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RUMO A 2006
Presidente e ministro da Fazenda planejam forma para combinar agendas política e econômica em 2004
Lula já estuda como aquecer a economia em ano de eleições
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva planeja aquecer a economia
na eleições municipais de 2004
para tentar favorecer os candidatos do PT e dos partidos aliados.
Com um bom resultado em 2004,
Lula avalia que será facilitada sua
reeleição em 2006.
O presidente discute com Antonio Palocci Filho (Fazenda) a melhor forma de casar a agenda política com a econômica, segundo
apurou a Folha. Lula rejeita patrocinar uma farra fiscal ou afrouxar a política monetária, mas avalia que os atuais índices de desemprego e de queda de renda do trabalhador prejudicarão o PT se
não houver reversão.
Por isso, o presidente deseja
combinar "o tempo econômico
com o tempo político" -expressão usada por integrantes do núcleo duro do governo (como é
chamado o grupo de ministros e
auxiliares petistas mais próximos
ao presidente da República).
A data das eleições é 3 de outubro. Em conversas reservadas, Palocci disse a Lula que, a partir de
maio de 2004, quando a campanha eleitoral começa a esquentar
de fato, poderão ser sentidas as
melhorias na economia real.
Palocci prevê a geração de empregos, o aumento da renda e do
consumo. Acha que a queda consistente dos juros básicos estimulará os investimentos industriais.
Esse cronograma político ajuda
a explicar a cautela que tem guiado a política monetária. Depois de
uma queda de 2,5 pontos percentuais na taxa básica de juros em
agosto (de 24,5% para 22% ao
ano), os meses de setembro e de
outubro foram de maior cautela,
com baixas de 2 pontos e de 1
ponto percentual, respectivamente. Hoje, a taxa básica de juros (Selic) está em 19% ao ano.
A queda de 2,5 pontos percentuais de agosto foi um movimento
para atender o presidente, que cobrava a emissão de um sinal positivo para os agentes econômicos.
O presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, recebeu a
mensagem do núcleo duro, articulou a queda e ganhou pontos
com o presidente Lula.
Hoje, Meirelles ocupa maior espaço nas conversas com Lula do
que no início do governo. O presidente, insatisfeito com o desempenho de muitos ministros e auxiliares, faz questão de ressalvar
as escolhas de Palocci e de Meirelles como acertadas.
O entrosamento entre Lula, Palocci e Meirelles abre espaço para
a introdução do componente político nas conversas sobre o reaquecimento econômico.
Pressão do PT
Alertado por Meirelles de que
poderia haver remarcação de preços no final do ano, Lula se convenceu da necessidade de maior
cautela na política monetária. Baixar os juros demais agora e ter de
voltar atrás no início do ano comprometeria o projeto do governo
de fazer a economia se aquecer
mais fortemente a partir de maio.
O discurso público do governo
será sempre o de que a política
não vai interferir na economia.
No entanto uma preocupação
forte de Lula nos últimos dias foi a
insatisfação crescente dos moderados do PT, incluindo prefeitos e
governadores.
No dia 20 de outubro, dia em
que Lula lançou a unificação dos
programas sociais, o governador
Jorge Viana (PT-AC) fez alertas
aos ministros Palocci e José Dirceu (Casa Civil). Com Palocci,
Viana foi claro: "Hoje, você é unanimidade. A partir de janeiro, pode não ser mais. O aperto [fiscal]
está muito forte".
Viana, cuja preocupação é compartilhada por outros governadores, prefeitos e deputados do PT,
usou palavras semelhantes com
Dirceu ao descrever a insatisfação
com o ritmo de liberação de verbas (emendas parlamentares, por
exemplo) e de investimentos nos
Estados. No dia 24 de outubro,
cerca de 20 dirigentes do chamado Campo Majoritário, a união
das correntes moderadas do PT,
reuniram-se num hotel de Brasília. As críticas à política econômica foram o centro dos debates.
Os moderados manifestaram
temor de que a alta taxa de desemprego e a queda na renda dos
trabalhadores prejudiquem os
candidatos do partido. "Deixei o
pessoal desabafar", conta o presidente do PT, José Genoino.
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