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Vavá admite contato com empreiteiro e fazendeiro
Em depoimento à PF, ele disse que fazia "intermediações para ajudar as pessoas"
Os favores seriam pedidos ao empresário de bingos, Nilton Cezar Servo e, depois, transmitidos para o irmão do presidente da República
Jorge William - 31.dez.2002/Agência O Globo
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Os irmãos de Lula Jaime (esq.) e Vavá (centro) no Réveillon |
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A CAMPO GRANDE
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
No depoimento que prestou
à Polícia Federal em São Bernardo do Campo (SP) no último dia 4, o irmão do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, o aposentado Genival Inácio da Silva, o Vavá, reconheceu ter se
encontrado com um empreiteiro e com um agropecuarista flagrados em conversas telefônicas pedindo favores ao empresário de bingos Nilton Cezar
Servo. Vavá, contudo, disse não
ter recebido nenhum dinheiro
por esse trabalho.
O irmão do presidente reconheceu ter pedido emprestado,
"uma única vez", R$ 2 mil para
Servo, "para pagar uma conta".
Em contradição com o que diz
Servo a interlocutores diversos
nos telefonemas grampeados
pela PF, Vavá disse que esses
pedidos não foram freqüentes.
"[Vavá declarou] ter feito essas intermediações apenas para ajudar as pessoas, sendo que
nunca recebeu dinheiro por isso", registra o depoimento, que
integra o inquérito da Operação Xeque-Mate, desencadeado pela PF de Mato Grosso do
Sul para investigar máfias de
caça-níqueis.
A Folha teve acesso a trechos do depoimento, sob sigilo
na Justiça Federal. Com sete
páginas ao todo, foi prestado
durante duas horas na presença de quatro agentes federais e
de dois parentes de Vavá. Os
policiais tocaram trechos dos
telefonemas grampeados.
Vavá informou ter apresentado o fazendeiro identificado
como André, de Assis, no interior de São Paulo, a um advogado amigo seu de Brasília, chamado Sílvio - anteontem, o
advogado Sílvio Assis, de Brasília, reconheceu ser a pessoa
que conversa com Vavá em outra ligação interceptada.
"[Vavá] não presenciou as
conversas entre os mesmos",
disse o aposentado. André, de
acordo com as conversas interceptadas pela PF, queria reverter uma decisão no STJ (Superior Tribunal de Justiça) vencida pela Usina Maracaí. A ação
previa o pagamento de uma indenização de R$ 13 milhões.
Vavá também disse ter se encontrado uma única vez com o
empreiteiro "Acássio", que disse ser do ramo de terraplanagem, num restaurante em São
Paulo, na companhia de Nilton
Cézar Servo. Segundo a PF, o
empreiteiro pretendia obter
contratos em órgãos públicos
não especificados. Apesar dos
encontros, Vavá nega ter exercido lobby em órgão públicos.
"Nunca solicitou dinheiro a
"Acássio" por motivo nenhum",
declarou Vavá.
Ele disse à PF que "nunca defendeu interesses de Nilton em
órgãos públicos e nunca solicitou dinheiro para tal atuação".
O aposentado afirmou ainda,
como já havia dito no último
domingo seu advogado, Nelson
Passos Alfonso, que não reconhecia a voz da pessoa identificada primeiramente como
"Roberto", que dizia falar em
nome de Lula e pedia que Vavá
fosse a Brasília para uma reunião reservada. Anteontem, o
outro irmão de Lula, José Ferreira da Silva, o "Frei Chico",
apresentou-se à imprensa como sendo o "Roberto".
A reportagem apurou que a
página final do depoimento foi
dedicada a perguntas sobre suposto conhecimento de Lula
das atividades de Vavá e de
suas relações com outros investigados, como Dario Morelli
Filho. A Folha não teve acesso
a essas respostas.
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