|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SOMBRA NO PLANALTO
Exonerado a pedido, Waldomiro tenta desvincular episódio de sua atividade na Casa Civil; ele "está alquebrado", diz advogado
Ex-assessor de Dirceu tenta isentar governo
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A principal preocupação hoje
do ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência Waldomiro Diniz é desvincular o episódio da fita de vídeo em que foi
flagrado pedindo propina e contribuição de campanha a um bicheiro de suas ações no tempo em
que atuou como o principal assessor do ministro José Dirceu (Casa
Civil) no Congresso e no governo.
"Ele é um homem de alma quebrada", disse à Folha Luiz Guilherme Vieira, advogado que
Waldomiro acabou de contratar e
com quem conversou entre a noite de sexta e a madrugada de sábado. "Ele afirma que isso [as cenas
da fita] não tem nada a ver com o
governo. Está abatido, alquebrado." A preocupação de Waldomiro é a mesma do governo, que,
por meio de seus expoentes, tenta
tratar o fato como uma ação pessoal do ex-assessor palaciano que
há pelo menos 12 anos mantém
relações com o ministro Dirceu.
Publicada a reportagem, o governo afastou Waldomiro. Em
edição extra que circulou na tarde
de sexta-feira, o "Diário Oficial"
da União registrou a sua exoneração "a pedido". Recolhido na casa
de amigos, abatido e insone, Waldomiro recebeu uma única orientação de seu advogado: "Tente catar os cacos e dormir".
Vieira pretendia voltar ao Rio
no sábado. Trabalharia hoje no
caso para, "nas primeiras horas
da segunda-feira", conversar com
o delegado da Polícia Federal Antônio César Fernandes Nunes,
que presidirá o inquérito no qual
Waldomiro será investigado.
A peça-chave do inquérito é a fita de vídeo em que Waldomiro
conversa com Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, considerado o maior bicheiro de
Goiás, acertando pagamento de
propina, formas de manipulação
de um processo licitatório, além
de contribuições para campanhas
eleitorais. As cenas revelam, em
tese, prática de concussão (corrupção praticada por servidor público), corrupção ativa e manipulação de licitações.
Encaminhada anonimamente
ao gabinete do senador Antero
Paes de Barros (PSDB-MT), a fita
desencadeou a abertura de investigação pelo Ministério Público
Federal. Na sexta, Barros pediu a
abertura de uma CPI para apurar
o fato e pediu o afastamento imediato de Dirceu. Os primeiros elementos sobre supostas irregularidades cometidas por Waldomiro
na administração pública chegaram ao Ministério Público Federal em Brasília há três meses.
Em forma de dossiê foram reunidas cópias de contratos firmados pela Loterj (Loteria do Estado
do Rio de Janeiro), órgão presidido por Waldomiro em 2002. Havia também cartas precatórias em
que a Justiça italiana solicitava ao
Supremo Tribunal Federal quebra de sigilos, tomada de depoimentos e requisição de documentos relacionados a cerca de 40 pessoas que, trabalhando com jogos,
estariam envolvidas com a máfia
italiana. Entre outras práticas, estariam lavando dinheiro obtido
com atividades criminosas. No
grupo dos investigados pelas autoridades italianas está Alejandro
Ortiz, acusado de ser um dos braços da máfia espanhola no Brasil.
Em depoimento ao Ministério
Público Federal, o empresário
goiano do setor de jogos Carlos
Roberto Martins atribuiu a Waldomiro o ingresso de Carlinhos
Cachoeira no mercado fluminense. Ainda segundo Martins, que
prestou depoimento no dia 2 de
fevereiro, "após ter se afastado da
Loterj", "[Waldomiro] passou a
defender os interesses de Ortiz no
Congresso e no governo".
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Bicheiro diz ter sido vítima de extorsão Índice
|