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Gado de Renan é um dos mais valorizados do país
Senador deve ter vendido rebanho a um preço superior ao do mercado paulista
Vacas do senador também têm taxa de fecundidade -86%- acima da média de fazendas com a tecnologia mais avançada no Brasil
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O gado criado por Renan Calheiros (PMDB) em Alagoas teve um valor médio unitário nos
últimos quatro anos maior do
que o originário de São Paulo.
O Estado de Alagoas era tido
como "zona de risco desconhecido" para febre aftosa até 2005
-período em que ele obteve os
melhores preços para os seus
bois: R$ 69,3 por arroba. Em
São Paulo, onde a doença é controlada com vacinação, a média
de venda da arroba do boi gordo
nesse ano foi de R$ 61,1.
Os dados fornecidos pelo
presidente do Senado mostram
que seus bois foram vendidos,
em média, por R$ 59,40 a arroba de 2003 a 2006. Nesses mesmos quatro anos, gado produzido em São Paulo foi comercializado por R$ 57,20 a arroba.
Essa alta lucratividade resultou num faturamento de R$
1,920 milhão para Renan Calheiros em suas fazendas alagoanas em quatro anos. Esse
dinheiro é o álibi principal do
senador para justificar rendimentos compatíveis com a
pensão que pagou, em dinheiro
vivo, à jornalista Mônica Veloso -com quem tem uma filha.
A Folha consultou especialistas em agronegócio que aceitaram analisar os dados conhecidos de Renan. As conclusões
são duas: 1) é necessário haver
mais informações para uma
análise definitiva a respeito da
veracidade da versão do senador e 2) se forem reais, os resultados colocam o político alagoano como um dos mais bem-sucedidos pecuaristas do país.
Há alguns dias a Folha vem
requerendo cópias dos recibos
de transações agropecuárias de
Renan, mas ele e seus advogados se recusam a franquear o
acesso aos documentos. "Todos os esclarecimentos foram
dados ao corregedor e ao Conselho de Ética, detalhadamente", disse anteontem Renan.
Nos papéis, Renan aparece
como grande empresário. Suas
vacas têm uma taxa de fecundidade altíssima na comparação
com a do Brasil. Nas fazendas
de Renan em Alagoas, 86% das
vacas geraram bezerros em
2006. A média nacional em fazendas de boa tecnologia é de
73% para a chamada "taxa de
desmame", segundo a consultoria Agra FNP Ltda.
Em 2005, o percentual não
foi bom para os padrões de Renan, mas ainda assim a taxa de
fecundidade foi de 71,3%. Em
2004, quase um fenômeno:
90,8%. Esses percentuais são
apenas uma aproximação do
que de fato deve acontecer nas
propriedades rurais do presidente do Senado. Não é possível relatar com precisão o sucesso na fecundidade de suas
vacas porque Renan não apresentou ainda em público detalhamento de quantos machos e
fêmeas há em seu plantel.
Sobre 2006, disse apenas ter
iniciado o período com 1.742
cabeças. Em geral, os rebanhos
se dividem à metade, entre machos e fêmeas. A valer essa regra, Renan pode ter começado
o ano com 871 bois e 871 vacas.
Como em 2006 as fazendas de
Renan assistiram ao nascimento de 751 bezerros, conclui-se
que 86% das 871 vacas pariram
com sucesso nesse período.
Essa taxa de fecundidade é
rara no Brasil, mesmo em fazendas nas quais são usadas
técnicas sofisticadas, como inseminação artificial e escolha
rigorosa das matrizes.
Colaborou SILVIO NAVARRO,
da Sucursal de Brasília.
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