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FOLCLORE POLÍTICO
Suporte técnico
BORIS CASOY
"Bom dia, José! Acabo de chegar à tua cidade! Não posso
deixar de te dar um abraço, tchê!"
"Que bons ventos o trazem, professor?"
"Estou em campanha para deputado federal e tenho uma série
de reuniões aqui na região. Mas
não poderia deixar de ver o amigo, bom aluno que foste..."
"Ora professor, chegaste bem na
hora do café. Por favor, nossa casa te espera. É uma honra recebê-lo. E desde já tem o meu voto."
E lá ia o professor e advogado
para a casa do amigo que não via
havia muitos anos. O anfitrião fora seu aluno na Faculdade de Direito da Universidade Federal de
Santa Maria, no interior do RS.
Agora era um advogado de sucesso na região de Alegrete.
Minutos depois, lá estava o professor, diante de uma generosa e
reforçada mesa do café .
Devidamente abastecido, o professor pedia agora licença para
tomar banho, já que viajara a
noite inteira na sua velha caminhonete. Aliás, viera com o seu
motorista, fiel escudeiro, para
quem a mulher do anfitrião já
havia providenciado o lauto café.
Banhado e barbeado, estava
pronto para sua jornada eleitoral.
"Professor, outro dia encontrei
o Xisto, o melhor churrasqueiro
de nossa turma em Santa Maria,
aquele que hoje é delegado perto
de Dom Pedrito. Lembra-se dele?"
"Claro! Até nos encontramos há
alguns dias! Estive na casa dele!"
"Pois é. Ele me contou. Mas o estranho é a coincidência Na casa
do Xisto chegaste também pela
manhã,viajando a noite inteira.
E isso já se deu duas vezes. Dá pra
aguentar desse jeito ?"
Percebendo o flagrante, o professor resolveu se abrir. E contou o
truque: sem nenhum dinheiro para a campanha e determinado a
chegar à Câmara dos Deputados,
resolveu contar com a involuntária ajuda dos amigos. Viajava
com sua Parati azul. À noite, procurava chegar perto da casa de algum conhecido. Na estrada, estacionava perto de alguma árvore
ou num posto gasolina e tentava
dormir. Seu motorista se acomodava na cabine. Às 7h telefonava
para o "voluntário". Assim, matava a fome e tomava um banho,
além de arrecadar uns votinhos...
O professor chama-se Nelson
Jobim. É hoje o presidente do Supremo Tribunal Federal. Foi eleito deputado duas vezes, nos anos
80 e 90. Provavelmente não repetiria a façanha, embora tenha
certeza que teria a mesma acolhida quando telefonasse às 7h.
Boris Casoy, 61, âncora e editor-chefe
do "Jornal da Record", escreve aos domingos nesta coluna
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