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Chuva muda eleição em cidade do semi-árido
Em Tauá (CE), campanhas de candidatos a prefeito têm nova abordagem e quase ignoram o tema da seca
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A TAUÁ (CE)
Quase sempre em situação
de emergência por conta da seca, o município cearense de
Tauá vive uma campanha eleitoral atípica. O motivo não está
apenas na até então impensável
coligação dos históricos e ferrenhos adversários locais, PMDB
e PSDB, mas principalmente
pelas chuvas que atingiram o
município no início do ano e
modificaram a abordagem entre eleitor e candidato.
"Quando a estiagem está
complicada, a pidança [sic] é
muito forte. O eleitor só pede
comida, água, carro-pipa, cisterna, frente de trabalho. Com
as chuvas deste ano, o eleitor ficou mais forte, mais independente, e pode cobrar coisas
mais estruturantes, como créditos, tratores e açudes mais
fortes", afirma Neuma de Souza, 29, diretora do sindicato dos
trabalhadores rurais.
As chuvas deste ano, concentradas entre janeiro e maio, foram, em volume d'água, as
maiores registradas no município desde 1989. No semi-árido,
o período de chuvas é chamado
de "inverno". Nos últimos três
anos, Tauá foi o município do
país que mais vezes teve a situação de emergência decretada por conta da seca. Foram nove decretos reconhecidos pelo
governo federal no período.
"Mudou o perfil desse contato [entre eleitor e candidato].
[...] Com a chuva, [as famílias]
têm o que comer. Isso não acaba, mas dificulta o aliciamento
do eleitor", diz o candidato a
prefeito Ronaldo César (PDT).
O outro candidato é o advogado Odilon Aguiar (PMDB),
primo do presidente da Assembléia Legislativa do Estado, Domingos Filho, este casado com
a atual prefeita do município,
Patrícia Aguiar. Odilon tem o
apoio do PSDB e do PT, e usa as
fotos do presidente Lula e do
governador Cid Gomes (PSB)
em sua campanha.
Nas rádios, as campanhas
quase ignoram o tema da seca,
enraizado no dia-a-dia dos moradores locais e amenizado
com as chuvas deste ano.
Tauá é o segundo maior município em extensão territorial
do Ceará, com 3.940 quilômetros quadrados, equivalente a
pouco mais do que o dobro da
área da capital paulista.
Os reservatórios locais estão
cheios d'água e devem permanecer dois ou três anos nesse
nível. Apesar disso, sobram
problemas, como a falta de tubulação para distribuir essa
água na zona rural e a alta demanda por cisternas.
O lavrador Osvaldo Freitas,
29, por exemplo, caminha 5
km, toda semana, para chegar
ao açude mais próximo e pegar
água para a família.
NA INTERNET
http://campanhanoar.folha.blog.uol.com.br
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