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CASO SANTO ANDRÉ
Sérgio Gomes da Silva nega ter sido mandante da morte de Celso Daniel e afirma que é acusado por bandidos
Ação tem todo tipo de loucura, diz empresário
DA REPORTAGEM LOCAL
O empresário Sérgio Gomes da
Silva, denunciado criminalmente
anteontem como um dos mandantes do assassinato do prefeito
de Santo André Celso Daniel, disse ontem, em entrevista coletiva,
que o processo que o acusa tem
"todo tipo de loucura". Ele também questionou a credibilidade
das testemunhas e disse estar sendo acusado por "bandidos".
Com cópia do processo sigiloso
nas mãos, Gomes da Silva disse
que "tem uma carta de uma mulher que diz que cozinhava para o
Arcanjo [provavelmente o ex-policial civil João Arcanjo Ribeiro,
preso no Uruguai em abril]".
"Não sei que Arcanjo [...]. Mas
ela diz que me viu em uma festa
tramando a morte, eu e o Palocci
[Antonio Palocci Filho, ministro
da Fazenda]. Isso está aqui", afirmou Gomes da Silva, abrindo o
processo na página da carta, que
estava previamente marcada.
O empresário respondeu a perguntas de jornalistas durante 40
minutos. Tenso e emocionado, falou lentamente e chorou diversas
vezes. Sempre que citou Daniel,
interrompeu as frases, olhou para
baixo, ficou em silêncio por algum tempo e depois voltou a falar
com os olhos marejados.
Ele repetiu diversas frases que
têm sido ditas por seu advogado,
Roberto Podval. Disse, por exemplo, que o processo é inquisitorial
e que estamos vivendo uma "democracia às avessas".
"Estou sendo julgado, condenado e execrado publicamente", disse o empresário. Ele afirmou que
sua inocência será provada daqui
a dois ou três anos, mas que sua
vida já estará destruída. "Não
existe nada que possa consertar o
que essas pessoas [promotores]
fizeram comigo."
O empresário disse que perdeu
sua vida social, que não tem condições de trabalhar e que é apontado na rua. "Eles [os promotores] acabam com a sua vida. Tenho meu amigo morto, minha vida na lata do lixo. E tenho de enfrentar um monte de mentiras."
Bandidos
Gomes da Silva questionou a
credibilidade das testemunhas.
"Estou sendo acusado pelo Ministério Público e por bandidos",
afirmou, em referência ao histórico criminal de Dionízio Severo e
Ailton Alves Feitosa -ambos
resgatados de helicóptero da Penitenciária de Guarulhos dois dias
antes do sequestro de Daniel.
"Quanto eles foram presos, disseram que eram inocentes e o Ministério Público não acreditou.
Mas quando eles fazem acusações
infundadas contra mim, o Ministério Público acredita."
O empresário afirmou enfaticamente que não conheceu Severo e
disse que o sequestrador jamais
namorou sua mulher, Adriana.
"Dizer que o Dionízio namorou
a Adriana? Eu estava casado com
ela em 1988. Ele namorou a Adriana em 1989. E [mais de] dez anos
depois, "em agradecimento", contrato ele para matar meu irmão
[referência a Celso Daniel]."
Ele também questionou os procedimentos do Ministério Público
em relação à investigação sobre a
relação de Severo com a Prefeitura de Santo André. "Dezenas de
pessoas trabalham no gabinete do
prefeito, mas o Ministério Público
ouviu apenas o José Cicote, que
era inimigo público do Celso."
Gomes da Silva disse que Severo
jamais trabalhou na Prefeitura de
Santo André. "Um advogado disse que encontrou o Dionízio no
pátio da prefeitura. Mas qualquer
prefeitura é visitada por milhares
de pessoas. É mentira que ele trabalhava lá, é mentira que eu o conhecia", disse o empresário.
Outro argumento utilizado pelo
empresário para afirmar sua inocência é o fato de que Celso Daniel
estava cotado para ser o coordenador do programa econômico
de Luiz Inácio Lula da Silva, que
na época do assassinato era candidato à Presidência. Com a morte de Daniel, Antonio Palocci Filho assumiu o papel e se tornou
ministro da Fazenda.
"Se essa hipótese, absolutamente absurda fosse verdadeira, por
que eu faria isso? Se é o que eles
[os promotores] dizem na denúncia, que eu me interesso por poder
e dinheiro, como eu teria mais poder do que ter um amigo no Ministério da Fazenda? Não tem sentido [a tese da Promotoria]."
Sobre a existência de supostos
esquemas de corrupção na Prefeitura de Santo André, Gomes da
Silva disse que nunca conversou
sobre o assunto com Celso Daniel.
"Sobre essa alegada corrupção,
eles [os promotores] já fizeram
uma investigação que foi anulada
pelo Tribunal de Justiça."
O empresário disse que a família de Celso Daniel tem o direito
de ter dúvidas sobre as circunstâncias da morte dele e concluiu a
entrevista dizendo que gostaria de
ter morrido no lugar de Daniel.
"O Celso era um irmão para
mim", afirmou Gomes da Silva.
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