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Câmara quer iniciar hoje a votação da reforma política
Bancadas se dividem sobre a adoção do voto em lista e do financiamento público
Relatório de Ronaldo Caiado prevê volta dos showmícios, que foram proibidos no ano passado, e fim da prestação de campanha pela internet
FÁBIO ZANINI
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Câmara dos Deputados
marcou para hoje o início da
votação da reforma política, em
meio à divisão das maiores bancadas quanto aos principais
pontos da proposta: a instituição do voto em listas partidárias e o financiamento público.
Faz 13 anos desde que as primeiras discussões sobre o tema
começaram na Casa. Nesse intervalo, a reforma política entrou e saiu de pauta inúmeras
vezes, sempre apontada, a cada
novo escândalo, como panacéia
para os males da política.
As crises recentes contribuíram para dar o empurrão que
faltava aos deputados para encarar o tema. A partir das 9h de
hoje, os 513 deputados começarão o que promete ser uma maratona de discussões acaloradas que atravessará o dia.
"Esse tema não pode ficar
circulando indefinidamente
pela sociedade brasileira, e todo mundo fala que é importante, que é fundamental, mas
nunca se vota", disse o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). A sessão deve
ser longa e tumultuada. Não
bastasse a divisão sobre pontos
cruciais do projeto, há muitas
dúvidas ainda a serem sanadas.
O relatório do deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) traz o
risco de retrocesso em vários
pontos. Ele prevê, por exemplo,
a volta dos showmícios, que foram proibidos por uma mudança na lei no ano passado, e o fim
da prestação de contas de campanhas mensal, pela internet.
A votação da reforma seguirá
uma lógica arriscada, definida
ontem de manhã em reunião
pelos líderes partidários. Os
pontos irão em ordem decrescente de dificuldades.
Assim, o voto em listas, pelo
qual o eleitor escolheria não
mais candidatos, mas partidos
nas eleições proporcionais, será o primeiro. Não há consenso
em praticamente nenhum partido sobre este item, mas líderes no Congresso ontem apontavam uma tendência favorável
à aprovação da medida.
No PT, PMDB e PSDB, 60%
das bancadas apóiam a lista. No
DEM, haveria 80% de posições
favoráveis. Mas em partidos
médios como PTB, PP, PR e
PDT, a maioria é contra a mudança. "Essa matéria chegou ao
plenário sem ser amaciada nas
comissões. A discussão vai ser
longa", disse o líder do PTB, Jovair Arantes (GO). "O resultado
é imprevisível", diz o líder do
PT, Luiz Sergio (RJ).
Quem defende as listas alega
que os partidos se fortaleceriam; quem é contra argumenta
que o eleitor estaria sendo privado de escolher seu representante. "Vamos criar a ditadura
dos partidos", disse o líder do
PR, Luciano Castro (RR).
Caiado, defensor das listas, se
mostra moderadamente otimista. "Melhorou muito nas últimas horas, mas não arrisco
previsão nenhuma".
A imprevisibilidade aumenta
pelo fato de se tratar de uma reforma infraconstitucional, ou
seja, feita apenas por projeto de
lei, em que basta maioria simples para aprovação. Temas
mais complexos, que requerem
mudança constitucional, como
voto distrital e o fim da reeleição, não estão em pauta.
Hoje de manhã, a Executiva
do PT se reúne para fechar
questão favoravelmente ao voto em listas, apesar dos protestos de deputados e senadores.
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