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Dantas diz que chefe da Abin encomendou operação da PF
Para banqueiro, Paulo Lacerda quis retaliá-lo por dossiê sobre contas no exterior
Em depoimento à CPI dos grampos, Dantas nega ter subornado delegado e diz que Protógenes lhe afirmou que investigaria filho de Lula
Alan Marques / Folha Imagem
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O banqueiro Daniel Dantas depõe na CPI dos Grampos, após ter recebido uma liminar do STF que lhe garantia o direito de ficar calado e de ter acesso a seus documentos
HUDSON CORRÊA
MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O empresário Daniel Dantas
disse ontem na CPI dos Grampos ter recebido informação,
em novembro de 2007, de que o
diretor-geral da Abin (Agência
Brasileira de Inteligência),
Paulo Lacerda, encomendou
uma operação da Polícia Federal contra ele. Em julho, a PF
deflagrou a Operação Satiagraha que prendeu Dantas.
Dantas disse ainda que o delegado Protógenes Queiroz,
responsável pela Operação Satiagraha, o informou que investigaria o filho do presidente Lula: "Ele me disse que iria em cima de mim. Tinha comentado
que ainda viria alguma coisa
para criar constrangimento,
para evitar a compra da Brasil
Telecom pela Telemar. Ele citou que iria investigar o filho do
presidente Lula", disse Dantas.
Integrantes da CPI disseram
ter entendido que o alvo da investigação seria Fábio Luís, filho mais velho de Lula, um dos
acionistas da Gamecorp, que
recebeu injeção de R$ 10 milhões da Telemar. Quando estava sob o controle de Dantas, a
Brasil Telecom também tentou
adquirir participação na Gamecorp. Assessorado por seis pessoas, Dantas não deixou de responder a nenhum questionamento da comissão e aproveitou para mandar recados. Um
dos alvos seria Lacerda.
"Em novembro do ano passado, fui informado de que existia
uma operação encomendada
na Polícia Federal [...]. Diziam
que isso tinha sido pedido pelo
diretor da Abin. E que isso
ocorria como uma retaliação ao
fato de doutor Paulo Lacerda
me atribuir a responsabilidade
por ter entregado a uma revista
["Veja'] um relatório que constava contas do exterior que lhes
foram atribuídas". E acrescentou: "As informações vieram
nessa linha e, basicamente, eu
me lembro do termo que dizia
que ele [Paulo Lacerda] iria me
colocar um par de algemas".
Dantas disse que "começou a
ficar mais atento", quando saíram notas da imprensa de que
ele seria preso. "Daí a Folha de
S.Paulo publicou uma matéria
de 26 de abril, coincidentemente no dia seguinte a assinatura
do contrato da Brasil Telecom a
Telemar. Era uma matéria
muito completa. É difícil que a
Folha de S.Paulo, um jornal
desse porte, iria permitir a publicação com elemento totalmente especulativo. Aí eu fiquei preocupado". Disse suspeitar que "tinha sido uma operação articulada pelos mesmos
participantes que trabalhavam
para Telecom Itália para impedir o acordo da venda da Brasil
Telecom para Telemar". Pelo
acordo, Dantas deixou o quadro societário da Brasil Telecom, abrindo caminho para a
venda da empresa à Telemar.
Dantas disse ter procurado
pessoas próximas a Lacerda.
"Eu estive com o senador Heráclito Fortes, que tinha estado
com o doutor Paulo Lacerda.
Ele falou que o Paulo Lacerda
teria dito a ele que de fato tinha
pedido a investigação, mas que
nada tinha sido encontrado".
Dantas disse que não mandou o ex-presidente da BrT
Humberto Braz subornar um
delegado da PF. Sobre o ex-deputado federal Luiz Eduardo
Greenhalgh (PT-SP), Dantas
disse: "O deputado Greenhalgh, uns seis meses ou mais,
foi me apresentado pelo Guilherme Sodré [ligado a Dantas].
Ele me disse que poderia ser
útil numa negociação com os
fundos de pensão. Ele tinha
uma relação boa com o Previ
[do BB]. Ele fez uma negociação para tentar acabar com
conflito societário entre nós e a
Previ. Com a possível compra
pela Previ de nossa participação na Brasil Telecom", disse.
Os fundos controlam a Brasil
Telecom, do qual o grupo de
Dantas era acionista até abril
passado. Na sua ação, Greenhalgh "materializou algo".
No começo do depoimento,
Dantas negou que tenha feito
espionagem e disse acreditar
que a Kroll foi contratada pela
Brasil Telecom para investigar
a Telecom Itália devido a uma
briga societária. O banqueiro
disse acreditar que setores do
governo, comandados pelo ex-ministro Luiz Gushiken, criaram dificuldades para tirar dele
o controle da Brasil Telecom.
Ele disse ter sofrido pressão
do ex-presidente do BB Cássio
Casseb e que participou de
duas reuniões com o ex-ministro José Dirceu sobre o tema.
Na fase final do depoimento,
o relator da CPI, Nelson Pellegrino (PT-BA), perguntou se
Dantas conhecia a jornalista da
Folha Andréa Michael, acusada pelo delegado Queiroz de ter
dado informações privilegiadas
ao empresário. "Ela nunca escreveu nada que fosse do nosso
interesse. Acho uma leviandade absoluta levantar suspeita
sobre essa jornalista". Michael
foi a autora da reportagem sobre a investigação da PF que
desembocou na Satiagraha.
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