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CAMPANHA
Partido aumentou a previsão de gastos no Tribunal Superior Eleitoral de R$ 36 milhões para R$ 48 milhões
PT precisa de R$ 10 mi para fechar conta
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de a campanha do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da
Silva, ter sido a mais próspera em
doações da história do PT, o diretório nacional do partido ainda
precisa arrecadar cerca de R$ 10
milhões para pagar compromissos do período eleitoral. Há contas de gráfica, outdoors, produtora de TV e aluguel de jatinhos.
Quando registrou a candidatura
no Tribunal Superior Eleitoral,
em 5 de julho, o PT protocolou no
tribunal uma previsão de gastos
de R$ 36 milhões. Em outubro aumentou o teto para R$ 48 milhões.
Para se ter idéia de quanto os
gastos (e a previsão de arrecadação) do PT aumentaram, na campanha presidencial de 1998, o partido fixou um teto de R$ 15 milhões. Gastou R$ 3,9 milhões.
O valor que ainda falta ser arrecadado (cerca de R$ 10 milhões)
não foi fechado com exatidão
porque ainda está sendo feito um
levantamento do material gráfico
e promocional produzidos nos
Estados, na reta final das eleições.
Só em São Paulo, foram impressos 50 milhões de panfletos no segundo turno. O PT manteve a
mesma quantidade de outdoors
do primeiro turno: entre 700 e 800
placas a cada período de 14 dias
-no valor de cerca de R$ 800 mil.
O tesoureiro do PT, Delúbio
Soares, 47, que comandou a arrecadação dessa campanha, reconhece que arrecadar para um presidente eleito é tarefa muito mais
"delicada" do que pedir dinheiro
para um candidato.
Soares diz que sua principal
preocupação é pedir dinheiro a
pessoas e empresas que não entendam isso como um sinal verde
para, no futuro, pedir benefícios
ao governo de Lula.
A função principal da equipe de
arrecadação (cerca de 20 pessoas)
é consultar o cadastro das empresas procuradas durante a campanha pelo PT -cerca de 4.000. Nele consta a resposta dada pela empresa, quando procurada pela
primeira vez para contribuir.
"Não vamos insistir com empresas que informaram não doar por
razões institucionais", diz Soares.
Apesar de a equipe de arrecadação ter duas dezenas de pessoas, é
Soares quem está fazendo contatos com empresários e pedindo
dinheiro em nome da campanha.
A seleção de quem será procurado também é feita por ele.
Para se ter idéia da proximidade
entre ele o presidente eleito, Soares (assim como José Dirceu, o todo poderoso presidente do PT)
tem uma procuração assinada
por Lula para movimentar a conta bancária da campanha, o que
inclui fazer depósitos, saques e assinar cheques.
Soares e Lula militam juntos no
movimento sindical há mais de 20
anos. Antes de ser secretário de
Finanças e Planejamento do Diretório Nacional do PT, ele representou a CUT no Codefat, órgão
composto por governo e instituições da sociedade civil para gerir
o uso dos recursos do Fundo de
Amparo ao Trabalhador.
Soares não diz se vai pedir dinheiro a bancos. Afirma apenas
que serão aceitas contribuições
dos que "concordam com o projeto petista de redução das desigualdades sociais do Brasil". Mas
diz que as relação do partido com
esse segmento "melhorou muito"
em relação à última campanha.
O tesoureiro do PT dá pistas de
como o relacionamento ficou
mais próximo. Ele refere-se a Roberto Setubal, dono do Itaú, pelo
primeiro nome. Já João Moreira
Salles, cineasta e herdeiro do Unibanco, filma, desde setembro, um
documentário sobre Lula.
Em 1998, a única contribuição
dos bancos a Lula foi feita pelo
Itaú, no valor de R$ 175 mil. O então candidato Fernando Henrique Cardoso recebeu R$ 2,6 milhões da mesma instituição.
Um dos empresários que serão
procurados pelo PT é Samuel
Klein, 79, as Casas Bahia. No primeiro turno, ele doou R$ 50 mil,
em duas parcelas de R$ 25 mil.
Klein é protagonista de uma das
histórias mais saborosas da campanha de Lula.
A equipe de arrecadação do petista telefonou diversas vezes para
o comando das Casas Bahia, tentando chegar ao nome do executivo responsável por decidir sobre
doação. O próprio Soares ligou.
"Perdi até a conta, mas me passaram para umas 16 pessoas diferentes até que conseguimos marcar uma reunião com eles."
No dia marcado, Soares e um
assessor surpreenderam-se ao ver
o próprio Samuel Klein na sala de
reunião. O empresário perguntou
a Soares que "amigo seu" havia
indicado o petista. "Aquele ali",
respondeu o tesoureiro, apontado
para o telefone.
Soares contou a Klein todo o périplo telefônico pelo qual passara
e entregou a "caixinha" com a estrela dourada oferecida aos empresários convidados a doar. "Essa campanha de vocês vai dar certo. Eu também comecei batendo
de porta em porta e acabei criando as Casas Bahia".
Funcionou o faro do empresário que, em 1952, oferecia de porta
em porta roupa de cama, mesa e
banho em São Caetano do Sul, na
região do ABC Paulista.
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