Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Vice aposta em indústria de ovos, frangos e leite para gerar empregos
Paulinho diz desconhecer o programa de Ciro Gomes
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, 46, vice na chapa do presidenciável Ciro Gomes (Frente
Trabalhista) e presidente licenciado da Força Sindical, quer ser um
vice diferente "dos que estão aí".
Na política, defende a renegociação da dívida interna -o que
possibilitaria cortar os juros para
menos de 10% ao ano. No sindicalismo, aposta no agribusiness,
com a criação de uma "poderosa"
indústria de leite, ovos e frangos
-uma saída para gerar empregos
e assentar famílias no campo.
Apesar de ainda desconhecer o
programa de governo do partido
ao qual se aliou -"vamos discutir isso neste final de semana"-
diz que tem propostas próprias e
vai trabalhar com autonomia para colocá-las em prática.
Dona de orçamento anual de R$
2,4 milhões, a central de Paulinho
tem 1.696 sindicatos filiados, que
representam 16,7 milhões de trabalhadores. A seguir os principais
trechos da entrevista:
Folha - O que o sr. pretende fazer
como candidato a vice-presidente?
Paulinho - Não preciso ficar junto com o Ciro o tempo todo. Sou
um vice diferente, com mais autonomia, não como os que estão por
aí. Tenho condições hoje de andar
sozinho pelo país.
Folha - O que o sr. pretende dizer
aos trabalhadores?
Paulinho - Minha função é ganhar votos defendendo jovens,
trabalhadores e aposentados.
Folha - Quais são as suas propostas para os mais jovens?
Paulinho - Vou defender que o
governo dê incentivo fiscal às empresas para contratar jovens. Defendo ainda que se acabe com o
serviço militar obrigatório.
Folha - Qual é a fórmula para acabar com o desemprego?
Paulinho - Para acabar com o
desemprego que ocorre em função da política econômica, é preciso renegociar a dívida interna e
alongar seus prazos de pagamento. Muitos alegam que são muitos
os credores. Mas 80% da dívida
está nas mãos de três setores pequenos... Os bancos, por exemplo, você chama e resolve.
Folha - O que é preciso já que essa
questão é de fácil solução?
Paulinho - Precisa-se de um governo eleito, com vontade e com
coragem para enfrentar esse povo. Pagar [a dívida", mas dentro
das condições do país. Assim você
consegue baixar os juros e volta a
ter crescimento econômico.
Folha - Qual a sua proposta para
resolver o desemprego causado pelas mudanças tecnológicas?
Paulinho - Tem de haver redução de pelo menos 10% da jornada de trabalho, uma diminuição
de quatro horas. Seriam criados
1,7 milhão de empregos.
Folha - O sr. falou que os aposentados também são prioridade...
Paulinho - O déficit é de R$ 40
bilhões, somando as previdências
municipais e federal. No INSS, o
déficit deve chegar neste ano a R$
18 bilhões.
Folha - O que pretende fazer?
Paulinho - Tem de ter reforma
profunda, com Previdência única
no sistema público e privado para
acabar com todo e qualquer privilégio. O teto tem de ser de até dez
mínimos. Quem quiser mais que
isso vai para os fundos de pensão.
Outra proposta é tirar a Previdência da folha de pagamento.
Folha - Essa proposta é do programa do Ciro?
Paulinho - Não sei se isso está no
programa dele. Ainda não tivemos tempo de discutir. Devemos
nos encontrar no domingo [hoje"
para conversar um pouco sobre
essas propostas.
Folha - O sr. apoiou o governo
FHC. Por que decidiu ser vice em
uma chapa de oposição?
Paulinho -Apoiei FHC desde
que chegou ao Brasil em 78. Fui
um dos coordenadores de sua
campanha na eleição passada. O
problema é que ele se comprometeu a acabar com o desemprego,
mas o desemprego aumentou. Se
comprometeu a fazer as reformas
da Previdência e tributária, mas
não fez. É meu amigo, mas não
cumpriu os compromissos conosco. Eu já disse a ele que seu
candidato é muito ruim. Tenho
até dúvidas de como ele [José Serra" vai tratar o sindicalismo.
Folha - Quais são seus planos políticos?
Paulinho - Vamos resgatar o trabalhismo no Brasil. As conquistas
que os trabalhadores têm hoje devem-se ao PTB, ao partido unificado lá trás, com Getúlio Vargas.
Folha - A frente será rival do PT?
Paulinho - Queremos acabar
com o monopólio do PT. Nós vamos unificar o PTB com o PDT, e
há grandes possibilidades de o
PPS se juntar a essa frente. Nós
[da Força" temos influência sobre
os trabalhadores, mas sem radicalismo. Não precisamos fazer o que
o PT está mostrando hoje.
Folha - O que o PT está fazendo?
Paulinho - Está tentando se mostrar como um bom moço para a
sociedade, comprando até terno
de primeira linha. Não preciso
mostrar que sou bom moço, fiz isso a vida inteira. Fiz um sindicalismo de negociação. Tenho boa relação com os empresários.
Folha - Essa relação próxima aos
empresários é muito criticada...
Paulinho - Isso faz parte do nosso sindicalismo, de negociação e
parceria.
