|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SÃO PAULO
Ao defender guerra fiscal, pepebista erra dados, omite contextualização de números e cita casos que depois são negados
Empresas contestam "terrorismo" de Maluf
JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao atacar seu adversário Geraldo Alckmin (PSDB) e falar sobre
sua promessa de entrar na guerra
fiscal para manter empresas em
São Paulo, o candidato do PPB ao
governo paulista, Paulo Maluf, erra dados, omite a contextualização de números que menciona e
cita empresas que estariam deixando o Estado sem que a mudança seja confirmada por elas.
É essa a conclusão a que se chega ao verificar declarações feitas
pelo próprio pepebista, como na
última quinta, quando ele falava
para donos de supermercados sobre suas propostas para barrar a
fuga de empresas do Estado.
Disse Maluf na palestra: "Mas,
meus amigos, não é pegar a Lacta,
que está aqui do lado, fornecedora de vocês (...), e levar para o Paraná, deixando aqui 2.000 mulheres desempregadas".
A Kraft Foods Brasil, controladora da Lacta, nega que a "desativação gradativa" de uma unidade
da empresa na zona sul de São
Paulo vá deixar 2.000 desempregados e que isso esteja ocorrendo
devido à guerra fiscal.
"A linha industrial do Brooklin
está sendo desativada em virtude
do crescimento do bairro", diz a
empresa em nota oficial.
No documento, a empresa diz
não ter encontrado no bairro "espaço físico disponível" para ampliar o processo produtivo e que
continuará investindo "fortemente" em São Paulo, onde manterá 4
de suas 12 unidades de produção.
A Kraft não divulga o número
de funcionários que serão demitidos em São Paulo para não polemizar com Maluf, mas informa
que o número citado por ele não
corresponde à realidade.
No mês passado, a Mabel e a
Cory, de Ribeirão Preto (314 km
de SP), e a Tilibra, de Bauru (343
km de SP), também foram citadas
por Maluf como exemplos de empresas que estariam deixando o
Estado, informação que também
foi desmentida pelas indústrias.
Em Ribeirão, o gerente de marketing da Cory, Daniel Andreolli,
diz que a declaração causou
apreensão em funcionários, até
que a empresa conseguiu convencê-los de que não pretendia deixar
a cidade, onde opera desde 1974.
Na Mabel, a declaração de Maluf foi uma reprise das da última
sucessão estadual. Alvo do mesmo tipo de boato na campanha de
98, o presidente do grupo, Sandro
Mabel, usou a experiência para
contornar um problema maior.
"A declaração [de Maluf] criou
uma instabilidade, mas a empresa
aprendeu a contornar esses boatos", disse o empresário.
Tilibra e sabatina
Na Tilibra, a informação dada
por Maluf foi classificada como
"boato que está longe da verdade". A empresa, há quase 74 anos
em Bauru, não comenta a declaração após ter divulgado no mês
passado nota para desmenti-la.
Ao ser questionado se não estaria usando a informação para fazer "terrorismo econômico", Maluf já chegou a dizer que se enganou ao fazer a declaração sobre a
Tilibra. A correção feita por ele,
contudo, foi enviesada.
"Por um pedido do governador,
vão esperar a eleição [para deixar
Bauru]. Mas se vão sair e não vão
sair. Se eu dei a informação errada, eu quero me penitenciar", disse ele na sabatina promovida pela
Folha no último dia 22.
Após a resposta, Maluf continuou no tema e, de novo, se equivocou. "O prefeito de Americana
me disse que está com mais de 13
mil desempregados em função do
fechamento ou saída de 600 pequenas e médias indústrias."
Os números citados pelo ex-prefeito de São Paulo são, na verdade, até maiores: 761 empresas e
13.933 empregos fechados, respectivamente. O problema está
no contexto, no período e no local
em que isso realmente ocorreu.
Segundo a Prefeitura de Americana, o dado mencionado pelo
prefeito Waldemar Tebaldi
(PDT) é baseado em levantamento que inclui também as cidades
de Nova Odessa, Santa Bárbara
d'Oeste e Sumaré. O dado se refere a dez anos, entre 1990 e 2000.
No levantamento, de um sindicato das empresas do setor, não
há menção de "saída" de empresas. O máximo que o estudo menciona é uma redução de produção
devido à crise no setor causada
por importação de tecidos.
Na sabatina, informações de
Maluf sobre a cidade de Franca
também não se confirmam, segundo o secretário municipal de
Desenvolvimento Econômico e
Social, Valdir Barbosa.
"(...) Em Franca saíram quase
metade das indústrias de lá e tem
quase mil desempregados", disse
o pepebista sobre dados que teria
recebido após visitar a cidade.
"O que houve foi um fechamento de empresas no início da década de 90. E foi em função do câmbio", disse o secretário.
Segundo Barbosa, o fechamento atingiu, no setor de calçados,
160 empresas na década de 90.
Hoje, 450 delas mais 900 "terceirizadas" somam uma produção de
32 milhões de pares, retomando a
média de quatro anos atrás.
Texto Anterior: Distrito Federal: Briga entre simpatizantes fere 16 Próximo Texto: Frases Índice
|