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MATO GROSSO DO SUL
Marisa foi lançada candidata após desistência de rival do petista
Tucana ameaça favoritismo de Zeca
FABIANO MAISONNAVE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
Contrariando pesquisas, expectativas e projeções, o governador
de Mato Grosso do Sul, José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, 52,
antes favorito, terá de disputar o
segundo turno com Marisa Serrano (PSDB), 55, uma das maiores
surpresas nas eleições.
Com 48,33%, dos votos válidos,
Zeca esteve perto de vencer no
primeiro turno. Mas Marisa não
ficou muito longe: alcançou
42,41%. Ainda não foi divulgada
nenhuma pesquisa de opinião,
mas a disputa deve ser acirrada.
A candidatura de Marisa já surgiu de uma surpresa: a desistência
do prefeito de Campo Grande e
arquiinimigo de Zeca, André Puccinelli (PMDB), em março. Líder
nas pesquisas, o prefeito desistiu
de renunciar para enfrentar Zeca.
Especulou-se muito sobre os
motivos da desistência -desde a
falta de confiança em seu vice, Oswaldo Possari (PSDB), até um
acordo de bastidores com o PT.
Nos últimos seis anos, Zeca e
Puccinelli monopolizaram o cenário político do Estado. A briga
começou em 96 na disputa por
Campo Grande, quando o peemedebista venceu Zeca no segundo turno por apenas 411 votos de
diferença. O PT contestou o resultado alegando compra de votos,
mas nada ficou comprovado.
O troco veio em 98, quando Zeca venceu no segundo turno Ricardo Bacha (PSDB), que era
apoiado por Puccinelli.
Após o segundo candidato natural, o presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB), se recusar a
disputar com Zeca, a vaga ficou
com Marisa, na época com papel
secundário na política local.
"[Puccinelli" teve a oportunidade de disputar comigo, mas correu, não honrou as calças. Tenho
de debater e respeitar a mulher
que está disputando comigo. Pelo
menos ela honrou a saia que veste." A frase de Zeca, dita em uma
entrevista coletiva em agosto, revela como foi o primeiro turno:
favorito nas pesquisas, o petista
respeitou Marisa e só perdia o estilo "Lulinha paz e amor" para
atacar seu desafeto.
Perfil
"Durante muito tempo se falava
que, para bater o Zeca, tinha de
ser uma pessoa que tivesse um
perfil parecido com o dele, um
rompedor, um brigador. E o André [Puccinelli" encarnava isso.
Quando eu surgi como candidata,
as pessoas provavelmente pensaram que eu não tinha o estereótipo à altura", diz Marisa.
Sua carreira política começou
em 76, quando se elegeu vereadora em Campo Grande pela Arena,
partido de sustentação do regime
militar (64-85). Na época, o partido abrigava também Zeca do PT.
Marisa disse que teve pouco
contato com seu atual adversário.
"Ele era mais ligado a Porto Murtinho [terra natal de Zeca" e aqui
em Campo Grande ele era da Juventude da Arena, enquanto eu
atuava na educação."
Formada em letras e pedagogia,
sua maior experiência no Executivo ocorreu durante o governo Pedro Pedrossian (80-83), quando
foi secretária da Educação por um
ano e dois meses.
Com a extinção da Arena, Marisa continuou no partido substituto, o PDS. Depois se filiou ao PST,
ao PMDB e, em 93, ao PSDB, pelo
qual se elegeu deputada federal
em 94. Em 98, foi reeleita.
Segundo avaliação do caderno
"Olho no Voto", da Folha, ela teve
atuação considerada mediana.
Quase todos os 14 projetos apresentados -nenhum aprovado
até agora- são da área de educação. Para Marisa, seu projeto mais
importante é o que prevê recursos
próprios para a educação infantil,
como ocorre com a educação fundamental. Está em tramitação.
Divorciada e mãe de criação de
quatro filhos de uma empregada
doméstica de sua família, Marisa
tem origem de classe média -seu
pai era um pequeno comerciante
em Bela Vista, na fronteira com o
Paraguai, onde nasceu.
Ela critica a gestão de Zeca, ""que
aumentou a dívida de R$ 3 bilhões para R$ 5 bilhões", e os escândalos ocorridos em seu governo, como o do desvio de dinheiro
do FAT (Fundo de Amparo ao
Trabalhador) supostamente para
financiar campanhas petistas em
2000. O caso está em apuração no
Ministério Público Federal.
Sobre a conhecida proximidade
entre o presidente Fernando Henrique Cardoso e Zeca, diz não ter
ciúme: "Ele é homem de partido".
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