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ELEIÇÕES 2008 / RIO DE JANEIRO
Tráfico e milícia cobram até R$ 30 mil de candidatos
Políticos que não pagam o "pedágio" são proibidos de entrar nas favelas para pedir votos
A partir de hoje, tropas do Exército e da Marinha vão ocupar 27 "currais eleitorais" identificados pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Traficantes e milicianos estabeleceram tabelas de pedágio
para candidatos às eleições de
outubro fazerem campanha
nas favelas que controlam. O
preço varia de R$ 10 mil (para
pequenas comunidades) a R$
30 mil (locais de médio porte).
Sem pagar, os postulantes
são proibidos de entrar nas localidades para pedir votos e
pregar cartazes nas casas.
Segundo relatos à Folha de
dois candidatos a vereador
(que não se identificaram temendo represálias), a prática
ocorre nas favelas de São Carlos (Estácio, centro), Turano e
Borel (Tijuca, zona norte),
Tuiuti (São Cristóvão, norte),
Dendê (Ilha do Governador,
norte) e Terreirão (Recreio,
oeste), dominadas pelo tráfico;
e Guaporé (Brás de Pina, norte)
e Barbante (Campo Grande,
oeste), dominadas por milícias.
A partir de hoje, tropas do
Exército e da Marinha vão ocupar 27 comunidades identificadas pelo Tribunal Regional
Eleitoral como "currais eleitorais". Das citadas acima, só a do
Barbante está entre as que receberão o apoio militar. A presença dos soldados poderá permitir (por três dias) a circulação de candidatos nos locais.
Outros "serviços"
Segundo os candidatos, que
disseram não ter pago o valor
aos criminosos, o dinheiro é
apenas um pedágio para o grupo que controla o lugar: qualquer outro "serviço" (como fixação de placas) é pago à parte.
Um candidato revelou que
em uma das comunidades ele
chegou a ir um dia para fazer
campanha, mas desistiu após
ouvir do líder comunitário que
o tráfico exigira o "arrego"
[propina] para permitir a sua
entrada. Ele já tinha acertado
até a cooperação dos moradores, mas desistiu ao ouvir que
ele teria de pagar R$ 15 mil.
Outra exigência é que a mão-de-obra contratada para atuar
na campanha, dentro e fora da
favela, seja local. Portanto, é
necessário pagar a trabalhadores da comunidade para fazer a
propaganda, espalhar cartazes
e acompanhar o candidato.
Em uma espécie de tabela informal, o mercado eleitoral do
Rio estabelece o valor de R$
100 por semana por colaborador. O mesmo valor é cobrado
para fixar uma faixa ou placa na
casa de alguém.
Motoristas também estão
alugando até o vidro de trás dos
carros para serem ocupados
por adesivos perfurados com
propaganda eleitoral, também
ao custo de R$ 100.
"Gato placa"
Com carência de recursos,
muitos candidatos ao cargo de
vereador estão apelando para o
que chamam de "gato placa".
Eles pagam de R$ 50 a R$ 70
para responsáveis por tomar
conta de placas de candidatos a
prefeito ou a vereador de campanhas mais ricas vigiarem
também o seu painel.
Pela "tabela", os trabalhadores recebem em média R$ 100
por semana para cuidar das
placas de candidatos. Com isso,
o político economiza e não deixa a placa sem vigilância, o que
é proibido e pode ser alvo de
vandalismo.
A expressão "gato placa" surgiu da adaptação do termo "gato", furto de energia elétrica, e
ganhou força com a proliferação de "gato net", furto de sinal
de televisão a cabo.
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