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ELEIÇÕES 2004
José Afonso da Silva diz que PSDB perderá disputa em SP se lançar atual secretário da Segurança Pública candidato
Para tucano, Saulo tem discurso malufista
Otavio Dias de Oliveira-5.jan.1999/Folha Imagem
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O ex-secretário da Segurança de Covas José Afonso da Silva |
RICARDO BRANDT
DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-secretário da Segurança
Pública do governador Mário Covas (1930-2001) José Afonso da
Silva, 78, afirmou em entrevista à
Folha anteontem que o atual secretário da pasta, Saulo de Castro
Abreu Filho, provável candidato
do PSDB à Prefeitura de São Paulo, adota um discurso "malufista"
de combate à violência e que suas
ações na área da segurança soam
como incentivo indireto ao "extermínio" de civis por policiais.
Para o ex-secretário, Saulo teria
rompido com os princípios democráticos de direitos humanos
implantados por ele e pelo governo Mário Covas (1995-2001) na
área da segurança.
Tucano de formação, secretário
do governo entre 1995 e 1998 e um
dos mais respeitados advogados
constitucionalistas do país, Silva
afirmou acreditar que o PSDB vai
perder as eleições municipais de
São Paulo se lançar Saulo como
candidato.
Folha - O senhor vê neste governo
uma política de continuidade ao
princípio democrático de direitos
humanos na área de segurança adotado com o senhor no governo Mário Covas?
José Afonso da Silva - Acho que
não. É necessário uma distinção
entre a política de segurança do
governo Mário Covas e a política
de segurança que vem se desenvolvendo no governo Geraldo
Alckmin, do doutor Saulo [de
Castro Abreu Filho]. Nós tínhamos na segurança todo um sistema de respeito aos direitos humanos. A nossa preocupação era evitar a violência policial, sem embargos. Ninguém queria que os
policiais fossem sacrificados sem
a possibilidade de defesa.
Agora, o que não aceitávamos, e
não aceitamos ainda hoje, é uma
política de execução, que vinha
sendo desenvolvida anteriormente. Polícia não é para matar. Foi se
criando uma mentalidade na polícia, mas lamentavelmente [isso]
foi cortado.
Folha - Houve retrocesso então na
política de segurança pública?
Silva - Foi, foi um retrocesso. Começaram a desfazer todos os mecanismos que tínhamos criado
para garantir uma polícia eficiente e não-violenta. Ora, se segurando já é difícil, imagina estimulando a violência policial?
Folha - O senhor acha que há um
estímulo desse atual governo à política de extermínio?
Silva - Não que exista um estimulo direto. Mas indireto acho
que há. Eu ouvi o governador durante a campanha acusar pessoas
que tinham condenado a atitude
da polícia. Em uma manifestação
do Hélio Bicudo [PT, vice-prefeito de São Paulo], por exemplo, ele
[Alckmin] disse: "Estão atrapalhando a segurança com esse negócio de direitos humanos". Ora,
isso é linguagem de Conte Lopes
[deputado estadual do PP], não
linguagem de governador. Isso é
um certo estímulo indireto.
Folha - Qual a sua opinião em relação a casos de violência envolvendo
excessos da polícia durante a administração Saulo?
Silva - Acho que o episódio da
Castelinho [12 criminosos foram
mortos em uma ação da PM, em
Sorocaba] é emblemático. Acho
que aquilo foi execução. As características dizem isso. Se estavam
cercados, deveriam ser presos.
Folha - O senhor identifica neste
governo um discurso de endurecimento da ação policial?
Silva - Eu acho até que ultimamente estão com mais cuidado
com o discurso. Mas no início foi
um pouco mais duro, tipo "nós
vamos botar para quebrar". É
uma política que estimula. O policial de rua se sente autorizado a
cometer violência. Porque, de certo modo, ele acha que está amparado. Acho que a violência policial não melhora em nada, até
agrava, a violência em geral.
Folha - O discurso hoje do Saulo
em relação a uma ação mais dura da
polícia se aproxima do discurso malufista?
Silva - É o mesmo tipo de discurso. É como eu disse, o governador
usou linguagem que não é de um
governador e sim de um Conte
Lopes, que é a linguagem do Maluf. Não é a linguagem de um governo que pretende ser democrata. Então não pode haver confusão. O Maluf joga sempre com isso, e por isso perde sempre. Mas
para o Maluf isso está certo. Ele
não pode sustentar uma política
de mudança de estrutura econômica e social, porque isso contraria a sua ideologia conservadora e
a ideologia das elites. Então ele
tem que usar um outro argumento, que é o da segurança pública.
Folha - O PSDB vai errar, então, se
quiser se amparar na segurança como principal mote da campanha para São Paulo?
Silva - Acho um equívoco. Acho
que, se for com esse discurso, perde a eleição. Com o Saulo perde de
qualquer forma. O PSDB está
muito pobre de homens. Essa cogitação em torno do Saulo prova
isso. O Saulo não tem vivência política. Ele não é conhecido politicamente. O fato de ter sido secretário da Segurança não lhe dá um
conhecimento para fins de conquista de cargo político.
Então eu acho que ele não tem o
perfil de um político capaz de ganhar a eleição. É claro que é só a
minha opinião.
Folha - Quem hoje reúne esses
quesitos para ser um candidato para derrotar o PT?
Silva - Acho que quem tem possibilidade é o [José] Serra. Essa seria a vez do Serra.
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