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TREM DO PARANÁ
Entre os lotados na máquina estadual, estão a mulher e três irmãos do governador; salários chegam a R$ 5,9 mil
Governo de Requião emprega 26 parentes
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Mulher, cunhada, três irmãos,
dois sobrinhos e dois primos. São
pelo menos nove os parentes do
governador do Paraná, Roberto
Requião, nomeados para a administração direta ou no comando
de órgãos públicos importantes.
Mas a prática da gestão familiar
não parou por aí. O exemplo do
político do PMDB foi seguido por
alguns membros da cúpula do seu
governo. Caíto Quintana, chefe da
Casa Civil e um dos principais auxiliares de Requião, deu emprego
a três irmãos e a dois cunhados.
O vice-governador, Orlando
Pessuti, colocou a mulher na chefia do seu gabinete. O secretário
de Comunicação, Airton Pissetti,
tem filha e duas sobrinhas contratadas na administração.
A partir de consulta ao "Diário
Oficial", a Folha confirmou a presença de pelo menos 26 parentes
de autoridades do governo de Roberto Requião. Os salários oscilam de R$ 1.200 a R$ 5.900.
"Essa cobrança é uma visão pequeno-burguesa", defende Luiz
Cláudio Romanelli, presidente da
Cohapar (Companhia de Habitação do Paraná).
Romanelli, que tem status de secretário de Habitação de Roberto
Requião, colocou a filha de 22
anos, recém-formada em Turismo, para gerenciar dois parques
estaduais no IAP (Instituto Ambiental do Paraná).
No comando do porto de Paranaguá (um dos maiores do país),
no museu mais badalado do Estado, num simples assessoramento
de terceiro escalão da secretaria
de Desenvolvimento Urbano ou à
frente da mais rica secretaria, o
sobrenome Requião de Mello e
Silva não sai do noticiário estadual, das TVs e dos jornais.
O irmão Eduardo, candidato
derrotado à Prefeitura de Curitiba
(PR) na eleição de 2000, controla
o segundo mais importante porto
público do país e o quinto entre
públicos e privados.
Pelo porto de Paranaguá passaram cerca de 27 milhões de toneladas em 2002, gerando uma receita cambial de aproximadamente US$ 4,5 bilhões.
Outro irmão do peemedebista,
Maurício, é o secretário de Educação, que comanda um orçamento
superior aos R$ 3 bilhões anuais e
uma grande massa de funcionários (91 mil professores e outros
trabalhadores ligados ao ensino),
que representa 51% dos servidores públicos do Estado.
Requião, que se vangloria entre
amigos de comandar "o governo
mais à esquerda do país", trabalha
para colocar Maurício na presidência estadual do PMDB e, assim, pavimentar o apoio do partido para a candidatura do petista
Angelo Vanhoni à Prefeitura de
Curitiba no ano que vem.
Museu Oscar Niemeyer
Inaugurado sob críticas no ano
passado, por causa do custo estimado em R$ 42 milhões, hoje o
Museu Oscar Niemeyer, com projeto assinado pelo arquiteto, é a
coqueluche da cultura no Paraná.
À frente dele também está um
membro da família, a primeira-dama Maristela Quarenghi, que
preside a Sociedade dos Amigos
do Museu Oscar Niemeyer, uma
Oscip (Organização da Sociedade
Civil de Interesse Público) criada
em maio último. Logo depois, assinou termo de parceria com o Estado para obter pessoal e recursos. A primeira-dama recebe salário pelo trabalho, mas no museu
ninguém revelou o valor.
A assessoria informou que só
Maristela pode falar sobre o assunto, mas ela passou os últimos
dias de folga, recuperando-se de
uma cirurgia.
Maristela chamou a própria irmã, Mariane Quarenghi, para trabalhar no museu. A nova assessora cultural do museu é servidora
da Prefeitura de Curitiba, mas está licenciada com ressarcimento
para a Secretaria de Estado do
Meio Ambiente -o governo faz o
repasse correspondente ao salário
de Mariane no município.
A assessoria do governador afirma que um integrante da família
Requião não é remunerado.
Lúcia, irmã do governador, é a
presidente da Provopar (Programa do Voluntariado Paranaense),
cargo cobiçado por muitos políticos, em razão do elo estratégico
que representa com entidades civis e voluntários.
Publicamente, Requião nem
sempre pensou assim a respeito
da contratação de parentes. Num
artigo publicado na Folha em
1994 intitulado "Poder Judiciário
ou governo paralelo?", o peemedebista, então no seu primeiro
mandato no governo do Paraná,
atacou juízes do Paraná que concediam decisões liminares favoráveis a candidatos a cargos no Estado que não obtivessem a nota suficiente em concursos públicos.
Embora não se referisse aos cargos de livre provimento, de confiança, Requião condenava: "Em
consequência dessas medidas, o
concurso público sério, única forma de profissionalizar o serviço
público sem nepotismo, protecionismo ou compadrio, é totalmente desvirtuado".
Na época, fato que passou longe
do seu artigo, Requião já empregava pelo menos três parentes: o
irmão Maurício, no Instituto de
Desenvolvimento de Educação
do Paraná, o irmão Eduardo, na
Secretaria de Meio Ambiente e de
Governo, e o primo Heitor Wallace, na presidência do Banestado
(Banco do Estado do Paraná).
Na a última campanha ao governo, em 2002, Requião antecipou que contrataria Maurício para a Secretaria de Educação, se
vencesse a disputa. Mas não há registro de que o então candidato
tenha avisado previamente o eleitorado sobre os outros cargos entregues a parentes.
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