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Compadre de Lula declara à PF que já sabia de grampo
Após alerta, Morelli avisou empresário para se cuidar no telefone e procurou petista
Ministério da Justiça diz que cabe à Polícia Federal falar sobre vazamento; assessoria da PF não
foi encontrada ontem
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A CAMPO GRANDE
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
Compadre do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, Dario
Morelli Filho, preso na Operação Xeque-Mate, disse em depoimento à Polícia Federal que
já sabia da existência de grampo em seu telefone.
Embora não tenha informado a data em que soube, Morelli
disse que foi por causa disso
que, em 16 de maio, avisou o
empresário de bingo Nilton Cezar Servo para tomar cuidado
com o que falava no telefone.
Quatro dias depois, segundo
as gravações feitas pela PF, seria a vez de Genival Inácio da
Silva, o Vavá, irmão de Lula, ser
procurado. Um homem identificado como "Roberto", que
usava um telefone fixo de São
Caetano do Sul (SP) -registrado em nome de uma dona-de-casa que nega conhecer alguém
com esse nome- ligou para dizer a Vavá que Lula o esperava
para uma reunião reservada em
Brasília. Segundo o homem, havia "uma bronca da porra". No
endereço do telefone, funciona
uma metalúrgica e não haveria
Roberto, disse um funcionário.
A Operação Xeque-Mate só
seria deflagrada em 4 de junho.
Morelli foi preso por suposta
sociedade numa casa de máquinas de caça-níqueis ilegais com
Servo, amigo de Vavá.
No depoimento à PF, Morelli
reconheceu ter sido avisado
por um suposto anônimo, que
teria ligado para seu telefone
celular "em data que não soube
precisar". No telefonema,
oriundo de um aparelho da região metropolitana de São Paulo, o homem teria dito para Morelli "tomar cuidado", pois ele
estava grampeado.
Quando ligou para Servo,
Morelli falou que havia "um pepino feio". Marcaram um encontro. À PF, Morelli admitiu
que o "pepino" era o grampo.
"Após tomar conhecimento
desta informação, como não
gostaria de ser preso, resolveu
solicitar a Nilton Cezar Servo
que não mais ligasse falando
sobre bingo, em razão de referido grampo em sua linha telefônica", diz a PF ao relatar o depoimento de Morelli.
No dia seguinte, 17 de maio,
Morelli já estava em Brasília,
numa reunião com o advogado
e ex-deputado federal Sigmaringa Seixas (PT). Os dois se comunicam por telefone, mas não
mencionam o conteúdo da reunião. Uma interceptação telefônica da PF associa a viagem à
descoberta do grampo pelo suposto informante de Morelli.
Por volta das 22h20 do dia
anterior, 16, Servo, que pouco
antes fora alertado por Morelli
sobre os grampos, telefonou
para sua mulher, Maria Dalva
Cristina. Em sussurros, contou
que Morelli não aparentava ter
ficado preocupado com o grampo, embora decidisse ir a Brasília para encontrar o ex-deputado Sigmaringa. Pretendia, segundo Servo, que acompanhou
Morelli na viagem, "fazer um
escândalo". Servo alegou que os
grampos eram "de Brasília".
Depois da descoberta do
grampo, a PF interceptou apenas duas conversas entre Servo
e Morelli -numa delas Morelli
usava o telefone do próprio
Servo, numa conversa com o filho do empresário, Servo II.
No dia 31 de maio, nova ligação mostra, segundo a PF, que
Servo tentou transferir cinco
máquinas caça-níquel de Ilhabela para Campo Grande (MS).
O inquérito não aponta a origem do vazamento de informação que pode ter beneficiado
Morelli. O Ministério da Justiça afirmou, por meio de sua assessoria, que cabe à PF fazer comentários; a assessoria da polícia não foi encontrada ontem.
O advogado de Servo, Eldes
Rodrigues, disse que o fato de
Morelli ter alertado Servo sobre o grampo não caracteriza
vazamento. Segundo ele, "há
muito tempo" Servo desconfiava de interceptações. O advogado de Morelli, Milton Fernando Talzi, reafirmou o depoimento de seu cliente.
Colaboraram a Sucursal de Brasília
e a Reportagem Local
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