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Juíza pede apuração sobre origem de grampo
Desembargadora do TRF quer saber se houve interceptação de conversa telefônica entre ela e advogado de Daniel Dantas
Em diálogo transcrito pela PF, Machado diz que Maria Cecília de Mello considerou grave assunto do inquérito; juíza nega irregularidade
DA REPORTAGEM LOCAL
A desembargadora do TRF
(Tribunal Regional Federal) da
3ª Região (São Paulo e Mato
Grosso do Sul) Maria Cecília
Pereira de Mello vai pedir hoje
ao CNJ (Conselho Nacional de
Justiça), ao Ministério Público
Federal e ao superintendente
da Polícia Federal em São Paulo a apuração da origem de um
diálogo que cita seu nome,
transcrito em relatório da Operação Satiagraha, que prendeu
o banqueiro Daniel Dantas. A
juíza também mandou um ofício ao presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes.
A desembargadora quer saber se telefones do tribunal ou
do advogado Nélio Machado,
que defende Dantas, foram interceptados por ordem judicial.
Em diálogo transcrito em relatório da Satiagraha, ao qual a
juíza disse ter tido acesso, o advogado Nélio Machado aparece
dizendo a Humberto Braz, homem de confiança de Dantas e
ex-diretor da Brasil Telecom
Participações, que a juíza, a
quem chama de "amiga", teria
lido "o inquérito" -suposta referência à Satiagraha- e considerado o assunto "gravíssimo".
Em outro momento, Machado informou a Braz que a juíza
pedira a todas as varas federais
da primeira instância de São
Paulo que confirmassem ou
não a existência de uma nova
investigação contra Dantas.
Os diálogos ocorreram entre
final de abril e início de maio.
Naquele momento, os advogados de Dantas corriam atrás da
confirmação da reportagem da
Folha publicada dias antes,
que informara a existência de
um novo inquérito da PF sobre
Dantas. A reportagem também
dizia que esse novo inquérito
inspecionava o disco rígido do
Opportunity, apreendido em
2004 pela Operação Chacal,
que investigou espionagem encomendada à empresa Kroll
pela Brasil Telecom.
Após recurso dos advogados
de Dantas, a análise do HD foi
impedida de imediato. Depois
acabou liberada, também pelo
TRF, mas só em parte do material, e sob acompanhamento.
Com a Operação Satiagraha,
o HD passou a ser analisado
por peritos da PF de Brasília,
também com ordem judicial.
A desembargadora é a relatora, no TRF, do processo originado da Operação Chacal.
Segundo a desembargadora,
os advogados de Dantas, ao lerem na Folha, em abril, a história do novo inquérito, acreditaram que ele tramitava no TRF,
e por isso procuraram a juíza.
Para a desembargadora, Nélio Machado suspeitava que a
interdição do uso do disco rígido do Opportunity tivesse sido
desrespeitada de alguma forma, por isso a procurou.
O advogado Nélio Machado
não foi localizado ontem.
A juíza confirmou à Folha
ter mantido conversas com
Machado e outra advogada do
banco, Ilana Müller, mas negou
irregularidade na sua conduta.
Também negou ter tido acesso
ao inquérito da Satiagraha.
A juíza disse que o Opportunity perdeu "90%" dos recursos que ela avaliou no TRF e
que "atende a todos os advogados, os famosos e os não famosos, os procuradores, os defensores dativos". Ela disse que os
"10%" de decisões favoráveis
ao Opportunity "prendem-se a
aspectos formais do processo,
nunca sobre o mérito".
A juíza confirmou ter solicitado informação às varas federais, mas disse que logo voltou
atrás e cancelou a primeira decisão. "Quando do retorno de
uma dessas informações, me
dei conta que não havia evidências com o caso Kroll/Telecom
Italia e que poderia não estar
preventa [judicialmente apta]
para julgá-lo e não ser a relatora do caso. Considerando que a
prevenção pode ser verificada a
qualquer tempo, revi a minha
decisão, tornei sem efeito os
pedidos de informações", disse
a juíza, por e-mail. A juíza disse
que os réus "têm direito" de tomar conhecimento de investigações cujo sigilo acaba após
divulgação pela imprensa.
No início da noite, a desembargadora distribuiu nota à imprensa, por meio da assessoria
da Justiça Federal. Maria Cecília disse que desconhecia a Satiagraha. "Falei diversas vezes
pessoalmente com Nélio Machado e Ilana sobre o caso e algumas por telefone, da mesma
forma como mantenho contato
com todos os advogados que
atuam em processos que estão
no meu gabinete e que assim
solicitam", disse a juíza.
(RUBENS VALENTE)
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