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LEGISLATIVO
Levantamento feito pela Folha mostra que há menos candidatos com diploma universitário
Mais longe da escola
ROBERTO DIAS
TIAGO AGUIAR
DA REDAÇÃO
O batalhão que vai disputar
uma vaga no Legislativo federal
exibe escolaridade bem mais baixa que os candidatos da última
eleição, há quatro anos.
Menos da metade dos postulantes a uma vaga na Câmara dos Deputados ou ao Senado declarou
ter diploma universitário.
Levantamento feito pela Folha a
partir de dados fornecidos pelo
TSE (Tribunal Superior Eleitoral)
mostra que a proporção de "universitários" entre os candidatos é
de 49,6%, mais de dez pontos percentuais abaixo do nível da eleição de 1998, que era de 60%.
A redução do nível de escolaridade dos políticos vai na contramão do aumento da parcela da
população brasileira que conta
com um diploma do ensino superior. Embora não haja ainda números oficiais, é certo que a base
com grau universitário tem aumentado mais que o crescimento
da população nos últimos anos
-as taxas de matrículas no ensino superior têm subido anualmente ao redor de 10%.
"Uma explicação "otimista" seria
supor uma maior representação
das camadas populares -por
exemplo, vinculadas a movimentos sociais-, já que a grande
maioria da população brasileira
tem baixo grau de escolaridade",
diz Mercedes Maria Loguercio
Cánepa, professora de ciência política da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul.
Na mesma linha, aponta o sociólogo Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE: "Na medida
em que a política fica menos elitista, que o controle não está mais
nas mãos de uma elite muito fechada, é normal que se popularize. Não tem a ver a escolaridade
da população em geral, mas com
a democratização da política".
A explicação encontra eco nas
palavras do professor José Augusto Guilhon Albuquerque, da USP.
"É óbvio que está havendo uma
democratização maior da participação política, isto é, uma participação maior de pessoas de baixa
renda do que antes. É um amadurecimento e desalienação das
classes populares, uma vez que
mais eleitores reconhecem que a
política não está reservada aos
mais ricos", afirma ele.
O diploma universitário, na opinião de Fabiano Santos, professor
de ciência política do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas
do Rio de Janeiro), tem mais peso
na atuação dos assessores do que
na dos próprios políticos.
"O importante é ter uma estrutura de assessoria muito qualificada. Quem vai fazer o trabalho é a
assessoria", afirma ele.
Por outro lado, a professora de
ciência política da USP Maria
Hermínia Tavares de Almeida
pondera que a formação escolar
pode ser útil também para o próprio político. "Não resta a menor
dúvida que o aumento do número de parlamentares com formação de economista melhorou a capacidade de interlocução do Congresso com o Executivo em matéria de política econômica."
Os dados coletados pelo TSE
apontam ainda que duplicou a
proporção de candidatos que dizem saber apenas ler e escrever
-um degrau abaixo da opção
"fundamental incompleto".
"É provável que quem não tenha o primeiro grau tenda, em tese, a apresentar limitações no
exercício da função parlamentar.
Mesmo assim, há muitos casos
em que a falta de educação formal
pode ser contrabalançada com
outra formação", diz a professora
Maria Hermínia.
Já Guilhon Albuquerque diz
que não vê correlação entre a escola e a política profissional. "Pesquisas com amostras nacionais
feitas por mim na USP mostram
que a participação política é um
importante corretor da escolaridade. Entre as pessoas com alto
grau de participação política a escolaridade não é um diferencial
de interesse e informação sobre
política", afirma ele.
Apesar do decréscimo, a escolaridade dos candidatos ainda é
bastante superior à da população
em geral. Segundo os dados preliminares do Censo 2000, do IBGE,
4,1% da população brasileira acima de 10 anos estudou pelo menos 15 anos, indicativo de que têm
curso superior completo -o índice dos candidatos é de 49,6%.
E, de qualquer forma, os caminhos atuais de uma e outra taxa
não significam que os perfis dos
políticos e da população brasileira
dirijam-se para um encontro definitivo no futuro.
"Sempre vai ter um viés. Os indicadores demográficos dos deputados são sempre muito diferentes dos da sociedade", diz Fabiano Santos, do Iuperj.
O levantamento dos dados declarados pelos candidatos que registraram candidatura para disputar as 54 vagas no Senado e as
513 na Câmara (uma lista de 5.170
nomes) mostra ainda que:
1) Aumentou a participação dos
que têm no máximo o primeiro
grau completo, de 8% para 11%.
2) Três partidos da esquerda
(PC do B, PCB e PSTU) são os que
têm, proporcionalmente, mais
candidatos que ingressaram numa universidade; separados, porém, apenas aqueles que terminaram o curso, a lista traz no topo
agremiações de centro e de direita
(PSDB, PFL e PPB).
3) No extremo oposto, ou seja,
entre os partidos que têm um perfil menos escolarizado, a liderança fica para PTN, PST e PRP, os
primeiros da lista que considera
os candidatos que têm no máximo o ensino fundamental.
4) A escolaridade dos candidatos ao Senado é bem mais alta que
a dos postulantes à Câmara: no
primeiro, 67% têm ensino superior completo; no segundo, 48%.
5) A maioria (62%) dos que
querem um lugar no Congresso
declarou ser casada.
A tabela fornecida pelo TSE traz
também informações sobre as
profissões dos candidatos.
Como em 1998, o maior grupo é
o dos advogados. O grande destaque porém, é a ascensão do bloco
que diz se encaixar mais corretamente na definição "empresário":
era o nono do ranking na última
eleição, agora é o terceiro.
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