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"Não peçam ao pobre para comer menos", diz Lula na Indonésia
Presidente afirma que países ricos querem responsabilizar emergentes pela alta no preço dos alimentos e do petróleo
Lula diz que ricos não querem discutir crise imobiliária dos EUA e prejuízos dos bancos europeus e que resposta à inflação pode sair em Doha
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A JACARTA
(INDONÉSIA)
"Não peçam aos pobres do
mundo para comer menos",
discursou o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva ontem em
sua visita à Indonésia. Foi uma
de suas várias críticas aos países ricos, que, segundo ele, querem culpar os emergentes pela
inflação nos preços dos alimentos e do petróleo.
Ao comentar sua participação na reunião do G8 no Japão,
Lula disse que os ricos não querem "discutir a crise imobiliária dos Estados Unidos ou os
prejuízos dos bancos europeus
e procuram jogar a culpa nos
países em desenvolvimento".
Lula pediu uma urgente discussão com números e base
científica sobre qual é a "verdadeira incidência" do preço do
petróleo no preço dos alimentos do mundo. "Ninguém fala
sobre a especulação, sobretudo
nas Bolsas de futuros, e culpam
a China por consumir. Não é o
etanol que é responsável pela
alta do preço do petróleo."
Para o presidente, uma boa
resposta à crise alimentar pode
sair nas discussões na Rodada
Doha da Organização Mundial
do Comércio. "Um bom acordo
na Rodada Doha, que abrisse o
mercado da Europa e diminuísse os subsídios americanos, incentivaria a produção de alimentos. Graças a Deus temos
terra, sol, água e tecnologia para produzir mais."
Brasil e Indonésia assinaram
acordos de cooperação em biocombustíveis. Em entrevista
no palácio presidencial de Jacarta, Lula desviou da pergunta
sobre a defesa do etanol na Indonésia -que produz o combustível a partir da palma e onde as florestas tropicais são devastadas em ritmo maior que o
da Amazônia. "Cada país sabe
exatamente como plantar", disse. "Ninguém tem mais interesse em preservar as florestas que
nós mesmos", afirmou.
Lula contemporizou a defesa
das florestas. "Se um dia houver
equilíbrio no padrão de consumo da humanidade, seremos
menos culpados pelos estragos
que já fizemos ao planeta."
Em resposta a um jornalista
local, Lula afirmou que o Brasil
é "sui generis", que "não tem,
nem terá crise energética a curto prazo". O presidente disse
que 85% da energia elétrica no
país é renovável e limpa, que
87% dos carros produzidos no
pais são flexíveis e que o etanol
emite menos gases.
Comércio e muros
Como no Vietnã, o presidente repetiu várias vezes que há
uma crise nos países ricos e o
quão importante é o comércio
Sul-Sul "contra a lógica ultrapassada de dependência das
economias do Norte".
Mas a relação comercial entre os dois países ainda é bem
pequena. A soma de exportações e importações entre eles é
de US$ 1,5 bilhão (o equivalente a 0,5% do comércio exterior
brasileiro).
A Indonésia é o quarto país
mais populoso do mundo, com
237 milhões de habitantes, mas
seu PIB é de apenas US$ 437 bilhões -menos que a metade da
economia do México.
Questionado sobre o apoio
da Indonésia à pretensão brasileira de assumir um assento
permanente no Conselho de
Segurança da ONU, algo que a
diplomacia brasileira repete
em cada visita, o presidente indonésio, Susilo Bambang Yudhoyono, disse que concordava
que o conselho deveria ser reformulado. Ele afirmou que o
Brasil tem as condições para
ser novo membro, mas aproveitou para lançar a candidatura
da própria Indonésia, "como o
país muçulmano mais populoso do mundo".
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