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DIPLOMACIA
Consulados em Miami e São Francisco são ameaçados de despejo; dívidas podem levar Brasil a perder voto na ONU e Unesco
Sem verba, Itamaraty enfrenta credores
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
O governo Luiz Inácio Lula da
Silva, que elegeu as relações exteriores como uma de suas prioridades, apertou o já enxuto orçamento do Itamaraty e provocou
uma crise na área diplomática.
Algumas representações brasileiras estão ameaçadas de despejo, corte de água e de luz -caso
dos consulados em Miami e São
Francisco (EUA). Para organismos internacionais, como a ONU
e o Unesco, o país deve cerca de
US$ 170 milhões. A dívida pode
levar o Brasil a perder o direito de
votar nessas organizações, como
já aconteceu em alguns casos.
A avaliação de embaixadores,
feitas sob reserva, é que é constrangedor para um país do tamanho do Brasil e com as suas pretensões internacionais correr o
risco de não poder votar numa assembléia por falta de pagamento.
Para este ano, o Orçamento da
União prevê R$ 1,05 bilhão para o
Ministério das Relações Exteriores, o que corresponde a 0,28% do
total. Mesmo esse valor não deve
ser totalmente usado, pois já houve contingenciamento de 20%.
No ano passado, o Itamaraty teve proporcionalmente cerca de
60% a mais do Orçamento da
União -0,445%. Segundo o ministro Celso Amorim (Relações
Exteriores), o Itamaraty já chegou
a receber 1% do total dos gastos
do governo no passado recente.
Amorim já reclamou formalmente com Lula e com seu colega
Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Segundo o ministro, o presidente
está "consciente do problema".
A própria remuneração dos diplomatas está em atraso, pois os
auxílios-moradia de julho e de
agosto ainda não foram pagos. Os
funcionários contratados pelas
embaixadas também recebem
seus salários com atraso. Não há
números globais disponíveis.
A falta de dinheiro prejudica
ainda a inserção do país nas negociações internacionais, que Lula
prometeu priorizar. O país tem
deixado de enviar especialistas a
reuniões no exterior. Embaixadores acabam representando o país
em reuniões de temas que não dominam, como agricultura.
Os brasileiros no exterior que
precisam de assistência acabam
sentindo o problema na pele. Cerca de 150 brasileiros que devem
sair de Portugal, por falta de visto
de trabalho, não podem ser deportados, pois a embaixada em
Lisboa não tem dinheiro para
comprar as passagens.
O orçamento de 2003 do Itamaraty prevê R$ 16,8 milhões para
investimentos. Isso dificulta a
abertura de novos consulados e
embaixadas, essenciais para atender um contigente crescente de
brasileiros que vivem no exterior
e estreitar as relações comerciais e
políticas com outros países. Há
carência de consulados no Japão,
maior colônia brasileira no exterior, nos EUA e em Portugal.
O Itamaraty atribui a penúria
orçamentária ao fato de o ministério não ser político. Na hora da
elaboração do Orçamento, os parlamentares priorizam pastas com
obras que rendem votos, como
Transportes, Saúde e Educação.
Para piorar a situação, o orçamento é elaborado em reais, mas
cerca de 70% dos gastos do Itamaraty são em dólar.
O Orçamento deste ano foi
aprovado com uma previsão de
dólar a R$ 2,43. O câmbio fechou
na sexta-feira a R$ 2,994.
Na terça-feira, o ministro expôs
o problema em jantar com senadores da Comissão de Fiscalização e Controle. A comissão enviou requerimento de informações ao Planalto sobre a situação
financeira do Itamaraty.
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