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JANIO DE FREITAS
A orgia eleitoral
A bagunça que o segundo
turno instalou é uma exposição importante da face atual
do Brasil. Ou, o que dá quase no
mesmo, de uma das causas mais
determinantes do muito que há
de pior, em todas as direções, no
Brasil atual.
O PFL que ali diz horrores do
PT é o mesmo que acolá se abraça ao PT. O PSDB que aqui se
enlaça com o PDT é o PSDB que
ali adiante se alia a qualquer um
contra o PDT, enquanto ali se
acasala com o PT contra o
PMDB e logo ali cá dá as mãos
ao PMDB para bater o PT. O PT
que, em um lugar, acusa moralmente o competidor malufista é
o PT que aí transa à vista de todos, ao som de um tango, com
Maluf e os malufistas.
E na mesma promiscuidade
vão PCdoB, PCB, PTB, PV, falsas
esquerdas e verdadeiras direitas,
todas as siglas postas sob uma interrogação comum: trata-se de
um segundo turno eleitoral ou de
uma bacanal política?
Nenhum partido tem princípios, nenhum tem programa, nenhum tem identidade. São uns
iguais aos outros, a mesma massa politicamente amorfa e eticamente oca. E como os partidos se
compõem de políticos e políticos
são pessoas, dispensemo-nos de
dizer o óbvio.
Será talvez suficiente lembrar a
relação entre a falta orgíaca de
qualquer limite partidário (em
quase todos os casos, também
pessoal) e, de outra parte, a corrupção nas câmaras de vereadores, nas assembléias estaduais, e
o compra-e-vende de apoios tornado norma no Congresso, de
dez anos para cá, a cada votação
de interesse do governo.
A conclusão - parece ser a
única possível - é de que a
reforma primordial, a reforma para reformas verdadeiras, é a reforma política, tão
falada e nunca antevista. Mas
é claro que a reforma primordial, dignificante da política,
jamais será feita pela classe
política que se nutre das indignidades da politicagem.
É o impasse. A pretensa solução do arbítrio é a continuidade do problema com o
acréscimo de uma espada homicida na cinta. A solução
necessária, se um dia vier, virá da sociedade. Mas o sono
dos instrumentos da sociedade - as OABs, ABIs e seus
inúmeros similares - lembra
uma hibernação polar em inverno infinito.
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