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Tarso reage e pede abertura dos arquivos
Ministro da Justiça, que teve sua ficha lida por militar da reserva, diz que "a história tem que ser conhecida por todo mundo"
"Se existe uma ficha, essa ficha é de algum arquivo?", perguntou Paulo Vannuchi: "Se todos foram queimados, não deveriam existir fichas"
ITALO NOGUEIRA
FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO
Os ministros Tarso Genro
(Justiça) e Paulo de Tarso Vannuchi (Direitos Humanos) defenderam no Rio a abertura dos
arquivos da ditadura militar em
resposta à leitura de suas fichas
de guerrilheiros em ato realizado anteontem no Clube Militar.
"Se existe uma ficha, essa ficha é de algum arquivo, algum
documento? A ministra Dilma
tem um pedido ministerial determinando transferir ao Arquivo Nacional todo e qualquer
documento e ficha relacionado
a informações do período da repressão política no regime autoritário. (...) Se todos foram
queimados não deveriam existir fichas de ninguém", disse
Vannuchi na OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil).
O ministro da Justiça, Tarso
Genro, afirmou, durante visita
ao Sindicato dos Médicos do
Rio, que a ficha lida no Clube
Militar "não é novidade para
ninguém": "É uma ficha aberta
e eu me orgulho muito dela".
Ele defendeu que arquivos da
ditadura sejam abertos à consulta: "Isso é uma necessidade,
a história tem que ser conhecida por todo mundo. Nós temos
é que verificar as mudanças que
têm que ser feitas na lei, porque
tudo tem que ser feito dentro
do Estado de Direito e protegendo as questões que são de
interesse do Estado", afirmou.
Tarso ironizou os militares
da reserva que pediram sua saída: "Eu acho que eles têm direito de fazer isso, porque nós estamos em um Estado de Direito. Se fosse uma ditadura, quem
fizesse uma manifestação como essa poderia ser cassado".
Durante um evento no Clube
Militar, anteontem, o general
reformado Sérgio Augusto de
Avellar Coutinho leu fichas de
Vannuchi e Genro, citando a
militância deles em organizações clandestinas. À Folha, ele
disse que consultou a internet
e informações correntes. Disse
crer que os militares mantenham arquivos com cópias de
documentos da ditadura, mas
que nunca os viu e que não há
motivo para divulgá-los, pois "a
Lei da Anistia encerra tudo".
Vannuchi participou de debate sobre a Declaração Mundial de Direitos Humanos. Negou ter pedido a revisão da Lei
de Anistia, mas disse que "não
há como deixar de debater":
"Não pode haver reconciliação
em torno de qualquer idéia de
que não houve tortura no Brasil, de que Vladimir Herzog cometeu suicídio, de que Rubens
Paiva nunca foi preso".
"Não nos peçam para fazer
reconciliação sem o direito à
memória e à verdade. O tema
terá que ser resolvido em algum momento. As ações estão
em andamento, o Ministério
Público Federal está propondo
uma ação contra os comandantes dos centros de tortura. O
que não se pode é querer resolver por interdição do debate
um tema que o Judiciário levará adiante, as famílias continuarão trabalhando, assim como as entidades de direitos humanos", disse Vannuchi.
Coutinho afirmou que seu
pai foi anistiado após participar da Revolução Constitucionalista: "Minha família aceitou
isso como reconciliação. Por isso a anistia historicamente
sempre foi um instrumento de
reconciliação e de pacificação".
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