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ABUSO POLICIAL
Foi detido ontem um dos seis agentes penitenciários acusados de espancar o comerciante Chan Kim Chang em presídio no Rio
Nova perícia encontra sangue em cela lavada
DA SUCURSAL DO RIO
Uma nova perícia realizada sexta-feira à noite no Presídio Ary
Franco, onde esteve preso o comerciante chinês naturalizado
brasileiro Chan Kim Chang, 46,
mostrou que havia sangue na cela,
no corredor e na sala para onde
ele foi levado antes de entrar em
coma, em 27 de agosto. Chan
morreu na quinta de traumatismo craniano e pneumonia dupla.
Segundo o chefe da Polícia Civil,
delegado Álvaro Lins, a nova perícia foi feita com a aplicação de um
reagente químico de nome ""Luminol", que indicou a presença de
manchas de sangue mesmo depois de o local ter sido lavado várias vezes com água e sabão.
Lins disse que a nova perícia pode ser determinante para esclarecer a origem dos ferimentos de
Chan. ""A quantidade de sangue
que ele perdeu indica que tinha lesões visíveis e que precisava de socorro imediato", afirmou.
Para o secretário estadual de Segurança e ex-governador Anthony Garotinho, está provado
que o local foi lavado várias vezes
para ""desfazer a cena do crime".
Seis agentes penitenciários que
estavam de plantão no dia em que
Chan foi encontrado em coma tiveram prisão temporária decretada, por volta da meia-noite de
sexta-feira, pela juíza de plantão
no Tribunal de Justiça, Débora
Sarmento. Um dos agentes, Dênis
Gonçalves Monsores, foi preso na
manhã de ontem. Outros dois,
aconselhados por seus advogados, estão escondidos.
Até a conclusão desta edição, a
buscas por todos os agentes ainda
não havia terminado.
Amanhã, os presos que estavam
em celas vizinhas à de Chan serão
reinqueridos pelo delegado Marcelo Fernandes, da corregedoria
da polícia. Os presos tinham confirmado a versão dada pelos agentes de que o chinês havia se ferido
sozinho.
Álvaro Lins disse que um dos
motivos do pedido de prisão dos
agentes foi dar segurança aos presos para contar a verdade. Os novos depoimentos serão tomados
na Delegacia de Homicídios. longe do presídio.
Durante o programa de rádio
semanal da governadora Rosinha
Matheus, ontem, Garotinho disse
que há denúncias sobre o envolvimento de funcionários graduados
do presídio envolvidos nas agressões ao comerciante Chang, mas
não citou nomes.
O diretor do Presídio Ary Franco, major Luiz Gonçalves Matias,
foi afastado do cargo na última segunda-feira e ontem foi anunciado o afastamento do vice-diretor,
Luiz Torres.
Os dois vinham sendo investigados em razão de uma denúncia
anônima de que o comerciante teria sido brutalmente espancado
ao negar-se a revelar a senha de
seu cartão de banco.
O calvário vivido por Chang
King Chang começou no dia 25 de
agosto, ao ser preso no Aeroporto
Internacional Tom Jobim, tentando embarcar para os Estados Unidos com US$ 30.550 na bagagem.
Como ele não havia declarado o
dinheiro à Receita Federal, foi
preso e levado para prestar depoimento na Superintendência da
Polícia Federal, no centro do Rio.
No dia seguinte, ele foi levado
por agentes da Polícia Federal para o Presídio Ary Branco, no bairro Água Santa, na zona norte. No
mesmo dia, ele chegou a ser visitado por parentes, que disseram
tê-lo encontrado em boas condições de saúde.
Na noite do dia 27, Chang foi levado para o hospital público Salgado Filho, em coma, com traumatismo craniano, e foi submetido a duas cirurgias.
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