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na estrada
Na cidade com menor renda, voto é trocado por telhas
Sem citar nomes, quatro candidatos confirmam compra de voto e dizem que eleitores também pedem dinheiro para pagar contas
HUDSON CORRÊA
ENVIADO ESPECIAL A CENTRO DO
GUILHERME (MA)
Segundo todos os candidatos
na disputa, a intenção de voto
para prefeito é trocada por uma
porção de telhas e de tijolos em
Centro do Guilherme (MA),
município com menor renda e
expectativa de vida do país,
conforme o IDH-M (Índice de
Desenvolvimento Humano
Municipal).
A primeira a dizer que há
compra de votos é a prefeita
candidata à reeleição, Maria
Irene de Araújo Sousa, 49,
(PRB). "O negócio são telhas,
tijolos e cimento. Pode olhar o
tanto de construções novas por
aí na cidade", diz a prefeita.
A candidata Maria Deusdete
Lima, 29, a Detinha (PR), vai na
mesma linha. "Tem pessoas
que dizem: Detinha, eu sei que
realmente precisa de uma mudança [na prefeitura], mas eu
vou votar em fulano porque ele
me deu um metro de telha", diz.
"Dizem: só [voto] se [eu receber as telhas] antes da eleição,
porque depois eu não confio.
Quer dizer, não acreditam que
essa pessoa [candidato] vai lhe
dar um milheiro de telha, que
custa R$ 350, depois da eleição.
Mas confia em entregar o município por quatro anos", diz.
E quem oferece o milheiro de
telha? "Deus me livre se eu te
contar. Eu não vou falar de ninguém", diz Detinha.
O IDH-M é um índice da
ONU, com base em dados do
IBGE, para avaliar as condições
de vida da população. Em 2000,
ano em que os dados foram tabulados pela última vez, cada
morador de Centro do Guilherme sobrevivia com renda mensal de R$ 28,3, enquanto a esperança de vida era de 54,3 anos.
A prefeita acusa Detinha de
comprar votos. A candidata nega. Embora descreva com detalhes o negócio dos votos, Irene
disse não ter provas para denunciar o caso à Justiça.
"Aqui eles compram as carreiras de telhas e tijolos, entregando à meia-noite para as pessoas. A compra de voto continua. Eles pegam logo o número
do título de eleitor da pessoa.
Dizem: se você não votar em
mim, estarei sabendo. Intimidam as pessoas", afirma Irene.
O agricultor Elias Pessoa, 58,
é um dos que estão construindo
casas na cidade. Ele nega que
tenha recebido material de
candidatos, mas diz que "tem
gente [eleitores] que pede dinheiro, a mola do mundo".
Dinheiro, além de tijolos e telhas, está entre as solicitações
de eleitores, segundo a prefeita.
"Eles pedem para pagar prestação de [antena] parabólica, de
geladeira, de rádio e até de carro. Outro diz: só dou [o voto] se
me der uma bicicleta. Outro diz
assim: só vou votar se me der
2.000 telhas."
Presidente do PDT municipal, Marcelino Alves da Silva,
64, diz que "a conversa [sobre
compra de votos] é muito forte
aqui". O candidato pedetista é
Antônio Andrade, 45. O quarto
candidato é o ex-prefeito
(1997-2004) Kleidson Evangelista (PMDB), 33. Um assessor
dele, sem afirmar quem compra votos, disse que materiais
de construção têm sido dados a
eleitores. Kleidson não quis falar com a reportagem.
Centro do Guilherme exibe
portas de comércio fechadas,
ruas sem asfalto e casas de barro. Na avenida principal o movimento maior é o de caminhões carregados com toras
das sete madeireiras locais.
NA INTERNET
http://campanhanoar.folha.blog.uol.com.br
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