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BASTIDORES
Coordenação política da campanha tucana desagrada a aliados e acelera defecções de lideranças regionais
Disputa interna corrói candidatura Serra
RAYMUNDO COSTA
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O desmanche de palanques estaduais de José Serra reflete, além
de uma crise política, uma crise
interna mal contida nos limites
dos bastidores da campanha do
candidato da coligação PSDB-PMDB à Presidência.
O núcleo mais próximo a Serra
reconhece que a campanha começou errada. No meio político, são
duas as queixas mais frequentes: a
característica centralizadora de
Serra e a falta de empenho do
coordenador político, o deputado
Pimenta da Veiga (PSDB-MG).
O diagnóstico é preciso. Os
exemplos não são poucos. Um líder governista, por exemplo, por
dois dias seguidos telefonou seis
vezes para Pimenta. Ainda aguarda o retorno das ligações.
O PMDB se queixa do aproveitamento de Rita Camata (ES) na
campanha. Ela era a única candidata a vice ausente no debate dos
presidenciáveis realizado domingo passado na TV Bandeirantes.
Ninguém a avisou.
Em tese, a iniciativa deveria ser
do coordenador político. Mas
nem o próprio Serra pode ser
isentado dos atropelos da campanha. Veja-se o caso da apresentação do programa de governo.
Serra se comprometera a lançar
o programa na quarta. Perfeccionista, queria mais uma vez conferir o texto. O adiamento do lançamento do documento chegou a
ser anunciado. Aborreceu PMDB
e PSDB. O núcleo mais próximo
do candidato resolveu pressioná-lo. O documento saiu na data
marcada, mas ninguém avisou os
políticos. Àquela altura, eles já haviam gritado à imprensa. Outra
crise criada de dentro para fora.
Um candidato do PMDB a um
governo estadual queixa-se por
nunca haver recebido um telefonema de Pimenta, quando ele, como chefe político da campanha,
deveria ser o primeiro a levar otimismo para a candidatura.
Por "começo errado", conforme o diagnóstico do núcleo próximo a Serra, entenda-se a escalação da equipe de campanha. Pimenta, que era contrário à candidatura Serra, foi imposto pelo Planalto para a chefia.
Para ser o homem-forte do comitê foi chamado Milton Seligman, uma espécie de curinga do
governo, tendo ocupado interinamente desde o Ministério da Justiça ao do Desenvolvimento.
O diagnóstico no grupo fiel a
Serra não tardou: Pimenta demonstrava "desinteresse". Seligman, o coordenador-executivo,
não decidia e demonstrava pulso
fraco. A equipe de comunicação,
importada do Rio, não conhecia
os jornalistas de Brasília.
Logo a equipe que comandou a
reeleição de Fernando Henrique
Cardoso estava se sobrepondo ao
grupo inicial. Surpreendentemente, a chegada de Nizan Guanaes foi bem absorvida pelo publicitário Nelson Biondi e pelo
próprio Serra.
Mas Marcos Coimbra, do Vox
Populi, encarregado das pesquisas, não engoliu a chegada do sociólogo Antônio Lavareda para
fazer o mesmo trabalho. Foi parar
com Ciro Gomes (PPS).
O próprio Lavareda, mais recentemente, revelou-se incomodado com os rumos da campanha. Além disso, era pressionado
por Tasso Jereissati (PSDB-CE) e
Roseana Sarney (PFL-MA), seus
antigos clientes, a trocar de canoa.
Negociou e vai ficar.
Mas faltava um nome que fosse
a tradução de Serra na campanha.
O candidato foi buscá-lo no governo, onde era secretário de Comunicação: João Roberto Vieira
da Costa. Novo problema: Seligman e Pimenta perceberam que
perderiam poder e não engoliram. Seligman fez de tudo para
que João Roberto fosse nomeado
chefe da assessoria de imprensa.
Para não ferir suscetibilidades,
João Roberto foi para o comitê
com o título de coordenador da
área de comunicações.
Pimenta atribuiu a mudança a
uma manobra do PMDB. Queria
pular fora. Ficou. Segundo a Folha apurou, João Roberto disse a
Pimenta que seu problema não era sair, mas entrar na campanha.
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