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Petista quer convencer o Fundo de que contas já estão melhorando
Palocci espera que FMI não crie "constrangimentos"
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O coordenador da equipe de
transição do PT, Antônio Palocci
Filho, 42, afirmou que para o Brasil "não será bom neste momento
criar constrangimentos novos".
Palocci referia-se a uma eventual recomendação do FMI (Fundo Monetário Internacional), em
uma reunião com a equipe econômica do atual governo nesta semana, de aumentar o superávit
primário (receitas menos despesas antes do pagamento de juros).
"O mais adequado é aguardar
em vez de agravar os índices de
ajustes", disse o coordenador. Segundo ele, "para o Brasil não será
bom neste momento, que tem um
sinal positivo [da economia",
criar constrangimentos novos".
De acordo com o coordenador
da equipe de transição, "temos de
convencer o Fundo de que se desenha um novo momento". "Vai
ter melhora nas contas sem necessidade de mais aperto fiscal."
Um dos políticos mais próximos do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e cotado para assumir um ministério, Palocci recebeu a Folha às 2h30 da manhã,
logo após desembarcar de Brasília, onde participou de encontro
entre Lula e o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Cauteloso, Palocci não entra em
detalhes quando o assunto é nomes do novo governo. Mas disse
que, para a Fazenda, a tendência é
que Lula não escolha um empresário nem um técnico.
"Quem vai lidar com o Banco
Central não pode ser um bom político: tem de ser um bom profissional da área. Nos ministérios, o
tempo é outro. Pode ter perfil de
empresários. É possível. Mas não
sei se há uma tendência de o presidente eleito escolher empresário
para a Fazenda. Não me parece
que seja a tendência." Leia os
principais trechos da entrevista.
Folha - O PT irá se encontrar com
a missão do FMI que vem ao Brasil?
Antônio Palocci Filho - O governo federal, por meio do Ministério da Fazenda, nos informou da
reunião com o Fundo. Nosso entendimento é parecido com o do
governo: a expedição vem para
dialogar com o atual governo.
Qualquer procedimento que seja
necessário na atual renegociação
é com a equipe atual. Eles manifestaram que a comissão deve ter
interesse em conhecer o futuro
governo. Eu particularmente
acho que devemos agendar reunião com eles.
Folha - Quem participaria?
Palocci - Não sei. Conversarei
com o presidente [Lula" neste fim
de semana para decidir isto.
Folha - Mas nesta conversa formal, o sr. levará técnicos?
Palocci - Técnicos ou políticos.
Acho que políticos. Tem de ter
conteúdo técnico, mas é uma discussão de acordo em cima de um
projeto de ajuste que tem de ser
feito tanto no campo econômico
quanto no de estratégia política.
Folha - O fundo pode deixar a decisão sobre metas como de superávit para o ano que vem. Foi um pedido do PT?
Palocci - Nós manifestamos para
o Armínio [Fraga, presidente do
Banco Central", para o Everardo
Maciel [Receita Federal" e para o
[Pedro" Malan [Fazenda" que o
ideal seria aguardar um pouco para ver se será necessário ajustes
maiores. Como tem um período
de melhora do ambiente econômico, um pouco por causa da eleição e da expectativa do novo governo, há uma possibilidade de
desencadear um ciclo virtuoso na
economia. Os mais adequado
neste momento é aguardar em
vez de agravar os índices de ajustes para garantir equilíbrio e não
criar constrangimentos novos.
Isto eu argumentei com integrantes do governo. Eles concordam. Também acham que tem
um ambiente melhor, mas o Fundo pode ter uma outra interpretação. Eles são duros na discussão.
Folha - Mas e se eles insistirem
num superávit maior?
Palocci - Eles podem querer
agravar os instrumentos que existem. Nós já tínhamos um compromisso de fazer o ajuste que for
necessário. Mas para o Brasil não
será bom neste momento, que
tem um sinal positivo [da economia", criar constrangimentos novos. Acho que nós temos de convencer o Fundo de que se desenha
um novo momento. Na verdade,
a idéia de não mexer [no superávit", é uma idéia de apostar num
momento melhor. Acho que os
técnicos do Fundo, se verificarem
com clareza, vão ver que há um
ambiente melhor. Mas nós não
vamos renegociar com o Fundo. É
o governo atual.
Folha - O PT vai levar essa visão
de que não há necessidade de um
aperto fiscal?
Palocci - O debate que está colocado para o país hoje é de uma
tendência de melhoria do ambiente econômico. Uma tendência não, já há elementos que mostram isso. Por que você vai refazer
contas de ajuste se a perspectiva é
de que a economia começa a ter
uma recuperação? Vamos apostar
nisso. Se isso de fato se confirmar,
você terá melhora nas contas sem
necessidade de mais aperto fiscal.
Folha - Vocês já terão definido
nomes para mostrar ao fundo?
Palocci - Só se o presidente resolver na semana que vem os nomes.
Acho pouco provável. Adiantar
ao Fundo antes de mostrar ao país
é uma hipótese inexistente. Está
prevista uma visita do Horst Köhler [diretor-gerente do FMI" em
dezembro. Aí é possível que as autoridades financeiras já estejam
definidas. Será natural que conversemos sobre isso.
Folha - Qual será a cara do ministério: técnico ou político?
Palocci - Não sei qual será a preferência do presidente. Acho que
ele vai escolher nomes adequados
para as funções adequadas. Receita Federal tem de ser uma pessoa
experiente em Receita Federal.
Banco Central tem de ser uma
pessoa que saiba agir em Banco
Central. Já Ministério da Fazenda
e Tesouro têm outro perfil.
Folha - Que perfil?
Palocci - Eu costumo dizer que,
num hospital, quem faz a cirurgia
tem de ser médico, mas quem dirige o hospital não precisa ser médico. Pode ser um administrador
competente. Na área econômica
também. Quem vai lidar com o
Banco Central não pode ser um
bom político: tem de ser um bom
profissional da área. Na Receita
também. Nos ministérios, o tempo é outro. Pode ter perfil de empresário. É possível. Mas não sei
se há uma tendência de o presidente eleito escolher empresário
para a Fazenda. Não me parece
que seja a tendência.
Folha - Alguém com perfil político, do PT?
Palocci - Não saberia dizer para
onde pende o coração do presidente.
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