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BRASIL PROFUNDO
Falta de acesso pavimentado deixa 80 mil pessoas, em 37 cidades do Estado, fora de programa de distribuição
Estrada precária tira leite de pobre em MG
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
A falta de infra-estrutura básica
no Brasil compromete não apenas a expansão da economia do
país. Afeta também um dos principais projetos do governo Lula,
que é o de alimentar os mais pobres. Em 37 municípios de Minas
Gerais, cerca de 80 mil pessoas
-20 mil famílias- com renda
familiar de até meio salário mínimo (R$ 130,00) estão fora do programa de distribuição de leite por
falta de estradas pavimentadas.
O programa Leite pela Vida nas
quatro regiões mais pobres do Estado, entre elas o Vale do Jequitinhonha, foi lançado na cidade de
Montes Claros, no último mês de
março, pelo então diretor-gerente
do FMI, Horst Köhler, e pelo ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, cuja pasta financia 85% do programa, gerido
pelo governo de Minas.
Como o leite é um produto perecível, com um prazo de validade
máximo de dois dias, desde que
devidamente resfriado, é fundamental distribuí-lo rapidamente.
E é justamente nas regiões mais
pobres de Minas que estão os 224
municípios sem ligação asfáltica.
Mesmo nas 163 cidades em que o
leite está chegando, há dificuldades de tráfego dos caminhões das
22 cooperativas conveniadas, que
são encarregadas de recolher,
processar e distribuir o produto.
O custo estimado pelo governo
de Aécio Neves (PSDB) para pavimentar as estradas de acesso dessas cidades é de R$ 465 milhões.
São 5.700 quilômetros de estradas
de terra a serem asfaltadas.
O Estado diz ter a garantia de financiamento de US$ 100 milhões
pelo BID (Banco Interamericano
de Desenvolvimento), mas cobra
o aval necessário da União para o
Senado aprovar o empréstimo.
Os R$ 300 milhões do BID representam cerca de 0,4% do superávit primário (diferença entre receitas e despesas, exceto o serviço
das dívidas) que a administração
Lula projeta para este ano. É com
esse superávit que o governo faz o
pagamento das suas dívidas.
O Leite pela Vida vai custar neste ano R$ 23 milhões. Têm direito
ao produto famílias com crianças
de seis meses a seis anos, gestantes e idosos. São 2.400 produtores,
com cinco vacas em média e produção de até cem litros de leite ao
dia, que recebem R$ 0,50 por litro.
Outros R$ 0,50 vão para as cooperativas. As famílias beneficiadas
são 82 mil -330 mil pessoas.
"Se tivesse acesso pavimentado,
teríamos condições de colocar o
leite em todas as cidades [200]. É
um programa importante, que,
além do alimento, gera emprego e
renda na própria região", disse
Luiz Henrique Santiago, coordenador do programa, vinculado à
Secretaria para o Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha e
Mucuri e do Norte de Minas.
Segundo ele, a pasta faz também
um trabalho para tentar reativar
antigas cooperativas de leite nas
cidades mais afetadas e, assim,
possibilitar o acesso ao produto.
Outro lado
O Ministério do Desenvolvimento Social disse, por meio de
sua assessoria, que o problema de
infra-estrutura viária nas regiões
pobres de Minas, com prejuízo ao
Leite pela Vida, nunca foi comunicado pelo governo estadual.
Na pasta dos Transportes, a assessoria disse que "o governo está
consciente de que tem de investir
muito em infra-estrutura, com o
apoio de Estados e municípios" e
que estes receberam no primeiro
semestre a primeira parcela da Cide (a contribuição sobre combustíveis) para obras em estradas.
O governo mineiro afirmou que
os recursos da Cide foram usados
na recuperação de rodovias estaduais. Nas regiões pobres sem estradas pavimentadas, o governo
está usando recursos próprios,
mas diz depender do empréstimo
do BID para concluir o trabalho.
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