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BRASIL PROFUNDO
Atividade será suspensa somente até encontro com Lula, requisitado pelos índios para esta semana
Chefes cintas-largas
devem desativar
garimpo na quarta
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, NA TERRA INDÍGENA ROOSEVELT (RO)
Índios cintas-largas decidiram
desativar até o dia 12 o garimpo da
grota do Lage, o único que, segundo eles, está em atividade dentro
da terra indígena Roosevelt, em
Rondônia. O garimpo de diamantes funciona há seis meses tocado
pelos próprios indígenas.
A decisão foi tomada em uma
reunião de 30 líderes cintas-largas
na manhã de anteontem na aldeia
do cacique João Bravo Cinta Larga, a 683 km de Porto Velho.
À tarde, chegaram à aldeia o delegado da Polícia Federal Mauro
Sposito e funcionários da Funai
(Fundação Nacional do Índio),
que foram informados da decisão. A Agência Folha acompanhou esse segundo encontro.
Os índios solicitaram uma reunião, na próxima semana, com o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros Márcio Thomaz
Bastos (Justiça) e Dilma Rousseff
(Minas e Energia) para discutir a
regularização da exploração de
diamantes por eles em suas terras.
Por falta de regulamentação, a
exploração mineral em terras indígenas é proibida.
No dia 7 de abril, ao menos 29
garimpeiros morreram em conflito com os índios no garimpo chamado Sossego, dentro da terra indígena. Desde então, o acesso à
reserva é vigiado por soldados do
Exército, policiais federais e militares em quatro barreiras.
"Nós vamos parar [o garimpo]
só até conversar com Lula. Vamos
lá conversar com ele e depois passar tudo para a comunidade", disse João Bravo, que pretende ir a
Brasília com mais 14 lideranças.
O líder Pio Cinta Larga disse que
os índios dirão a Lula que o governo não dá assistência de saúde e
escolar aos cintas-largas, e que os
índios garimpam a terra para sobreviver e por se sentirem no direito de explorá-la.
Para o delegado Mauro Sposito,
a decisão dos cintas-largas de desativar o garimpo diminui a tensão do lado de fora da reserva, já
que os garimpeiros ameaçam invadi-la ou já estariam nela.
Desde a retomada do garimpo,
os índios dizem que a área voltou
a ser invadida por garimpeiros,
que dizem que alguns índios os
contratavam para o trabalho.
Na reunião de anteontem, índios contaram a Sposito que viram atividade em uma parte da
reserva em Mato Grosso. O delegado disse que fará amanhã um
sobrevôo acompanhado para tentar localizar esse garimpo.
As lideranças que participaram
da reunião vieram das quatro
áreas que formam a terra indígena, que tem ao todo 2,7 milhões
de hectares. Um dos índios, Oita
Matina Cinta Larga, chegou à aldeia em um avião monomotor
alugado por R$ 1.200/hora.
Na reunião, Oita Matina afirmou que os índios têm direito de
ter carros e televisão porque são
brasileiros. "Nós temos capacidade de tocar o garimpo, não estamos com pressa [de explorar tudo]. Queremos fazer a coisa certa,
mas não podemos entregar o que
é nosso para o branco, vamos defender o que é nosso", disse.
O cacique Tatarê Cinta Larga,
que fez o discurso mais exaltado,
disse que os cintas-largas não têm
armas, como afirmam garimpeiros. "Nós não temos armas, nossas armas são as flechas. Nós reconhecemos as armas dos brancos.
Eles têm metralhadora."
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