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Índios se enfrentam na Amazônia, diz Funai
Órgão alerta para a possibilidade de guerra tribal por conta do surgimento de indígenas isolados no AC
MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
O avanço de madeireiras peruanas na Amazônia está levando ao aparecimento de povos indígenas até agora desconhecidos na fronteira com o
Brasil e ocasionando confrontos entre índios isolados e grupos já contatados, diz a Funai
(Fundação Nacional do Índio).
A situação é descrita pelo sertanista José Carlos Meirelles,
do Departamento de Índios
Isolados do órgão e coordenador da Frente de Proteção Etno-Ambiental do rio Envira, no
Acre. Estima-se haver 600 índios não contatados na região.
Existem três terras indígenas
de proteção a índios isolados no
Acre que, juntas, somam cerca
de 630 mil hectares.
Segundo Meirelles, os isolados estão há mais de um ano e
meio sendo expulsos de seus
territórios por outros povos aliciados por madeireiras, com o
objetivo de abrir espaço à derrubada da floresta no Peru.
Sinais dos grupos desconhecidos foram vistos entre abril e
maio deste ano, quando, em um
sobrevôo, foram encontradas
duas malocas nunca observadas no local -para o sertanista,
são de isolados expulsos do Peru. Ele diz saber que se trata de
um povo estrangeiro devido ao
formato dos objetos encontrados e pela descrição feita por
quem já os observou. O corte de
cabelo, por exemplo, é diferente entre índios já monitorados.
Ao chegar ao Brasil, diz ele, os
isolados encontram integrantes brasileiros das etnias que os
expulsaram no Peru, e entram
de novo em conflito.
Há dois meses, tiros foram
disparados contra uma criança
ashaninka -que não ficou ferida. A aldeia dela foi saqueada
dias depois. Indígenas relatam,
ainda, que têm sofrido ataques
com arcos e flechas. É possível
que os "migrantes" tenham furtado armas em comunidades de
brancos, diz o sertanista. Meirelles cogita ainda a hipótese de
que os ataques tenham sido feitos por índios (isolados ou contatados há pouco tempo) usados por madeireiros para afastar grupos rivais e deixar o "terreno limpo" para as empresas.
Para Antenor Vaz, da coordenação de isolados da Funai em
Brasília, pode estar acontecendo uma disputa por território.
Expulsos de sua área, "migrantes" tentam tomar outras terras do grupo que os expulsou.
"A hora que morrer algum índio outros vão se vingar. Estamos próximos de uma pequena
guerra se os governos do Brasil
e do Peru não solucionarem esta questão", afirma Meirelles.
Segundo ele, os índios do
Acre já deram um "ultimato" ao
órgão federal: "Eles já disseram: "se vocês não derem jeito
na situação, nós daremos'".
No ano passado, uma comunidade de seringueiros chamada Liberdade, na região de Feijó (AC), foi saqueada por isolados, que esperaram os homens
do local saírem para atacarem.
Meirelles disse que se reuniu,
junto com a cúpula da Funai,
com o embaixador do Peru,
Hugo de Zela, em 24 de julho,
para discutir a situação. Há a
possibilidade de que um acordo
futuro entre os dois países toque na questão. Procurada desde o começo da semana, a Embaixada do Peru não atendeu
aos pedidos de entrevista.
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