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LIVROS
Serra publica biografia autorizada
RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL
"Sempre compartilhei a reflexão de Borges de que ninguém
tem o sucesso que acredita nem
fracassa como imagina", diz José
Serra no livro-entrevista "O Sonhador que Faz", a ser lançado
em São Paulo nesta quarta-feira.
"Sempre consegui energia para
enfrentar adversidades. Amigos
acham que sou melhor na adversidade do que na prosperidade."
O leitor faz conexão entre a frase
e o atual momento da campanha
presidencial do tucano. Só o tempo dirá até que ponto a adversidade se explica por características
do próprio Serra e em que medida
se deve ao ambiente desfavorável
a uma candidatura, qualquer que
fosse, do governo.
A obra resulta de mais de duas
dezenas de sessões de entrevistas
dadas ao jornalista Teodomiro
Braga a partir de junho de 2001.
Como em todo livro de candidato, há pouco espaço para espírito crítico. Na introdução, Braga
diz que a biografia do senador
"não registra contradições". Não
é que tenha poucas, o que já seria
meritório. "Não registra."
O autor avisa que evitou entrevistas "cheias de questionamentos". Assim, Serra fica à vontade
para ser reticente sobre episódios
que mereceriam análise, como a
recusa de Mário Covas em apoiar
sua candidatura. "Não houve nenhum desentendimento."
O mesmo ocorre quando avalia
suas relações com a imprensa, tão
próximas quanto conturbadas.
Sua queixa, diz, limita-se à divulgação de "fatos que não aconteceram" -nada mais justo. No mais,
considera-se "tolerante" com as
críticas -autoavaliação que a
história não respalda.
Descontadas as limitações inerentes ao propósito do livro, são
vários os seus méritos. A começar
pela maneira como Serra se expressa, ressaltada pelo formato
"pingue-pongue". As respostas
são bem articuladas e ao mesmo
tempo diretas, nada rebuscadas.
E não lhe faltam histórias para
contar: da presidência da UNE,
do exílio no Chile, dos trabalhos
na Constituinte, do governo FHC,
de suas idéias sobre o Brasil.
E da vida pessoal. O menino
criado na Mooca era "bonzinho
em casa, briguento na rua e barulhento na escola". No futebol,
"não era bom para driblar, mas
para desarmar adversários". O
adulto reservado lamenta não ter
dedicado mais tempo aos filhos.
Serra conta ter ouvido de um dirigente partidário "que as pessoas
não votariam em mim por causa
do meu excesso de didatismo". E
pergunta, em referência a quem
lhe fez o comentário: "Não é um
país esquisito, o nosso?"
Há tanto tempo ele se prepara
para ser presidente que é difícil
não imaginá-lo, nos últimos dias,
achando tudo muito esquisito.
O SONHADOR QUE FAZ
Autor das entrevistas: Teodomiro Braga
Editora: Record
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