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NO PLANALTO
Dinheiro sujo do Brasil migra para a Costa Rica
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dinheiro roubado é como
pasta de dente espremida.
Uma vez saqueado, é difícil, muito difícil, dificílimo fazê-lo retornar ao tubo.
O leitor já deve ter ouvido falar
em João Arcanjo Ribeiro. Aqui
mesmo, neste retângulo, foi mencionado algumas vezes.
Anjo superior da criminalidade, Arcanjo fez fortuna no ramo
do jogo ilegal e do tráfico de armas. Tornou-se generoso provedor de arcas eleitorais mato-grossenses. Delinqüiu incólume por
duas décadas.
Mato Grosso o tratava com jucunda reverência. Ainda conserva o título informal de "comendador". Signo da influência que costumava exercer.
O prestígio do "comendador"
tem lastro monetário. Relatório
secreto da Receita Federal informa que Arcanjo movimentou R$
1 bilhão na rede bancária entre
1997 e 2001.
O império do anjo do mal transpôs oceanos. Possui vistoso hotel
na Flórida (EUA). Coisa avaliada
em US$ 45 milhões.
De resto, escondeu dinheiro em
casas bancárias estrangeiras.
Tem algo como US$ 20 milhões
nos EUA; cerca de US$ 10 milhões
no Uruguai; US$ 600 mil na Suíça.
Sujo, o dinheiro de Arcanjo foi
tingido de branco em transferências ilegais que o "poder" público
brasileiro não logrou farejar. Um
acinte.
Em dezembro de 2002, Arcanjo
foi sentenciado a 37 anos de cana.
Fugiu. Alcançaram-no no Uruguai. Encontra-se recolhido a um
cárcere de Montevidéu.
Junto com ele foi detida a mulher e sócia Silvia Chirata Arcanjo Ribeiro. Seu contador, Luiz Alberto Dondo Gonçalves, está encarcerado em Mato Grosso. O gerente de seus negócios, Nilson Roberto Teixeira, também desceu ao
xilindró.
Negocia-se a extradição de Arcanjo. Obteve-se vitória parcial
na primeira instância da Justiça
uruguaia. Arcanjo recorreu da
decisão. Endinheirado, serve-se
de caros advogados.
Os bens do "comendador" foram indisponibilizados pela Justiça brasileira. A sentença transitou em julgado. Ou seja, não há
mais possibilidade de recurso.
Valendo-se de tratados internacionais, Brasília tenta pôr as
mãos nas receitas do hotel de Arcanjo na Florida. Pleiteia também a repatriação de "sua" fortuna.
Simultaneamente, o Ministério
Público trava com Arcanjo, na
Justiça Federal de Mato Grosso,
uma guerra para reverter o patrimônio ilegal em benefício do Estado.
Derrotado em primeira instância, o incan$ável "comendador"
ajuizou recurso, ainda pendente
de julgamento.
Por ora, os cofres públicos não
viram a cor de nenhum centavo.
Pior: relatório confidencial arquivado no Ministério da Justiça informa que a dinheirama começa
a escorrer pelos desvãos do sistema financeiro internacional.
A peça foi redigida pela Interpol. Num instante em que se imaginava que o grupo de Arcanjo estivesse desarticulado, o texto traz
à tona uma nova personagem.
Chama-se Kely Arcanjo Ribeiro,
26. É filha do "comendador".
Mudou-se em segredo para o
Uruguai. Devagarinho, vai assumindo as finanças da quadrilha.
Kely visita o casal Arcanjo com
freqüência na cadeia. Bem orientada, promove a migração da
grana suja para um destino de
aparência insuspeita: Costa Rica.
Segundo a Interpol, Kely se move em ritmo frenético. Transita
pelo Brasil, Uruguai e Costa Rica.
Tentou entrar nos EUA. Foi retida na aduana e deportada.
Kely conta com assessoria financeira de peso. Teria realizado
com sucesso as primeiras transferências monetárias para a Costa
Rica. Tornou-se ré em inquérito
tocado pela Polícia Federal. Reuniram-se evidências de que opera
uma lavanderia de dinheiro.
Há um mês, o juiz federal Julier
Sebastião da Silva decretou a prisão de Kely. Deseja podar-lhe os
movimentos. A filha de Arcanjo
está foragida. Seu destino é desconhecido.
O Ministério da Justiça foi acionado para requisitar ao governo
da Costa Rica informações sobre
o número de vezes que Kely ingressou naquele país. Solicitará
também dados acerca das contas
bancárias que já teriam sido
abertas.
O brasileiro costuma soltar rojões sempre que um criminoso
graúdo como Arcanjo vai aos grilhões. Melhor, como se vê, guardar os fogos. Antes da recuperação da grana, a prisão não é senão uma vitória de Pirro.
Suicídio coletivo: essas pessoas
que vivem denegrindo a imagem
do Congresso brasileiro deveriam
ser processadas. É pena que disponham de imunidade parlamentar.
Conforme previsto aqui há uma
semana, o Senado aprovou a indicação de Luiz Otávio (PMDB-PA) para o posto de ministro do
TCU. Se passar pela Câmara, o
que é bastante provável, ele será
finalmente nomeado por Lula.
Passará a ocupar simultaneamente duas cadeiras. Acumulará
os assentos de membro do Tribunal de Contas e de réu em processo que corre no STF. Será juiz e
suspeito.
Luiz Otávio é acusado de profanar as arcas públicas em R$ 13
milhões. Sua indicação é a prova
de que instituições como o Congresso também cometem suicídio.
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