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TRANSIÇÃO
Presidente acredita em debandada e novos problemas na economia de aliados caso tucano não se mostre competitivo
FHC dá prazo a Serra até início de setembro
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O final de semana de 7 de setembro é a data mais importante deste final de governo, segundo avaliação do próprio presidente Fernando Henrique Cardoso em
conversas reservadas.
É quando ficará claro para FHC
e políticos se o candidato do governo e o preferido do mercado, o
tucano José Serra, terá sucesso no
horário eleitoral de rádio e TV a
ponto de mostrar chance concreta de passar ao segundo turno
presidencial, apurou a Folha.
Para não deixar seu governo e a
economia reféns do desempenho
de Serra, FHC convidou os quatro
principais candidatos para encontros separados amanhã, no
Palácio do Planalto. O presidente
deseja convencer os três oposicionistas -principalmente Ciro Gomes (PPS), o que mais assusta o
mercado- a se comprometer a
cumprir na íntegra o acordo com
o FMI (Fundo Monetário Internacional). Não é tarefa fácil, mas
FHC tem feito entendimentos de
bastidor com Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) e Ciro para criar um fato positivo.
Plano B
Atualmente, Serra é o terceiro
colocado nas pesquisas, atrás de
Lula e Ciro. A propaganda na TV
e no rádio começa depois de amanhã, 20 de agosto. Apesar da promessa de campanha propositiva,
os tucanos atacarão Ciro.
Na avaliação do presidente e
dos principais comandantes da
campanha de Serra, entre a segunda e a terceira semanas do horário eleitoral, os políticos e o
mercado financeiro projetarão o
cenário definitivo para 6 de outubro, dia do primeiro turno.
Se até 7 de setembro, um sábado, Ciro e Lula continuarem a ser
os favoritos, só um milagre evitará a debandada de aliados e nova
alta do dólar, crê o presidente.
Nessa hipótese, a Folha apurou
que FHC poderá antecipar suas
opções no segundo turno, ainda
que não as assuma publicamente
antes de 6 de outubro. Hoje, elas
seriam apenas duas:
1) Deixar claro que, sem Serra,
apoiará Lula sob o argumento de
que o petista se transformou na
alternativa mais confiável. Em
conversas reservadas, FHC tem
dito que Ciro tem mais a ver com
o presidente Jânio Quadros do
que com Fernando Collor, ex-presidente que sofreu processo de
impeachment em 92 a quem é frequentemente associado.
Ciro seria voluntarista, impetuoso, messiânico e com tendência a se confrontar com o Congresso, a sociedade civil e o empresariado. Já Lula, pensa o presidente, teria um projeto mais orgânico e coerente do que Ciro, além
de maior tolerância democrática.
2) Se Ciro moderar sua posição
em relação ao acordo com o FMI,
ajudando o governo a acalmar o
mercado, FHC pode adotar a neutralidade no segundo turno, alegando agir como magistrado.
O ex-governador do Ceará Tasso Jereissati, cacique tucano que
lidera dissidência branca em relação a Serra, seria a ponte para trocar o "enquadramento" de Ciro
por uma posição não hostil do governo no segundo turno.
TV e FMI
A análise pessimista de FHC
não significa que ele tenha jogado
a toalha. O presidente atua fortemente pela recuperação de Serra e
aparecerá no primeiro programa
de TV do tucano. Seu papel incluiu autocríticas e a tentativa de
transferir para Serra a simpatia da
parcela da opinião pública (cerca
de 25%) que aprova sua gestão.
No entanto, FHC já se prepara
para o cenário de ter de conviver
com crise econômica aguda nos
pouco mais de quatro meses que
lhe restam e, ao mesmo tempo,
evitar que o agravamento das dificuldades manche sua biografia ao
final de dez anos de poder (dois
como ministro mais influente do
governo Itamar e oito na Presidência).
É nesse contexto que deve ser
entendida a razão de o presidente
convidar os quatro principais
candidatos para reuniões com direito a foto e aperto de mão.
Disparada do dólar
FHC havia descartado a idéia do
encontro com os presidenciáveis
quando o acordo de US$ 30 bilhões com o FMI pareceu ter acalmado o mercado. Mas a nova disparada do dólar o fez rever o plano, preocupando-se mais com o
governo do que com a campanha.
Serra era contra os encontros.
Avalia que eles podem transmitir
a idéia de que o governo já o dá
como derrotado. Além de Lula e
Ciro, FHC receberá o tucano e
Anthony Garotinho (PSB).
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