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Servidores da Abin dizem que Lacerda é vítima de complô
"O grampo é privado; essa conta de arapongagem não é nossa", afirma Nery Kluwe de Aguiar Filho, que representa os agentes
Ele diz que "os interessados" em espionar Gilmar Mendes são aqueles que desafiaram a autoridade jurisdicional na Operação Satiagraha da PF
CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A denúncia do suposto grampo contra o presidente do STF,
Gilmar Mendes é resultado de
um complô contra o delegado
Paulo Lacerda. Essa é a opinião
do presidente da Asbin (Associação de Servidores da Abin),
Nery Kluwe de Aguiar Filho,
que representa os agentes secretos: "Estamos vivendo um
complô contra um alvo determinado que é o dr. Lacerda".
Kluwe nega a participação de
colegas no grampo. Para ele, "o
grampo é privado": "Essa conta
de arapongagem não é nossa!"
Segundo ele, "os interessados"
em espionar Mendes "são os
mesmos que desafiaram a autoridade jurisdicional no âmbito
da Satiagraha". Ele faz duras
críticas ao uso que o GSI faz da
Abin: "Quando reúnem-se três
sindicalistas e dois líderes do
MST para iniciar uma marcha,
o GSI aciona a Abin".
FOLHA - A Abin é a principal suspeita do grampo. Qual é sua opinião?
NERY KLUWE DE AGUIAR FILHO - Estamos vivendo um complô contra um alvo determinado, o dr.
Paulo Lacerda, que quando dirigiu a polícia prendeu mais de
6.000 pessoas, principalmente
criminosos de colarinho branco. Com ele a Abin iniciou um
processo de estruturação.
FOLHA - Quem está por trás disso?
KLUWE - Os interessados são os
mesmos que desafiaram a autoridade jurisdicional no âmbito
da Operação Satiagraha. A minha convicção hoje é de que esse grampo é privado ou clandestino. O grampo legal da Satiagraha encerrou-se e foi relatado muito antes da data desse
grampo. Não há a mínima condição de ter sido oficial.
FOLHA - E a origem do grampo?
KLUWE - Esses sistemas são auditáveis. Se foi por empresas telefônicas, é fácil saber. Se foi
pelo sistema da PF, o Guardião,
também. Mas se for maleta fica
difícil. O Lacerda sempre disse
para fazermos o que a lei nos
permite. Essa questão das interceptações virou um descontrole total. Na PF virou moda
valer-se do grampo para constituir prova, está perdendo sua
capacidade investigativa. É
preciso ressaltar que, no caso
da Abin, qualquer ação deve ser
autorizada e registrada. Quando saímos para conversar com
uma fonte, temos que fazer relatório disso. Hoje, 80% da produção de informação da Abin
provém de fontes humanas.
FOLHA - Como vocês receberam as
críticas do ministro Nelson Jobim?
KLUWE - Ficamos estupefatos.
Nós temos convicção de que essa prática não pode ser atribuída a nós. Há uma resistência no
meio militar em relação à Abin.
Eles tem hegemonia na área de
informação interna. Para nós,
de que valeria ouvir o ministro
do Supremo? Nada. O clima
aqui dentro é de indignação,
mas de tranqüilidade porque
essa arapongagem é própria de
órgãos de regimes de exceção,
não é da nossa alçada.
FOLHA - A Abin é mal utilizada?
KLUWE - A Abin tem que aprender a lição e sair da atividade de
inteligência interna, que é a demanda principal do GSI. Quando reúnem-se três sindicalistas, dois líderes do MST para
iniciar uma marcha, o GSI aciona a Abin para acompanhar isso. O GSI tem essa demanda de
segurança interna, de segurança pública, de defesa, ambiental
e militar. Os serviços modernos
atuam na inteligência externa,
na contra-inteligência, na proteção das autoridades e no contra-terrorismo. A solução é nos
libertar dessas demandinhas
internas. Só com a inteligência
externa, ninguém poderá nos
culpar. Não há mudança porque o pessoal do SNI ainda está
na direção. Por isso 70% de
nossas atividades são internas.
Somos obrigados até a procurar
boi no pasto e a vigiar invasão
de estudante em reitoria.
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