|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
52 agentes da Abin foram
usados na
Satiagraha
MARIA CLARA CABRAL
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O diretor do Departamento
de Contra-Inteligência da Abin
(Agência Brasileira de Inteligência), Paulo Maurício Fortunato Pinto, revelou ontem em
depoimento na CPI dos Grampos que 52 agentes do órgão
atuaram durante quatro meses
na Operação Satiagraha, da Polícia Federal. Até então, a Abin
admitia apenas "colaboração"
com a PF e "participação eventual" de seus servidores.
Com a voz embargada, Fortunato responsabilizou o delegado Protógenes Queiroz por
"descontroles" ocorridos durante a Satiagraha, inclusive
em eventuais escutas telefônicas clandestinas, e criticou a
participação do agente aposentado do SNI (Serviço Nacional
de Inteligência) Francisco Ambrósio de Nascimento na operação. Segundo ele, Queiroz
"usou várias estruturas oficiais
e, pelo que estamos tomando
conhecimento, não oficiais".
O diretor da Abin caiu em
contradição ainda ao falar sobre Ambrósio. Questionado se
conhecia o agente aposentado,
disse que sim, mas que não o via
há mais de dez anos. Mais tarde, questionado se os dois tinham se encontrado na última
sexta-feira, confirmou.
Fortunato disse que procurou Ambrósio quando soube da
reportagem da revista "Isto É",
que apontou o agente da SNI
como responsável por coordenar a realização de escutas
clandestinas contra autoridades, entre elas o ministro do
STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes.
No início do depoimento, o
diretor da Abin disse que os
agentes emprestados só ajudaram em trabalhos pontuais e
simples, como levantamentos
de dados na internet. A versão
não convenceu os deputados.
Segundo o diretor da Abin,
além de quatro agentes que trabalharam em Brasília durante a
Satiagraha, outros 48, em diversas turmas e turnos, ajudaram as investigações no Rio e
em São Paulo. Ainda de acordo
com ele, a atuação dos agentes
custou cerca de R$ 250 mil.
Fortunato disse que a participação dos agentes foi aprovada pelo diretor afastado da
Abin, Paulo Lacerda. Em seu
depoimento à CPI, Lacerda não
deu detalhes de quantos agentes participaram da Satiagraha
e disse não ter recebido informações sobre a operação.
Em nota divulgada no dia 14
de julho, a Abin informou que a
"Direção Geral não tem e não
teve nenhuma participação ou
iniciativa, muito menos ingerência, nos fatos que resultaram na referida operação policial." Também em depoimento,
Protógenes disse que apenas
"alguns membros da Abin" participaram da Satiagraha.
Fortunato se responsabilizou pela coordenação dos agentes, mas negou qualquer ligação
deles com Ambrósio, o ex-agente do SNI. Disse que os homens da Abin não sabiam quem
eram os alvos finais da operação e que recebiam ordens diretas de Protógenes.
Integrantes da CPI ficaram
irritados durante o depoimento. O presidente da comissão,
Marcelo Itagiba (PMDB-RJ),
chegou a dizer que a CPI pode
propor a extinção do órgão.
Texto Anterior: Saiba mais: Maleta e aparelho para varredura causam confusão Próximo Texto: Beneficiados pelo STJ respondem por 245 crimes Índice
|