São Paulo, domingo, 16 de maio de 2004

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CAMPO MINADO

Superintendentes do órgão afirmam que falta pessoal para executar assentamentos previstos para 2004

Meta agrária não deve ser cumprida, diz Incra

DA AGÊNCIA FOLHA

Chefes de superintendências do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) que estão em greve afirmam que, independentemente da paralisação, dificilmente cumprirão a meta de assentamentos estabelecida no PNRA (Plano Nacional de Reforma Agrária) neste ano.
Os superintendentes em Minas e Pernambuco dizem que o motivo é a falta de pessoal; o de Santa Catarina culpa a falta de áreas para assentamento.
Pelo PNRA, o governo promete assentar neste ano 115 mil famílias, sendo 47 mil até 31 de junho.
O comando de greve dos servidores do Incra informou ontem que 90% dos 4.894 servidores se mantêm parados desde o início da greve, em 29 de abril. O Incra diz que 69,53% dos servidores estão em greve.
No Incra mineiro, segundo o superintendente Marcos Helênio, a meta é assentar neste ano 4.500 famílias. O Incra-MG tem 118 funcionários. "Hoje não podemos responder totalmente ao desafio social de cumprir o PNRA. Não temos condições, mesmo havendo recursos orçamentários."
Do concurso público aberto pelo Incra nacional, caberá a Minas apenas nove novos servidores. Há dez anos, de acordo com Helênio, a superintendência mineira tinha mais de 200 funcionários. "Hoje temos 150 assentamentos, 118 funcionários e 15 mil famílias acampadas pressionando."
O superintendente do Incra em Recife, João Farias de Paula Júnior, considera "muito difícil, mas não impossível", o cumprimento, pelo órgão, da meta de assentamento para este ano em Pernambuco, de 6.800 famílias.
Paula Júnior diz que o Incra já tem terra em estoque suficiente para isso. O problema, disse, é "a carência de recursos humanos".
No ano passado, a meta do Incra era assentar 3.000 famílias no Estado. Foram assentadas apenas 900. "No ano passado, tínhamos 11 técnicos para vistoriar propriedades. Hoje, temos dez. Chegamos a ter 14 pessoas na força-tarefa [criada para acelerar a reforma agrária no Estado]. Hoje, temos somente sete".
Na superintendência de Recife, todos os funcionários estão em greve há 12 dias. No campo, 30% dos servidores estão parados, reivindicando melhores salários.
Paula Júnior diz que o orçamento de sua superintendência neste ano, de R$ 57 milhões, é suficiente para cumprir a meta e pode dobrar com a solicitação de mais recursos para a reforma agrária no país feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Congresso. Lula quer aumentar a verba destinada ao setor, de R$ 1,3 bilhão para R$ 3 bilhões este ano.
Em Santa Catarina, o superintendente João Paulo Strapazzon reclama da falta de áreas para assentamento. Diz precisar de 10 mil hectares para cumprir a meta de assentar neste ano 600 famílias, das 1.500 que vivem em acampamentos no Estado. "Estamos negociando terras da União e tentando comprar outras, a maior dificuldade é encontrar essas áreas."
Ele disse que os 110 funcionários do órgão em Santa Catarina são suficientes, "embora não seja o número ideal", para implantar a reforma agrária no Estado.
No Paraná, o superintendente Celso Lacerda disse ter condições de cumprir a meta de assentar 3.000 famílias neste ano. "Existem várias áreas em processo de desapropriação ou de compra e vai ser possível cumprir a meta. O problema maior é o excesso de burocracia nesses processos. Já reduzimos o tempo de desapropriação, que era de um ano e meio, para sete meses, mas é preciso acelerar mais." Lacerda também reclamou da falta de servidores, especialmente agrônomos. Segundo ele, é preciso dobrar o número de funcionários -atualmente 14- para trabalhar nos assentamentos.
A insatisfação dos superintendentes do órgão se tornou pública em 30 de abril, quando o superintendente do Incra-RS, César Aldrighi, renunciou ao cargo. Em carta, ele disse: "De 325 funcionários que atuavam na década de 90 no Estado, restaram atualmente 68. Número dramaticamente insuficiente". (PAULO PEIXOTO, FÁBIO GUIBU e JOSÉ MASCHIO)


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