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JANIO DE FREITAS
Os donos da especulação
A imediata queda da especulação com o dólar, na sexta-feira, é insuficiente para atestar o grau de eficácia do pacote
baixado pelo governo contra a
disparada especulativa movida
pelos bancos, para fazer lucro
fácil e grande lucro com crescentes desvalorizações do real. Mas
o pacote já prestou alguns serviços.
Antes de haver essa reação, foi
preciso que a chegada do dólar
aos R$ 4 tornasse a especulação
desmoralizadora para o governo, e ameaçasse um final patético para a Presidência de Fernando Henrique Cardoso, com
o real arrasado, a volta da inflação e os preços em desatino. Por
que isso?
O pacote, como foi prontamente notado, apareceu apenas
24 depois que os jornais publicavam Armínio Fraga sustentando que os meios do Banco Central, por ele presidido, para agir
contra a especulação são limitados, no sentido de insuficientes.
Mostra o pacote que havia, sim,
o que fazer para refrear os bancos, enquanto o BC de Armínio
Fraga só fazia vender as reservas em dólar, a pretexto de deter
a alta com maior maior oferta
da moeda.
Em fevereiro, quando José Serra deixa o ministério e a disputa
eleitoral ganha impulso, o dólar
estava na casa dos R$ 2,30. Ao
chegar maio, ainda não entrara
na casa dos R$ 2,40. Começa então uma subida lenta, que fica
mais intensa a partir de junho.
Era mais do que hora de reprimir a especulação. E nem seria
necessário pacote algum, como
à época foi dito por vários dos
que não estavam, na política e
na imprensa, aceitando a alta
do dólar como arma contra Lula da Silva e Ciro Gomes.
Os bancos são os grandes movimentadores do dólar, como
detentores de fundos imensos. O
BC sempre teve à sua disposição
um instrumento simples e eficaz
para refrear neles a voracidade
especulativa: é investigar quem
está agindo para depreciar a
moeda nacional e com isso lucrar -o que comporta um senhor processo. Tal investigação
inscreve-se mesmo entre as funções do Banco Central.
Se Pedro Malan e Armínio
Fraga atribuíam alta do dólar à
posição de Lula e, por certo tempo, também à de Ciro, com isso
dizendo, também, que era uma
depreciação fabricada da moeda brasileira. O dever de ambos,
em tal situação, é óbvio. O presidente do Banco Central ficou
alimentando a especulação com
dólares a bom preço. O ministro
da Fazenda não moveu um dedo. Moveu apenas a boca para
difundir a idéia, entre ridícula e
atrabiliária, de que "os candidatos da oposição" eram os responsáveis pela alta do dólar por
não indicarem seus escolhidos
para o BC e não assumirem um
compromisso de continuidade.
Compromisso com os que agiam
e agem contra o país e continuidade quando a ansiedade manifesta da grande maioria nacional é pela mudança do rumo,
ou falta de rumo, dado ao país
pelo atual governo.
É reconhecimento corrente
que os bancos jamais foram tão
beneficiados quanto nos últimos
oito anos, o que se comprova por
terem, balanço após balanço, os
maiores lucros proporcionais no
mundo. O sistema beneficente
chamado Proer, de socorro a
banqueiros estourados como
pessoa jurídica e endinheirados
como pessoa física, complementa as evidências de que este governo jamais teria a atitude de
investigar a ação de bancos contra a moeda nacional. Mas os
banqueiros não deviam ir tão
longe, esses mal agradecidos, e
expor o governo à desmoralização, não bastasse já a condenação expressa nas urnas.
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