Folha - A Força também é criticada por gastar R$ 3,5 milhões nas
comemorações do 1º de Maio.
Paulinho - O gasto da Força é zero. Os anunciantes investem onde
há público. Nossa festa é transmitida para 112 países do mundo.
Vendemos anúncio como qualquer empresa. A CUT critica, mas
também já fizeram shows neste
ano. Desde os anarquistas, nas comemorações do 1º de Maio, há
sorteios de galinhas, ovos e bicicletas. O que fizemos foi copiar
um pouco do anarquismo e um
pouco do Silvio Santos.
Folha - Como o sr. vê o problema
de erros nos extratos do FGTS?
Paulinho - O problema do FGTS
está dentro do que eu esperava.
Folha - Por que esses problemas
estão ocorrendo?
Paulinho - Acho que algum esperto fez as contas erradas, pensando que, se tirasse um pouco de
cada um, ninguém perceberia.
Folha - O acordo é bom?
Paulinho - É ótimo.
Folha - O que o sr. tem a dizer sobre o suposto envolvimento da
central no uso irregular de recursos
do FAT?
Paulinho - Estamos tranquilos.
Os recursos não ficam com a Força, ficam com o Banco do Brasil.
O que fazemos é apenas a fiscalização, com 24 pessoas. Isso nos
custa R$ 600 mil por mês.
Folha - No ano passado, surgiu a
proposta de criar uma CPI para investigar as contas do FAT. A CUT foi
a favor e a Força contra. Por que?
Paulinho - Nós somos a favor da
CPI, mas para todo mundo. As
centrais estão tranquilas.
Folha - Quais são os projetos da
Força?
Paulinho - Temos vários projetos para tirar as crianças das ruas.
Em Piracicaba, por exemplo, um
dos nossos sindicatos tirou as
crianças do lixão. Em São Paulo,
outro sindicato tirou crianças de
favela. O projeto modelo é o Meu
Guri, presidido pela minha mulher [Elza Costa Pereira".
Folha - O que é esse projeto?
Paulinho - Compramos um terreno na Serra da Cantareira e estamos construindo uma casa. Hoje
cuidamos de 35 crianças em uma
subsede do sindicato no Tucuruvi, mas a meta é abrigar 200. Os
trabalhadores adotam essas
crianças, contribuindo com R$
0,40 por mês. O restante vem dos
empresários. Cada criança custa
em média R$ 450.
Folha - Quanto vai custar o Meu
Guri?
Paulinho - A obra estava orçada
em R$ 1,4 milhão, mas vai chegar
a um pouco mais. O BNDES emprestou R$ 600 mil, a Ford nos
deu um carro para rifar e faremos
shows para arrecadar verba.
Folha - Quais são os outros projetos da Força?
Paulinho - Temos um projeto
com o governo para assentar famílias em fazendas. O dinheiro
vem pelo Banco da Terra. A Força
não compra terra, só escolhe as famílias, que escolhem a terra que
querem adquirir, e nós fiscalizamos com nossos técnicos. Técnicos da prefeitura local autorizam
a compra da terra e o Banco do
Brasil paga o fazendeiro.
Folha - A Força criou uma marca,
a Força da Terra, para vender produtos produzidos nessas fazendas.
Como se dá essa parceria?
Paulinho - Orientamos as famílias a formarem grupos para produzir e damos qualificação. Já
existem 500 famílias assentadas
em 20 fazendas. Os produtos serão comercializados com a marca
Força da Terra dentro de quatro
meses. Acreditamos que a solução para o emprego no Brasil está
no campo, não para plantar feijão,
mas para produzir no campo.
Folha - De onde vem o dinheiro?
Paulinho - O Programa de Agricultura Familiar empresta até R$
12 mil por família. Organizamos
um projeto para emprestar recursos para um grupo de famílias. A
terra é em parte coletiva e em parte individual. Damos R$ 3.000 para o trabalhador fazer o que quiser no alqueire dele.
Folha - Como está esse projeto?
Paulinho - Existem 33 fazendas
ativas, com 2.500 vacas e outros
animais. A idéia é essa, os homens
são donos das vacas, e as mulheres, dos porcos ou vice-versa. Os
filhos cuidam de galinhas, peixes
e abelhas. Estamos montando
uma indústria de mel para vender
o produto em saquinhos.
Folha - O que a Força vai ganhar
com esses produtos?
Paulinho - A Força pode ganhar
dinheiro quando o processo produtivo estiver montado. Nosso
produto vai chegar mais barato
na cidade porque não há intermediários. Nosso frango custará metade do preço de um frango da Sadia. Com as 2.500 vacas, temos
condições de fornecer milhares de
litros de leite por dia. Com as 100
mil galinhas, vamos montar uma
poderosa indústria de ovo.
Folha - A Força será dona da produção de frangos, ovos e mel?
Paulinho - Seremos intermediários na produção. Estamos negociando com os supermercados a
compra desses produtos. Sindicatos filiados à Força nos setores de
alimentos, churrascarias, bares e
restaurantes nos ajudarão a negociar a venda desses produtos.
Folha - Quanto a Força vai cobrar
para emprestar sua marca?
Paulinho - Vamos cobrar uma
taxa de 5% a 10%.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Frases Índice
|