que afastado da influência do
"grupo paulista".
O banco não comenta a atuação
de seus funcionários nas campanhas políticas. Extra-oficialmente, a tese da empresa é que cada
um é livre para apoiar quem quiser, desde que nisso não interfira
no serviço.
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