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GOVERNO
Presidente estuda documento de ex-mandatário americano com dicas e conselhos sobre palestras remuneradas no exterior
FHC persegue modelo Clinton para o futuro
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Fernando Henrique Cardoso
intensificou o planejamento de
seu futuro pessoal. Persegue o
modelo de Bill Clinton, ex-presidente dos EUA. Ao deixar a Presidência da República, em janeiro
de 2003, cogita ingressar no ramo
de palestras remuneradas.
Revelou a auxiliares o desejo de
constituir uma ONG, voltada à
análise dos problemas brasileiros.
Deseja compartilhar reflexões
acumuladas ao longo dos dois
mandatos que exerceu.
FHC analisa documento que recebeu de Clinton. O texto contém
dicas e conselhos do ex-presidente americano acerca dos meandros do circuito internacional de
palestras que vem percorrendo
desde que deixou a Casa Branca.
Diferentemente do que ocorre
nos EUA, onde os ex-mandatários contam com uma superestrutura que inclui o pagamento de
escritório pelo Estado, no Brasil o
pacote de benefícios é enxuto.
Além de uma pensão vitalícia
equivalente ao valor do último salário, o ex-presidente conta com
um carro, segurança pessoal e um
oficial militar, que funciona como
um assistente. Daí a idéia de constituir uma ONG, por ora mera cogitação. Seria a forma de viabilizar
uma equipe mínima, bancada por
doações feitas dentro da lei.
FHC tenciona também escrever
um livro sobre sua experiência
presidencial. O presidente desenvolveu o hábito de gravar em fita
cassete informações que, a seu
juízo, têm valor historiográfico.
Seria uma forma de evitar traições
da memória. As fitas registram
detalhes sobre encontros reservados, decisões de governo, momentos de tensão etc.
Em seus diálogos reservados,
FHC fala com pesar das agruras
que seu candidato, José Serra,
vem enfrentando na corrida presidencial. Acha que a acomodação de um amigo no Planalto o livraria de atividade extra em seus
dias de ex-presidente: a de se defender de eventuais devassas.
Preocupa-se especialmente com a
ascensão de Ciro Gomes (PPS),
cujo equilíbrio e bom senso questiona. Considera que o temperamento de Ciro não é agregador.
Fala com certo menoscabo do
preparo intelectual do candidato
da Frente Trabalhista. Diminui a
importância da passagem de Ciro
por Harvard. Diz que ele foi aos
EUA apenas para aprender inglês.
"E não aprendeu", opina.
Ao falar das causas do declínio
de Serra nas pesquisas, FHC menciona a "dubiedade" inicial do
discurso de campanha. Acha que
Serra hesitou em apresentar-se
claramente como candidato oficial do governo.
Ele dispõe de dados que, na sua
opinião, corroboram o seu prestígio como cabo eleitoral. São pesquisas feitas pelo Ibope, sob o patrocínio da CNI (Confederação
Nacional da Indústria). Numa série de cinco sondagens, iniciadas
em junho do ano passado, o Ibope perguntou qual seria a posição
do eleitor "em relação a um candidato que representasse a continuidade da política" de FHC. No
levantamento fechado em junho,
16% do eleitorado respondeu que
"certamente votaria" num candidato assim. Outros 28% disseram
que "poderiam votar". É um universo de 44% de pessoas predispostas a eleger alguém que colasse
a própria imagem à de FHC.
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