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NA OPOSIÇÃO
Tucanos relevam mágoas e restrições a ex-candidato à Presidência para o elegerem presidente do partido
Abandonado em 2002, Serra comandará PSDB
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pouco mais de um ano após a
derrota na eleição presidencial de
2002, da qual saiu aos pedaços, o
PSDB conseguiu o que até bem
pouco tempo parecia impensável:
recompor as principais correntes
do partido e eleger uma nova direção com o aval de todas as alas.
Para comandá-los na tentativa
de se tornar uma alternativa real
de poder ao PT em 2006, os tucanos vão eleger presidente justamente o candidato derrotado em
2002, o ex-ministro da Saúde José
Serra. A eleição será na próxima
sexta-feira, 21.
Serra será presidente do PSDB
da mesma maneira como se tornou candidato no ano passado:
sem que nenhum tucano da chamada alta plumagem pedisse ou
fizesse efetivamente algo para impedir sua candidatura.
A diferença é que, dessa vez, ele
procurou se rearticular internamente sem deixar atrás de si um
rastro de ressentimentos, como
aconteceu no ano passado. Em
vez do rolo compressor que acionou para sair candidato em 2002,
exercitou a humildade.
"Espero que essa candura dure
até o final", brincou o senador
Tasso Jereissati (CE), um dos que
saíram magoados da campanha,
ao ver Serra conversando com
jornalistas após encontro com ele.
Serra teve 33,3 milhões de votos
na eleição -38,73% do total. Desempenho surpreendente para
quem fora abandonado pelo partido, sofrera o desgaste de oito
anos de governo tucano e carregava fama de antipático e desagregador. Mas, se a renovação do comando do partido ocorresse em
maio passado, Serra dificilmente
seria eleito. Os governadores tucanos tinham restrições.
Em Minas Gerais, Aécio Neves
avaliava que a eleição de Serra levaria o PSDB a fazer política com
o olho no retrovisor. Cássio Cunha Lima (PB) torcia o nariz e dizia isso publicamente.
Tasso, que se sentiu atropelado
pelo rolo compressor serrista durante o processo de escolha do
candidato em 2002, defendia que
o comando tucano devia ser renovado e entregue a pessoas como
Aécio e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Serra enfrentava dificuldades
no próprio quintal: Alckmin avaliava que ele não tinha o perfil certo para reestruturar o PSDB após
uma derrota como a de 2002.
Por experiência própria. Alckmin presidia o diretório de São
Paulo, em 1990, quando Mário
Covas perdeu a eleição para o governo do Estado. Julgava que a situação requeria uma pessoa mais
maleável, capaz de colocar no colo e reanimar os derrotados.
Por essa época, Serra procurou
o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e analisou as opções.
Ele poderia tornar-se presidente
do instituto mantido pelo PSDB,
o Teotônio Vilela. Ou disputar a
Prefeitura de São Paulo, o que
descartava. Decidiu reivindicar a
presidência da sigla.
FHC, Tasso, Aécio, Alckmin e
outros caciques de primeira linha
fizeram várias reuniões para avaliar os prós e contras. Serra participou de uma das últimas, um
jantar no Palácio dos Bandeirantes. Depois passou a procurar os
caciques para conversar.
A opção mais forte ao nome de
Serra era um secretário de Alckmin, o ex-líder de FHC na Câmara
Arnaldo Madeira. Mas Serra conseguiu reconstruir as pontes. Ninguém pediu para ser ele, mas ninguém fez nada para impedir. Serra foi o próprio grande eleitor.
Na recomposição do PSDB, Aécio ficará com 1ª vice-presidência,
entregue ao senador Eduardo
Azeredo (MG). A 2ª caberá ao governador Marconi Perillo (GO).
Tasso indicará o secretário-geral.
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