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PF investiga se Dantas lava dinheiro com agronegócio
Empresa de irmã de banqueiro investiu R$ 270 mi em projeto agropecuário em um ano
No final de 2007, estoque de gado do grupo Opportunity era avaliado em R$ 256 mi e complexo de fazendas no sul do Pará, em R$ 374,9 mi
HUDSON CORRÊA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Operação Satiagraha investiga se o grupo empresarial de
Daniel Dantas lavava dinheiro
por meio do império do agronegócio montado no sul do Pará.
O grupo informa possuir 600
mil hectares de terras (equivalente a três vezes e meia a cidade de São Paulo) e meio milhão
de cabeças de gado. O avanço
do banqueiro no setor é recente, tendo começado em 2005.
O projeto agropecuário recebeu no ano passado R$ 270,2
milhões da Araucária Participações, empresa citada na investigação cujo endereço é a sede do Opportunity no Rio e que
tem como sócia, segundo a Polícia Federal, a irmã de Dantas,
Verônica Valente Dantas, presa
na Operação Satiagraha.
Documentos mostram que o
capital social da Araucária Participações subiu de R$ 25 mil
em dezembro de 2006 para R$
650 milhões em maio de 2008.
Só nesse último mês, o acréscimo foi de R$ 200 milhões.
O OPP I FIA, fundo do Opportunity, tem subscrito as
ações para o aumento de capital, segundo ata de assembléia
presidida por Verônica. O estatuto da empresa diz que ela está
autorizada a aumentar o capital
até o limite de R$ 10 bilhões.
No fim de 2007, o estoque de
gado do grupo estava avaliado
em R$ 256 milhões e o complexo de fazendas, em R$ 374,9
milhões. Duas empresas, que
receberam recursos da Araucária Participações, tocam os empreendimentos agropecuários.
São a Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, com sede em
Amparo (SP), e a Alcobaça Consultoria e Participações, de
Três Rios (RJ).
Citada como uma das empresas investigadas na Operação
Satiagraha da PF, a Xinguara
está sob comando de Carlos
Bernardo Torres Rodemburg,
ex-marido de Verônica, que
também teve a prisão decretada pela Justiça, mas não chegou
a ser preso, sendo depois beneficiado por habeas corpus.
18 fazendas
A Alcobaça, também citada
na investigação, assinou em julho de 2006 escritura para
comprar 18 fazendas por R$
77,8 milhões, dos quais R$ 64,5
milhões começam a ser pagos
em parcelas semestrais a partir
de 2009, conforme documentos do cartório de registros de
imóveis de Xinguara (PA), obtidos pela Folha.
A atuação de Rodemburg está voltada, conforme consta na
decisão da Justiça que levou à
prisão de Dantas, "à execução
de investimentos efetivados
nos setores do agronegócio e
mineração com indícios de
perpetração de delitos de "lavagem" de valores na aplicação
dos recursos destinados a estas
modalidades de negócios".
Ainda segundo a decisão da
Justiça, "em diálogo mantido
com Verônica, observam-se
tratativas para aquisição de
uma fazenda [...], mais uma vez
demonstrando que o grupo [de
Dantas] atuaria em diversos seguimentos do mercado, mas,
aparentemente, valendo-se de
práticas espúrias".
Esses trechos da decisão da
Justiça, baseados no relatório
de apuração da PF, estão no capítulo chamado "identificação
dos supostos responsáveis por
práticas delitivas". A investigação diz que Dantas tem "poder
de mando" sobre acusados.
Região de conflito
"É uma coisa que nunca houve na região do sul do Pará.
Uma concentração de terra em
tão curto espaço de tempo. Trabalhadores rurais reclamam
que ele [Dantas] pode estar
comprando terras que seriam
da União e em áreas próximas à
[unidade de conversação] da
Terra do Meio", diz José Batista, advogado da Comissão Pastoral da Terra em Marabá (PA).
Batista afirma que a região
continua sendo palco de conflitos agrários, embora o número
de invasões de terras tenha diminuído nos últimos anos. Ele
não descarta, porém, que as fazendas de Dantas passem a ser
alvo de sem-terra como efeito
da Operação Satiagraha.
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