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BASTIDORES
Equipes de inteligência acumulam informações sobre o adversário e se preparam para eventual "guerra de dossiês"
Em silêncio, Lula e Serra recolhem 'munição'
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a crescente troca de farpas,
as campanhas de Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) e de José Serra
(PSDB) recolheram mais munição pesada uma sobre a outra.
Todas as campanhas presidenciais possuem departamentos de
inteligência que atuam na sombra, colecionando dossiês e informações sobre adversários que,
quando vêm à tona, são classificados pelos próprios candidatos como jogo baixo.
Um dos objetivos desse arsenal
é servir de arma psicológica. O expediente lembra a Guerra Fria,
quando as duas superpotências
do planeta, Estados Unidos e
União Soviética, impunham limites às ações do inimigo ameaçando detonar bombas atômicas.
Por enquanto, os times de Serra
e Lula prometem não baixar o nível e usam a munição pesada para
uma guerra fria eleitoral. Na última semana, por exemplo, já houve troca de ameaças nos bastidores. Quando circulou que os serristas podiam aumentar a intensidade de ataques a Lula, o PT avisou que o revide seria duro.
A campanha petista ficou contrariada com Serra por suspeitar
que partiu de aliados do tucano a
divulgação na internet de um vídeo em que Lula faz uma brincadeira em relação à cidade de Pelotas (RS). Na eleição de 2000, ele
disse que a cidade era um pólo exportador de homossexuais.
Investigações
A exemplo do que fez com Ciro
Gomes (PPS), a Folha apurou que
o time de Serra colecionou frases
infelizes e críticas de Lula sobre
Itamar Franco e José Sarney, dois
ex-presidentes da República que
apóiam o petista e hostilizam o
candidato do PSDB.
Amigos e familiares de Lula foram investigados. As administrações do PT, especialmente as do
Estado do Rio Grande do Sul e as
prefeituras de São Paulo e de Santo André, receberam visita de
equipes de TV e de assessores indiretos (profissionais que não
participam da campanha e, portanto, não podem ser ligados diretamente ao candidato).
A equipe de Lula não está passiva. O PT recebeu informações sobre movimentação financeira e
transações imobiliárias de amigos
e familiares de Serra e de outros
caciques tucanos.
Por enquanto, peças com críticas a Lula são testadas pela campanha de Serra em pesquisas qualitativas -levantamentos em que
se mede a reação imediata de pequenos grupos de perfil predeterminado (só eleitores de um candidato, por exemplo).
O recurso ao ataque é cuidadosamente estudado, porque o tiro
pode sair pela culatra. O marketing serrista avalia, por exemplo,
que Lula tem imagem consolidada de honestidade, já passou por
três eleições presidenciais e que o
ataque tem de se concentrar na
falta de experiência administrativa do petista e em problemas das
administrações do partido.
O eventual uso de informações
do arsenal pesado será obrigatoriamente submetido a uma bateria prévia de testes em pesquisas
qualitativas.
O banco de dados de Serra é o
mais abrangente. Há até pastas
sobre tucanos, como o ministro
Paulo Renato Souza (Educação) e
o ex-governador Tasso Jereissati
(CE). Ambos, em momentos diferentes, disputaram com Serra a
indicação presidencial do PSDB e
foram derrotados.
A Folha conversou com dirigentes de campanha que contaram como funciona a busca por
este tipo de informação.
Parte do trabalho é feita por assessores. Normalmente, ex-repórteres vasculham arquivos de
jornal, de rádio e de TV em busca
de declarações infelizes e contraditórias com o discurso atual.
A campanha negativa no horário eleitoral gratuito que Serra
usou para derrubar Ciro do segundo para o terceiro lugar nas
pesquisas foi quase toda preparada por uma equipe assim.
Ciro disse que a campanha foi
suja. Mas a Justiça Eleitoral e até
Lula, adversário de Serra, disseram que a propaganda serrista era
aceitável porque mostrou o que o
próprio Ciro declarara.
A parte que se costuma chamar
de "trabalho sujo" cabe a profissionais sem vínculos partidários
que aproveitam as temporadas
eleitorais para grampear adversários, procurar antigos desafetos
que possam dar testemunhos incômodos e até bisbilhotar a vida
íntima dos candidatos.
Geralmente, o candidato tem
um assessor ou amigo mais discreto que se encarrega do contato
com profissionais da sombra. Às
vezes, um dublê de empresário e
financiador de campanha é quem
encomenda e paga o serviço.
Ex-policiais e ex-funcionários
do extinto SNI (Serviço Nacional
de Informação, órgão criado no
regime militar) têm forte atuação
nesse ramo. Serviços de inteligência de polícias militares também
são usados, de forma não assumida, por políticos com influência
em seus Estados.
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