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CRISE CAPIXABA
Relatório cita pessoas que ocupam ou ocuparam cargos nos Poderes estaduais e na Polícia Civil
Autoridades estão ligadas ao crime organizado, diz ONG
FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA
Mesmo após indiciamentos em
inquéritos policiais, denúncias do
Ministério Público e citações no
relatório final da CPI do Narcotráfico, acusados de envolvimento com o crime organizado no Espírito Santo ocupam, ou ocuparam até recentemente, importantes cargos nos Poderes estaduais e
na Polícia Civil.
Essa é a tônica do relatório elaborado pela ONG Centro de Justiça Global, em abril, e encaminhado para o Alto Comissariado de
Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas).
O documento foi embasado nas
investigações do detetive da Polícia Civil Francisco Badenes Júnior. Ele investigou a Scuderie
Detetive Le Cocq, organização
acusada de ser o braço armado do
crime organizado, por dez anos.
Dela fazem parte policiais, advogados, juízes, promotores, empresários e funcionários públicos.
"No poder Judiciário há protelação de depoimentos relevantes,
no Ministério Público não se
acompanham inquéritos, na Polícia Civil as provas colhidas pelos
peritos desaparecem ou são manipuladas. Há confissões e álibis
forjados", diz o inquérito.
Em gráfico apresentado pelo
detetive à Câmara dos Deputados,
em janeiro de 2000, o ex-governador e então ministro da Defesa,
Élcio Álvares (PFL), aparece no
topo do "sindicato criminoso".
Uma semana após a apresentação
de Badenes, Álvares deixou o governo. Este ano o ex-ministro ensaiou uma candidatura ao Senado, mas a retirou um dia antes da
aprovação do pedido de intervenção federal pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, no dia 4 de julho.
O atual presidente da Assembléia Legislativa, José Carlos Gratz
(PFL) vinha logo abaixo de Álvares no esquema organizacional.
Ex-banqueiro do jogo do bicho,
ele está pleiteando seu quarto
mandato de deputado.
Ainda nos quadros do PFL, o
deputado estadual Gilson Lopes
também é acusado de envolvimento com o crime organizado.
Em 2001, Lopes presidiu a CPI da
Propina, criada para apurar denúncias de corrupção no governo
de José Ignácio Ferreira (PTN).
Ele é candidato à reeleição.
O documento encaminhado à
ONU cita ainda o ex-presidente
da Le Cocq Mário Rodrigues Lopes, o policial João Manoel Rodrigues e o delegado Ismael Foratini.
Lopes foi secretário de Segurança Pública até o início deste ano e
agora é superintendente de Polícia do Interior. Rodrigues ocupou
a chefia da Polícia Civil até o último dia 9 de julho e agora é delegado da Polinter (Polícia Interestadual e Delegacia de Capturas). Foratini é delegado-chefe da Divisão
de Transportes e Manutenção.
No poder Judiciário são apontados o desembargador Geraldo
Corrêa Lima, hoje aposentado, e a
então promotora de Justiça da 9ª
Vara Criminal de Vitória, Eloísa
Helena Chiabai. Hoje Chiabai está
na Promotoria Cível de Vitória.
Nem o presidente da OAB-ES,
Agesandro Pereira, que pediu a
intervenção federal no Estado, escapa das relações com a escuderia. Seu nome não está no relatório da ONG, mas, além de ter sido
homenageado pela Le Cocq no
dia 21 de novembro de 1990, conforme ata de reunião da entidade,
ele pediu o apoio de 42 advogados
pertencentes à Scuderie, na disputa pela presidência da OAB em
1992. Em troca, Pereira colocou
em sua chapa o então presidente
da escuderia, José Almério Petronetto. A reunião, realizada em 16
de novembro de 1992, está registrada em ata.
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