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Violeta Arraes, a "Rosa de Paris", morre aos 82
Ex-secretária de Cultura do Ceará, irmã de Miguel Arraes, ajudou os exilados brasileiros na França durante a ditadura
"Ficará a lembrança de uma pessoa completa, incrível", diz Danuza Leão; socióloga, que vivia no Rio de Janeiro, sofria de câncer de pulmão
Sid Barbosa - 16.set.98/Agência Diário
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A socióloga Violeta Arraes
DA SUCURSAL DO RIO
Morreu ontem pela manhã
no Rio de Janeiro, aos 82 anos,
vítima de um câncer no pulmão, a socióloga Violeta Arraes,
ex-secretária de Cultura do
Ceará e irmã do ex-governador
de Pernambuco Miguel Arraes.
Além das atividades acadêmicas que desenvolveu e da ligação com os meios artísticos,
culturais e políticos no país e no
exterior, Maria Violeta Arraes
de Alencar Gervaiseau ficou conhecida pelo apoio que deu aos
exilados brasileiros na França
na ditadura. Ficou conhecida
como a "Rosa de Paris".
"Violeta foi a alma da Frente
Brasileira de Informações, fundamental para a denúncia dos
crimes contra os direitos humanos cometidos pela ditadura. Ela era mais do que uma referência: como estava acima
das divisões entre partidos e
grupos políticos, conversava
com todos, aglutinava todos",
disse Aloysio Nunes Ferreira
Filho, atual secretário da Casa
Civil do Estado de São Paulo,
exilado na França por 11 anos.
Casada com o militante socialista Pierre Gervaiseau, a
"independência" de Violeta fez
com que sua casa se transformasse, inicialmente, em uma
referência para intelectuais e
artistas perseguidos pelos militares. Depois, numa referência
para a divulgação da arte e da
cultura brasileiras na França.
No Brasil, antes do golpe militar, Violeta foi presidente da
Juventude Universitária Católica de 1948 a 1950 -na época,
tornou-se assistente de dom
Hélder Câmara. Em 1951, estudou no Centro Internacional
de Economia e Humanismo,
em Paris, onde conheceu Gervaiseau, com quem se casou no
Recife. Lá, participou do Movimento de Cultura Popular, ao
lado do educador Paulo Freire.
Esteve ao lado do irmão Miguel Arraes nos momentos que
culminaram com a deposição e
a prisão do então governador
de Pernambuco, em 1º de abril
de 1964. Foi presa, com o marido, quando ia ao encontro de
dom Hélder Câmara, então arcebispo de Recife e Olinda.
Quatro meses depois, os militares lhe impuseram o exílio.
Na França, fez pós-graduação em psicologia, exercendo
por muitos anos a função de
psicoterapeuta -tendo ajudado muitos brasileiros traumatizados pela tortura, como revelou o historiador Luiz Felipe de
Alencastro, 62, professor da
Universidade de Paris.
Além disso, "numa época em
que a Embaixada brasileira negava passaportes até para os recém-nascidos, porque filhos de
exilados não tinham passaporte, ela funcionou um pouco como a Embaixada brasileira anexa de todo mundo que andava
por aqui no exílio". Violeta ajudou também os exilados chilenos, que começaram a chegar à
França após o golpe de Augusto
Pinochet, e o movimento anticolonialista em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.
"Violeta era de uma generosidade sem tamanho", disse a
escritora Danuza Leão: "Além
da importância que teve na história contemporânea do Brasil,
para quem conviveu com ela ficará a lembrança de uma pessoa completa, incrível".
Em 1979, com a anistia, Violeta regressou ao país. Voltou à
França em 1984, para trabalhar
como adida cultural na Embaixada brasileira. De Paris, voltou
ao Ceará, para assumir a Secretaria de Cultura, em 1987.
Dez anos depois, foi nomeada reitora da Universidade Regional do Cariri. Em seguida,
fundou uma ONG voltada para
preservação da região onde
nasceu, a chapada do Araripe,
localizada na junção dos Estados do Ceara, Pernambuco e
Piauí. Nos últimos anos, lutava
contra o câncer e morava no
Rio, onde corpo será velado.
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