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JANIO DE FREITAS
As vacas não animam
A revelação, contida na
pesquisa CNI/Ibope, de que
48% dos eleitores de Luiz Inácio
Lula da Silva não lhe dariam o voto outra vez, se repetidas as condições do primeiro turno passado,
causou na Presidência o impacto
mensurável pela pronta concessão
de nova e simpática entrevista coletiva presidencial, com mais promessas otimistas. E, no entanto,
não era aquele o dado mais importante sobre a opinião pública,
ainda que este outro não recebesse, de jornais e tv, maior (nem menor, quase sempre) atenção.
Lula comunicou, na entrevista,
que "o tempo dos sacrifícios e vacas magras acabou" - tal como
pesquisa anterior, também com
dados negativos, levara-o a anunciar o "espetáculo do crescimento"
econômico no segundo semestre
que se iniciava. Se antes não se viu
o esperado espetáculo, agora a
opinião pública informa que as
vacas gordas, obedientes ao exemplo metafórico do presidente, já
foram para o brejo.
A mensagem está nos levantamentos, pelo Programa de Administração do Varejo em comum
com a USP, das intenções de consumo em São Paulo. Quando, em
igual ocasião do ano passado
(pouco antes do primeiro turno
eleitoral), o dólar disparava, a inflação subia, a economia desabava e o governo Fernando Henrique buscava socorro no FMI,
27,5% dos consumidores mostravam-se decididos a não fazer compra no chamado período pré-natalino. Neste ano, são 55,4% os
que manifestam a decisão de nada comprar. Mais do que o dobro
do ano passado.
A importância dessa pesquisa
está em captar, antes de sentido
político, o estado de ânimo da população, seu desalento ou a boa
disposição proveniente da realidade circundante. É também uma
forma de julgamento do governo,
sem dúvida, mas proporciona indicadores mais amplos. Econômicos, por exemplo, ao sugerir que
são precárias as perspectivas de
verdadeira ativação industrial/comercial nos próximos meses, se até
no período mais extenso e intenso
de compras não há disposição para tanto.
É em torno do estado de ânimo
que a propaganda se movimenta,
no intuito de manobrá-lo. Enquanto as vacas de Lula emagreceram mês após mês, as verbas
gastas pelo governo em propaganda aumentaram, extraindo dinheiro, inclusive ou sobretudo,
das estatais e adjacências. Além
dos incontáveis pretextos para que
Lula apareça a cada dia nas primeiras páginas e nos telejornais.
E, a propósito, aí aparece outro indicador importante da sondagem:
nem mesmo o empenho na propaganda conseguiu impedir que o
estado de ânimo redobrasse como
estado de desânimo.
Pudim de soja
A designação da ministra Ellen
Gracie Northfleet para relatora,
no Supremo Tribunal Federal, dos
recursos contra a liberação da soja
transgênica não fortalece as esperanças das iniciativas assinadas
pela Associação dos Juizes Federais do Brasil e pela Associação
Nacional dos Procuradores da República, ambas aceitas pelo procurador-geral Cláudio Fonteles.
A liberação da soja adulterada
produziu, pelo menos, um resultado saudável: com a renúncia de
João Capiberibe à vice-liderança
do governo no Senado, afinal apareceu, no governismo, alguém capaz de abandonar um pedacinho
do pudim em nome dos princípios
antes declarados.
Na Inglaterra, onde o consumo
de transgênicos continua proibido, um "furo" do jornal "Guardian" revelou a conclusão de três
anos da pesquisa comparativa entre plantios convencionais e transgênicos. Duas das três culturas
transgênicas -beterraba, para
produção de açúcar, e canola para
óleo de cozinha- revelaram efeitos nocivos no ecossistema, que
não foi alterado pelas plantas puras. A reportagem fez a polêmica
explodir outra vez, mas na Inglaterra não há o golpe das medidas
provisórias para impor decisões.
Dois aniversários
No 3 de outubro de 1953, agora
celebrado, em que Getúlio Vargas
assinava a criação da Petrobras,
ocorria uma não-coincidência:
noticiava-se a entrega do Prêmio
Maria Moors Cabot, na Universidade de Columbia, a Carlos Lacerda, por sua atividade, como registram os anais, "contra a corrupção e o comunismo".
Os americanos do petróleo e o
próprio governo dos Estados Unidos fizeram todo o possível contra
a criação da hoje cinquentenária
Petrobras. Carlos Lacerda levava
ao auge a campanha que terminou no suicídio de Getúlio.
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